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Meu corpo é político | Crítica

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Os corpos marginalizados

O documentário longa-metragem dirigido por Alice Riff surpreendeu por não abordar os personagens de uma maneira mais “clássica”: sentados, olhando para a câmera, falando de suas vivências e expondo críticas.

O filme acompanha atividades rotineiras de cada um, como o café da manhã, hora para fumar, espera do ônibus, preparação para uma apresentação, ida à faculdade e ao trabalho, saída com amigos. Esse cotidiano pertence a quatro pessoas: Giu Nonato, Paula Beatriz, Fernando Ribeiro e Linn da Quebrada. O que os une, além da marginalização imposta, é a militância LGBT.

Durante as atividade do cotidiano é possível conhecer cada uma dessas pessoas, por meio de um acompanhamento das suas experiências, seja consigo mesmo, seja por meio de suas relações, com pessoas conhecidas ou desconhecidas.

As vivências de Giu, Paula, Fernando e Linn demonstram o processo político da ocupação de espaços. Porque, para a sociedade, possuem corpos que precisam esconder. Não são vistos como pessoas por inteiro, e sim corpos que não pertencem àqueles locais – à escola, ao trabalho formal, à universidade, entre outros.

O filme mostra a importância da busca de formas de expressão da marginalização e da invisibilização que esses militantes, moradores da periferia, lidam todos os dias. Percebemos, também, a rede de afeto e de apoio que é necessária para enfrentar as violências simbólicas e físicas.

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Mulher trans, mulher preta, mulher de periferia e diretora de uma escola pública do Estado de São Paulo. A primeira diretora trans do estado. Porque ela é mulher. Essa é Paula Beatriz. Homem trans da periferia. Luta contra o Estado para ser reconhecido como uma pessoa, como um homem. Luta para ter o seu nome, Fernando Ribeiro, na sua documentação. Travesti que reivindica seu corpo, que fotografa mulheres empoderadas, que escreve, que usa vestido “red pink” como ninguém. Seu nome é Giu Nonato. Quem decide como vai rebolar é a própria Linn da Quebrada. Bicha. Preta. Da periferia. Que já pediu a Deus perdão pelo seu corpo. Canta afirmação. Passa maquiada na favela.

Essas pessoas, retratadas no documentário, mostram a luta LGBT por espaços. Questiona a heteronormatividade e a binaridade. Assistir ao filme é “viver” um tempinho com essas pessoas, é nos aproximar da constante luta pela visibilização e pela busca de não ter seu corpo violado e marginalizado por regras religiosas ou conservadoras.

O debate no Festival de Brasília, no dia 16 de setembro, após a exibição do filme contou com a presença de Paula Beatriz, Alice Riff e Giu Nonato. Da discussão ali feita, Giu conta que todos os convidados participaram ativamente do processo de criação do filme. Portanto, as vivências daqueles corpos e sua relação com a militância estavam presentes a partir da perspectiva daqueles sujeitos, daquelas pessoas e dos seus espaços.

A representatividade importa. Pois, esses corpos existem. E resistem.

Por Risla Miranda

Brilha os olhos quando fala de direitos humanos e se vê um dia programando games. Discutir numa mesa de bar acompanhada de uma cerveja bem lupulada é o paraíso. Criatividade vai desde meme a criar estratégias de ação de projetos. Curtindo o rolê de contar histórias através de dados.

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