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Fábula de vó Ita | Crítica

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A princesa Gisa e a representação da menina negra no audiovisual

Quantas princesas negras você conhece? Quantas protagonistas? Quantas personagens interessantes, densas e fortes? Esse questionamento sobre a falta de representatividade de mulheres negras na mídia é o ponto de partida do curta-metragem Fábula de vó Ita, de Joyce Prado e Thallita Oshiro.

O filme, direcionado ao público infantil (mas que também encanta e gera reflexões nos adultos), conta a história de Gisa, uma menina negra que sofre com o racismo na escola. Percebendo a situação, a avó se oferece para contar uma história sobre uma princesa negra. A menina, espantada, diz que “não existe princesa assim”.

A surpresa de Gisa é completamente justificável, uma vez que quase não temos contato com personagens negros, ainda mais no universo infantil. Nem nas propagandas, nem nos filmes, nem nos brinquedos.

As crianças constroem suas visões de mundo a partir do que experienciam, do que são expostas. Estão se conhecendo e conhecendo o outro. Enquanto houver o bombardeamento de referências brancas e o apagamento da mulher negra, as Gisas e seus colegas de escola continuarão sem reconhecer a beleza negra e rejeitarão seu protagonismo.

O primeiro filme da Disney1 com uma princesa negra, A princesa e o sapo, foi lançado, tardiamente, apenas em 2009. Uma produção solitária – em meio a uma dezena de personagens brancas, cujos filmes continuam sendo realizados e que têm seus rostos estampados em camisetas, mochilas e bonecas. Uma única princesa negra e que passa a maior parte do filme no formato de um sapo. Uma protagonista negra que não é vista.

Como Gisa poderia então adivinhar que em algum lugar havia guerreiras e princesas parecidas com ela? A mídia esconde, mas vó Ita faz questão de lembrar. Sua fábula apresenta para Gisa a história de uma menina que não sabe de onde veio e não conhece suas origens. Por isso, não se identifica com ninguém, se sente diferente e não valoriza seus traços. Cai, assim, no feitiço da bruxa Leireira, a bruxa mais cabeleireira do reino. O feitiço só acaba quando ela descobre suas raízes e percebe de onde vem sua beleza.

Um filme doce e bonito, que, em poucos minutos, fala sobre racismo, necessidade de representatividade e empoderamento da mulher negra. Fábula de vó Ita foi contemplado no Edital Carmen Santos 2013, da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, um edital voltado para curtas-metragens dirigidos por mulheres.

Contou ainda com a ajuda de uma campanha colaborativa de arrecadação na internet e mobilizou a comunidade a participar e contribuir para que o projeto ficasse pronto. Tantas pessoas ajudaram justamente por compreender a necessidade de se realizar filmes que falassem sobre esses assuntos e por reconhecerem a ausência de personagens negras no audiovisual.

Conhece outros filmes que podem ajudar a combater essa realidade? Que trazem meninas à posição de protagonistas, contribuem para o aumento de representatividade e ajudam a formar crianças e adultos livres do racismo, do machismo e de qualquer forma de preconceito? Divulga! Conta para a gente e ajuda a formar um movimento de filmes empoderadores.


1. As “Princesas da Disney” são uma marca, uma franquia, de personagens femininas dos filmes da Disney e Pixar. As princesas são referências para crianças no mundo todo.

Por Luciana Rodrigues

É formada em Audiovisual e em Letras Português. Uma brasiliense meio cearense, taurina dos pés à cabeça, apaixonada pela UnB, por Jorge Amado e pelo universo infantil. Aprecia o cult e o clichê, gosta de Nelson Pereira dos Santos e também gosta de novela. E, apesar de muitos dizerem o contrário, acha que essa é uma ótima combinação.

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