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Gorda | Crítica

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Gorda sim! Maravilhosa também!

“Você é menina, você tem que ser magra, você tem que ter cintura, você tem que ter peito, você tem que ter bunda. Por que você não é igual à Barbie com que você brinca?” “Parece que o gordo não pode expor o corpo. Porque é feio, porque não é agradável aos olhos. Parece que dizem ‘por favor se cubra’! E eu não sou obrigada”.

Essas são algumas das falas apresentadas no documentário Gorda, de Luiza Junqueira. O filme expõe os depoimentos de três mulheres sobre gordofobia e sobre os padrões de beleza inalcançáveis, que afetam principalmente os corpos femininos. Essas mulheres encaram seus corpos de maneiras diferentes, em variados níveis de aceitação e contam ao espectador como lidam com o julgamento da sociedade e o seu próprio e como compreendem a cultura de culto ao corpo na qual vivemos.

Gorda foi realizado como trabalho de conclusão de curso de Luiza Junqueira, inspirado por um curta-metragem anterior, filmado em 2013, chamado Espelho torcido, que retrata o corpo da própria diretora a partir de suas dobras, estrias e celulites. O objetivo do novo filme é trabalhar o mesmo assunto a partir de outros corpos e empoderar mais mulheres, incentivá-las a se acharem bonitas e se manterem fortes frente ao preconceito.

“Meu dia a dia fora de casa é embate o tempo todo”, explica Elisa, que além da gordofobia enfrenta diariamente o racismo. “É eu não me sentindo confortável, todo mundo me olhando e me julgando de diversas maneiras e eu me mostrando forte. Desde pequena. Cada dia que eu aprendo mais, que eu não aliso o cabelo, que eu, gorda, uso uma roupa colada, eu estou resistindo. Essa é a minha posição todo dia: resistir”.

Para ajudar nessa resistência, Luiza Junqueira procurou dar voz a mulheres gordas e proporcionar representatividade, mesmo que em escala pequena, nos meios de comunicação. Dessa forma, pretende permitir que outras mulheres se sintam contempladas nos filmes nacionais, que se valorizem mais a partir dessa presença e que o resto da sociedade acostume-se a vê-las e ouvi-las.

Foi publicado no Facebook um questionário que convidava mulheres gordas a participarem do projeto e, em apenas uma semana, mais de 550 se inscreveram, o que demonstra a necessidade e a urgência de refletir sobre esse assunto.

Imagem dividida, acima: o nome do documentário, Gorda; abaixo, as três entrevistadas, Cláudia, Elisa e Dandara.
Cláudia, Elisa e Dandara

No filme, Cláudia, Elisa e Dandara foram retratadas com figurinos que lembram deusas romanas, para apontar sua beleza e poder, ao mesmo tempo em que apresenta uma crítica à exclusão gerada pela indústria da moda, que não é preparada para atender essas mulheres.

A equipe técnica que compôs o filme foi inteiramente feminina, o que proporcionou um empoderamento não apenas a partir da temática, mas do fazer audiovisual. A mulher sendo retratada e apresentando seu olhar, por meio da arte, do som, da edição. O que pode ser encarado até como metáfora do assunto documentado. A mulher vendo seu próprio corpo, se analisando, se julgando, se entendendo e expondo isso através de um olhar e uma linguagem próprios.

Mas o objetivo do projeto não é apenas atingir as mulheres gordas e fortalecê-las, é também sensibilizar os que contribuem para a perpetuação do preconceito e da obsessão com o padrão em voga. O próprio título do filme busca desconstruir a gordofobia por meio da ressignificação da palavra gorda. Cláudia explica: “Gorda não é termo pejorativo. Isso é para você se apropriar do que é parte de uma característica sua. Isso é termo para empoderamento. Gorda sim! Maravilhosa também!”.


Por Luciana Rodrigues

É formada em Audiovisual e em Letras Português. Uma brasiliense meio cearense, taurina dos pés à cabeça, apaixonada pela UnB, por Jorge Amado e pelo universo infantil. Aprecia o cult e o clichê, gosta de Nelson Pereira dos Santos e também gosta de novela. E, apesar de muitos dizerem o contrário, acha que essa é uma ótima combinação.

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