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A guerra dos sexos & Mulheres Olímpicas | Crítica

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A Guerra dos Sexos é um filme sobre feminismo, igualdade e liberdade, muito mais do que um filme sobre esporte. O longa é co-dirigido por Valerie Faris e Jonathan Dayton (diretores de Pequena Miss Sunshine), que, lado a lado, executam um filme sobre a disputa entre homens e mulheres por poder, reconhecimento e respeito, simbolizada por um jogo de tênis entre dois campeões mundiais.

Billie Jean King (interpretada por Emma Stone) é uma tenista norte-americana que acumulou títulos e prêmios em campeonatos ao redor do mundo. Ela foi uma das grandes impulsionadoras da campanha de equidade salarial no tênis e lutou pelo reconhecimento do esporte feminino e de suas atletas. Apesar de ser campeã mundial, durante anos recebeu menos do que seus colegas homens e, para modificar esse cenário, reuniu um grupo de talentosas tenistas para boicotar o campeonato oficial. O grupo correu atrás de patrocínio e montou um circuito independente de tênis feminino, com prêmio justo para as vencedoras.

As tenistas da vida real quando montaram o campeonato independente
As tenistas da vida real quando montaram o campeonato independente

Aproveitando a visibilidade desse movimento e querendo derrubar o argumento de Billie de que as mulheres jogam tão bem quanto os homens, Bobby Riggs (Steve Carell), um campeão aposentado do esporte, propôs um jogo entre os dois. Seu objetivo era mostrar que os homens são superiores e que o lugar das mulheres seria apenas na cozinha e no quarto. Apoiado publicamente pelos homens mais importantes da época no cenário do esporte, o jogo tornou-se um grande espetáculo, que mobilizou muito dinheiro e garantiu atenção da mídia internacional.

Um jogo de tênis com prêmio de 100 mil dólares entre dois campeões mundiais destinado a decidir quem é melhor: homens ou mulheres. Sob o argumento da força física e da biologia, a grande maioria apostou em Bobby (inclusive algumas mulheres), que recebeu patrocínios milionários e ganhou o foco da mídia. O evento tomou proporções gigantescas, tratando, evidentemente, de algo bem maior do que tênis. As mulheres aproveitaram o evento para provar que são atletas talentosas, que merecem reconhecimento no esporte e salários iguais. Os homens quiseram usar a ocasião para colocar as mulheres “em seu devido lugar” e provar que são superiores. Noivos apostaram seus sobrenomes. Se Bobby ganhasse, a noiva adotaria o sobrenome do marido. Mas se Billie vencesse, seria o futuro marido que pegaria seu sobrenome. As apostas eram altas e havia muito em jogo. A pressão sobre Billie era enorme e ela jogou como representante de um movimento e como agente de mudança.

Billie Jean King

É difícil assistir ao filme e permanecer impassível aos argumentos masculinos de superioridade. Argumentos que até hoje ainda são proferidos, mas que são sempre difíceis de ver expostos nas telas. As falas, os adjetivos, as narrações usadas ao longo do filme para desmerecer as jogadoras e sabotar suas exigências e requisições vão aumentando as expectativas do público e inflamando a torcida feminista. Por ser baseado em fatos reais, sabemos qual foi o final, mas confesso que torci mais por Billie Jean do que já torci em qualquer jogo da vida real.

Sob o plano da luta por igualdade de gênero, A Guerra dos Sexos retrata também um outro movimento: a luta pelos direitos da comunidade LGBT. Enquanto o movimento feminista faz suas exigências em cadeia nacional, amparado pelas vozes de atletas famosas com amplo alcance, Billie Jean vive um romance com a cabeleireira Marilyn, mas deve manter esse relacionamento escondido e disfarçado sob as aparências de seu casamento com Larry, correndo o risco de ter sua carreira no esporte prejudicada. Enquanto um movimento avança abertamente (apesar dos entraves e das forças contrárias), o outro é retratado no filme de forma secundária, ainda iniciante, mas que foi igualmente importante na vida de Billie Jean King e no desenvolvimento do longa-metragem.

Billie Jean (Emma Stone) com a cabelereira Marylin (Andrea Riseborough).
Billie Jean (Emma Stone) com a cabeleireira Marylin (Andrea Riseborough).

O filme se passa nos EUA na década de 70, mas a realidade brasileira não mudou tanto quanto gostaríamos e, ainda hoje, a luta por igualdade salarial tem muito a avançar, inclusive nos esportes.

Em 2013, a diretora Laís Bodanzky lançou o documentário Mulheres Olímpicas, que contém relatos de diversas atletas brasileiras sobre o machismo que envolve o universo do esporte e suas competições, em especial as Olimpíadas.

Daiane dos Santos, Jacqueline Silva, Hortência, Magic Paula, Isabel Salgado, Joanna Maranhão, dentre outras, falam sobre a diferença salarial entre homens e mulheres, a diferença de patrocínio e tratamento. Algumas falam sobre o desafio de gerenciar o esporte e a maternidade, outras sobre a rivalidade que é estimulada entre as mulheres atletas e ainda sobre a falta de apoio e crédito que é dada para muitas delas, apesar dos inúmeros prêmios e provas de capacidade.

Além de Billie Jean King e de nossas medalhistas brasileiras, muitas histórias de atletas pioneiras ainda são desconhecidas e suas lutas invisibilizadas. Apesar de vermos tantos filmes sobre as trajetórias de esportistas, muitos deles baseados em fatos reais, dificilmente vemos as histórias de mulheres sendo contadas. Mais raro ainda é ver essas histórias sendo contadas por mulheres.

Confira a seguinte lista com dicas de filmes que fizeram parte do projeto Memória do Esporte Olímpico e que retratam a vida e a carreira de mulheres brasileiras que se destacaram na história dos esportes ao longo dos anos, em diversas modalidades, mostrando suas singularidades, suas batalhas e vitórias.

  • 5X Yane, de Flora Diegues e Renata Almeida;
  • A praia em Atlanta, de Roberta Bonoldi e Gabriela Brigagão;
  • Meninas, de Carla Gallo;
  • Bete do Peso, de Kiko Mollica.
  • Rainha Hortência & Magic Paula, de Rubens Rewald;
  • A valsa do pódio, de Daniel Hanai e Bruno Carneiro;
  • Aida dos Santos – Uma mulher de garra, de André Pupo;
  • As lutas de Adriana, de Alberto Iannuzzi;
  • Maria Lenk – A essência do espírito olímpico, de Iberê Carvalho;
  • O Discreto Charme de Uma Campeã, de Fábio Meira;
  • O nado de Joanna, de Lucas Fitipaldi;
  • Patria!, de Fábio Meira;
  • Piedade, Piedade!, de José Roberto Torero Jr.;
  • Procura-se Irenice, de Thiago Mendonça e Marco Escrivão;
  • Rosinha: A força de uma Guerreira, de Carlos Segundo;
  • Sarah – Menina de ouro, de Vinicius Vasconcelos;
  • Wanda dos Santos – Sem barreiras, de Cleisson Vidal.

Por Luciana Rodrigues

É formada em Audiovisual e em Letras Português. Uma brasiliense meio cearense, taurina dos pés à cabeça, apaixonada pela UnB, por Jorge Amado e pelo universo infantil. Aprecia o cult e o clichê, gosta de Nelson Pereira dos Santos e também gosta de novela. E, apesar de muitos dizerem o contrário, acha que essa é uma ótima combinação.

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