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Carta para Shonda Rhimes | Cartas Para Elas

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Querida Shonda,

Voltei a assistir a Grey’s Anatomy. Décima quarta temporada. Fico lá, dias imersa, a cada hora livre, vivendo o meu momento, acompanhando aquelas personagens – as que não morreram ou não nos deixaram, né, Shonda? Tenho esse movimento de idas e vindas com Grey’s, desde que minha cunhada me indicou mais uma “série de médicos”. Quando começo, não consigo parar (é o tal do binge watching criado pelos serviços de streaming, com todos aqueles episódios a 3 segundos do seu alcance). Porque primeiro, quatorze temporadas! E, depois, sempre acontece um processo catártico de choro. Vai acontecer. Vou ficar inchada, com nariz entupido. Por mais que eu me previna e tente antecipar questões destes mundos criados por você. Mas vou colocar para fora um monte de coisas que não tinham nada a ver com aquelas cenas – mas que geraram esse processo. Porque aquelas personagens sentem, sofrem, vivem (e morrem) com toda a intensidade.

Mas não era assim que eu queria começar. Na real, voltei a assistir ao seriado de Meredith para poder continuar conversando com você. Acabei de ler o seu livro O ano em que disse sim – como dançar, ficar ao sol e ser sua própria pessoa. O livro foi uma conversa. Gargalhei, chorei, tirei vários prints do Kindle e sai espalhando para as amigas. E, sabe, não queria que aquela conversa terminasse.

Ah, e sei que não escrevo para “a” Shonda Rhimes, dona da porra toda (começando pela programação das quintas-feiras do canal ABC nos Estados Unidos) ou a PUD real (PUD: primeira, única, diferente; como você mesma se descreve). Escrevo para a personagem Shonda, criada por você e reconstruída na minha cabeça, a partir do que foi dito.

Shonda, o fato é que comprei o livro num impulso, por causa de uma promoção. Era escrito por você, mas confesso que estava ressabiada com aquele título. O ano do sim! Há alguns anos, tenho lido cada vez mais livros que não são de ficção. Depois dos meus filhos, parece que meu tempo para livros tem que ser “útil” (essa lógica não se amplia ao audiovisual). Então, era um livro de não-ficção, escrito pela criadora/produtora de Grey’s Anatomy, Private Practice, Scandal, How to get away with murder, For the people, Station 19.

Já te disse que, em bom português, você é mesmo a dona da porra toda, não é?

Sim, o livro. O livro do sim foi uma surpresa. Como tenho a Lua em Gêmeos (a nova besteira que me tira responsabilidades sobre as minhas inconstâncias), estava lendo meus cinco livros ao mesmo tempo. Quando não queria mais parar o seu. Porque, como disse, era uma conversa. Uma linguagem tão simples e tão atrativa. E era você – mulher negra, mãe solo, meio esquisita quando pequena, que gostava de se esconder na dispensa de sua casa e que atualmente, mesmo com o sucesso, negava palestras e entrevistas por um misto de timidez e medo.

Então, por um impulso de sua irmã – talvez pela essência competitiva, você começa a dizer SIM. Daí há o ponto de virada que esperamos de toda protagonista que se preze, daquelas que possuem a tal da “duroneza” que você conceitua – e que queremos tanto que nos contagie (que queremos ser)!  

Então, você participa de discursos. E que discursos. Você inspira coragem e expira os medos que existiam na sua cabeça. E fala a real. Participa de entrevistas e chega a atuar. E sabe o que mais? O SIM é o ato de dizer sim a você mesma. Ao amor que a vida te entregava. E, para tudo isso, teve que aprender a dizer SIM até para o NÃO. Para não seguir qualquer padrão tão fácil de se encaixar. As suas relações mais pessoais me tocaram profundamente – com suas filhas, com seu corpo, com sua alimentação. Com você.

E com toda essa revolução, tornou-se ainda mais poderosa, uma titã. Ainda mais “dona da porra toda”, uma PUD real (primeira, única, diferente), que queria mudar a representação da TV nos Estados Unidos.

Acho que você conseguiu isso aí. E foi muito além!

Shonda Rhimes - O ano em que disse sim

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Livro:

O ano em que disse sim – como dançar, ficar ao sol e ser sua própria pessoa, de Shonda Rhimes


Assista ao TED com Shonda Rhimes sobre seu ano do SIM!

Por Lina Távora

É uma cearense que mora em Brasília, jornalista fora da redação, mestre em comunicação/cinema, feminista em construção, mãe com todo o coração e tem no audiovisual uma paixão constante e uma fé no seu impacto para uma mudança positiva na sociedade.

13 respostas em “Carta para Shonda Rhimes | Cartas Para Elas”

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