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Embrace | Crítica

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Abrace como você é

Embrace: abraçar, aceitar, compreender, adotar. Mas como aceitar – e amar – um corpo que não é representado nas imagens que nos cercam? Como abraçar a nossa auto-imagem, quando as revistas, os filmes, os comerciais mostram figuras de mulheres tão diferentes? Diferentes, inclusive, delas mesmas, já que são imagens irreais, retocadas, modificadas, plastificadas.

O documentário Embrace, escrito e dirigido pela australiana Taryn Brumfitt, parte em busca dessas respostas, após a diretora e protagonista do filme resolver amar o seu corpo – lindo e saudável – aos 35 anos, após a chegada de seus três filhos. Taryn postou uma foto de “antes e depois”, que fugia das tradicionais. O “antes” ela estava mais magra, de biquíni, em um concurso de fisiculturismo; o “depois”, com um sorriso estampado no rosto, ela mostra curvas, estrias e celulites, e estava nua.

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O “antes” e o “depois” de Taryn Brumfitt

Quando Taryn passou a rejeitar o seu corpo após três gestações, uma amiga a incentivou a participar de um concurso de fisiculturismo. Após meses de treino e dieta restrita, lá estava ela acompanhando mulheres que, para ela, na época, tinham todas “corpos perfeitos”, mesmo assim, nenhuma estava feliz e satisfeita, desejando ter “menos daquilo” ou “mais disso”. Para Taryn foi o insight que faltava – a questão não é sobre ter o “corpo perfeito”, é muito maior, é de aceitação, é de representação e é de amor ao seu próprio corpo.

Após o concurso, a cineasta percebeu que queria se exercitar, se alimentar bem, mas ter mais tempo para ela e sua família. Mas a questão da imagem corporal ainda estava lá. Assombrando-a. Ela chegou a pensar em fazer cirurgia plástica, mas, ao pensar na mensagem que passaria para a filha, desistiu e decidiu amar o seu corpo do jeitinho que ele era! Foi daí que o “antes e depois” surgiu e com esta simples postagem em seu Facebook, olhares de todo o mundo se voltaram para ela. E mais: ela recebeu centenas de contatos de mulheres sofrendo com a auto-imagem corporal e desabafando seus traumas.

Toda esta história é narrada nos primeiros instantes do documentário, daí, a cineasta vai em busca dessas mulheres para conhecer suas vidas e procurar os porquês dessa tão frequente não aceitação dos nossos corpos. São jornalistas, modelos, atrizes, fotógrafas, mulheres e mais mulheres que lutam pela aceitação do próprio corpo e pelo combate à ditadura de uma visão única do que seria bonito.

É impossível falar desta determinação do que é ou não bonito e não falar sobre representação. Representação da moda e de veículos e ferramentas da mídia. Aqui vale a relação com outro – tão fundamental quanto – documentário: Miss Representation, escrito e dirigido por Jennifer Siebel Newsom, que expõe como a grande mídia contribui para a baixa presença da mulher em posição de poder.

Se a referência é sempre única – e a magreza é o principal aspecto dessa unicidade – ou mesmo se uma modelo que tem qualquer curva é caracterizada como “plus size”, como colocar para as crianças e jovens que é lindo ser quem ela é, com o seu corpo real?

Taryn Brumfitt transformou sua jornada pessoal em bandeira coletiva e, além do documentário, fundou o Body Image Movement, para continuar gerando impactos positivos para a inclusão de belezas reais e diversas na nossa sociedade, cultura e meios de comunicação.

E você, já se olhou no espelho com amor e aceitação hoje?

Por Lina Távora

É uma cearense que mora em Brasília, jornalista fora da redação, mestre em comunicação/cinema, feminista em construção, mãe com todo o coração e tem no audiovisual uma paixão constante e uma fé no seu impacto para uma mudança positiva na sociedade.

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