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Carta para Júlia | Livro Tá todo mundo mal, de Jout Jout | Cartas Para Elas

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Querida Júlia,

(e assim que escrevo o vocativo já me sinto louca e falsa! Quem é Júlia? Não conheço Júlia. Escrevo, gente, para a Jout Jout. A personagem youtuber da Júlia – que é uma pessoa real que eu não conheço e não escreveria uma carta).

É que depois que li sobre suas crises (no livro Tá todo mundo mal – o livro das crises), já me sinto mais perto de você. Um pouquinho. Crises de uma pisciana para uma canceriana. Ao mesmo tempo, surgem em mim novas crises – a crise de ter 10 anos a mais que você, juntamente com a crise dos 40 anos (com três anos de antecedência, destaco!), misturada com a crise da lacuna da vida dos millennials com a vida daqueles da Geração X.

Jout Jout em funk do cajado
Millennials e seus empregos esquisitões <3

Você pode fazer uma continuação do livro?

Sobre a sua geração, com seus empregos esquisitões e desejados, você sabe bem, não é, companheira? Já falou um pouco sobre isso.

Sinto quase inveja das jovens e adolescentes que têm você hoje para se inspirar, ler e assistir. Mas inveja não é um sentimento bom, não é, Jout Jout?! De novo, ao mesmo tempo, temos que nos aceitar com estas imperfeições, já diria o seu (e o meu) terapeuta. É de fato precisamos correr o risco de sermos nós mesmas – “complicadas e perfeitinhas”, mas todas especiais do seu jeito.

Sabe, não lembro a primeira vez que te assisti, deve ter sido quando estourou o Não tira o batom vermelho – esse vídeo maravilhoso que – infelizmente – até hoje ainda é tão necessário!

Jout Jout em não tire o batom vermelho
Não tire o batom vermelho

De volta ao livro, achei ótimo ele ser do seu jeitinho (ou essa parte de você que é apresentada no seu canal, para a sua “família”). Seu poder é a sua autenticidade. Dessas originais mesmo. Não inventada, querendo parecer autêntica-original, só que criada em laboratório. E daí surge uma maestria em falar de besteira, soltando uma visão de mundo e o seu recado. Recado que acaba dando aqueles empurrõezinhos necessários nas pessoas.

Veja só um exemplo: em uma quinta-feira qualquer, desde que as quintas-feiras trazem de volta fotos antigas para serem postadas no Instagram, chego no trabalho e começo a conversar com uma amiga sobre isso. Vejo (no celular) fotos lindas dela numa praia. A questão é que em cada foto ela enxergava um defeito. Pois na hora, saco seu livro, marcadinho na Crise da Liberdade Tardia. Me senti preparada para aquele momento (proibida de usar a palavra “armada” pois os tempos não permitem). Falei: pare tudo e leia essas pagininhas aqui! Foi antídoto imediato para perfeitas imperfeições. E depois, escolhemos juntas a foto que iria para o seu feed. Empurrãozinho!

Também rolou aquela avaliação sobre relacionamentos. Como ao ouvir você falar tanto de Caio. Do início do namoro, da desconstrução dele de suas crises (e da sua insistência nelas), da vontade de morar junto e das possibilidades de invenção e reinvenção em uma mesma relação. Em especial, A Crise do que é Prático versus Romântico gerou identificação. E preciso dizer que acho o máximo – e bem diferente desta que aqui escreve – ser a melhor amiga de ex. (E assim,  do nada, já sinto chegar a crise “não sei ser amiga de ex” – tem uns que eu não quero mesmo, ok, família Jout Jout?).

Empurrõezinhos para crise, né, Júlia, a sua especialidade! Mas está valendo. Esse processo de olhar para dentro, para fora, ao redor! É necessário. Se for de forma leve, com risos e com suporte de uma “família”, melhor ainda. Se for estimulando mulheres – de todas as idades (vamos parar com o lance da crise do “um dia vou fazer 40”) – é sensacional. Se for de forma autêntica-original, aí é Jout Jout!!!

E que sua autenticidade seja como a da Agrado, em Tudo sobre minha mãe (de Pedro Almodóvar), que afirma que “nós ficamos mais autênticos quanto mais nos parecemos com o que sonhamos que somos”.


Livro: Tá todo mundo mal: O livro das crises, Julia Tolezano da Veiga Faria, mais conhecida como Jout Jout, do canal no YouTube JoutJout Prazer. Editora Companhia das Letras.


Por Lina Távora

É uma cearense que mora em Brasília, jornalista fora da redação, mestre em comunicação/cinema, feminista em construção, mãe com todo o coração e tem no audiovisual uma paixão constante e uma fé no seu impacto para uma mudança positiva na sociedade.

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