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Ainda Estou Aqui | Teste Arte Aberta no Oscar 2025

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Pelo menos para nós, brasileires, a estrela do Oscar 2025 é Ainda Estou Aqui. O filme baseado na biografia homônima de Marcelo Rubens Paiva é dirigido por Walter Salles. Já o roteiro é de Murilo Hauser e Heitor Lorega. Ainda Estou Aqui teve três indicações no Oscar 2025: Melhor Filme, Melhor Atriz (Fernanda Torres) e Melhor Filme Internacional.

É a quinta vez que um filme brasileiro concorre à categoria de Melhor Filme Internacional (sendo a segunda vez que um filme do diretor Walter Salles concorre nessa categoria). Já na categoria de Melhor Atriz, essa é a segunda indicação de uma atriz brasileira. A primeira indicada foi a mãe de Fernanda Torres, Fernanda Montenegro, em Central do Brasil.

Um filme brasileiro (ou mesmo sul-americano) nunca havia concorrido à categoria de Melhor Filme.

Ainda Estou Aqui também concorreu ao Globo de Ouro de 2025 de Melhor Filme em Língua Estrangeira e de Melhor Atriz em Filme de Drama. Fernanda Torres saiu vencedora,  tornando-se a primeira atriz brasileira a ganhar esse prêmio.

A obra é inspirada na história real de Eunice Paiva (Fernanda Torres e Fernanda Montenegro), advogada, ativista política e viúva de Rubens Paiva (Selton Mello), engenheiro civil e político brasileiro assassinado pela ditadura militar no Brasil. No filme, acompanhamos momentos do cotidiano da família Paiva antes do sequestro de seu patriarca. Assistimos a belas imagens do Rio de Janeiro no início da década de 70 e momentos de convivência entre Eunice, Rubens, seus cinco filhos (Vera, Eliana, Nalu, Marcelo e Bibu), além de amigos da família.

A vida dos Paiva é transformada quando a casa é invadida por militares que levam Rubens para ‘prestar depoimento’. Pouco depois, Eunice e Eliana também são levadas. As duas voltam para casa, mas não Rubens. Essa ausência guia toda a segunda metade do filme em que Eunice segue em busca da verdade enquanto cuida de seus filhos tentando, ao máximo, manter um clima de normalidade na família.

Ainda Estou Aqui é aterrador por se tratar de uma história real. Essa não foi só a história dos Paiva, mas de muitas outras famílias durante o período da ditadura. Como diz Eunice no fim do filme: “A tática do desaparecimento é uma das mais cruéis porque mata-se uma pessoa e condena-se todas as outras a uma tortura psicológica eterna”.

No entanto, mesmo ao enxergar Ainda Estou Aqui como um filme de ficção, o impacto permanece visceral. Uma grande parte disso é construída através da atuação de Fernanda Torres que interpreta a resiliência e o amor de Eunice Paiva de uma forma bela, contida, mas intensa e muito real. Aqui no Arte Aberta Fernanda Torres já é e sempre será uma vencedora!

A seguir, vamos analisar Ainda Estou Aqui com o nosso Teste Arte Aberta! Para saber mais sobre o teste, confira o texto introdutório.

Sinopse

De acordo com a percepção do Arte Aberta evitando spoilers

É início da década de 1970. Eunice e Rubens Paiva moram no Rio de Janeiro com os seus cinco filhos e tentam seguir uma vida normal durante a Ditadura Militar. Com medo que a filha mais velha, Vera (Valentina Herszage e Maria Manoella), se envolva com ativismo político, os pais a mandam para Londres com amigos da família. No entanto, a família se vê fragmentada pelo regime ditatorial pouco tempo depois quando militares invadem a sua residência e levam Rubens embora. Eunice e a filha Eliana (Luiza Kovski e Marjorie Estiano) são obrigadas a depor também, mas retornam para casa. Após esses eventos, Eunice segue em busca da verdade e da justiça enquanto cuida de seus filhos e tenta manter um senso de normalidade em suas vidas.

Ótica de gênero, raça e LGBTQIA+/PcD 

Ainda Estou Aqui é um filme sobre Eunice. O desaparecimento de seu marido é o evento que guia a trama, mas o filme é, primordialmente, sobre essa mulher, sobre como ela resiste e luta para manter a sua família unida apesar de tudo. Eunice é, durante grande parte do filme, uma dona de casa, como era normal para mulheres de sua classe social no início da década de 70. Ainda assim, ela não é construída como uma personagem frágil ou incompetente. Na verdade, quando o seu advogado, Lino (Thelmo Fernandes), diz para ela que os documentos legais são difíceis de entender, ela desmerece sua ‘preocupação’ deixando claro que é capaz.

No início do filme, Rubens e Eunice parecem conversar e tomar decisões juntos (apesar de Rubens ser o patriarca e aquele que dá a última palavra). Na ausência de seu marido, Eunice é obrigada a tomar várias decisões sobre o futuro de sua família sozinha e ela as toma com determinação.

O filme tem outras inúmeras personagens mulheres, como as quatro filhas de Eunice, a empregada doméstica Zezé (Pri Helena), a professora que foi presa junto com Rubens e várias amigas da família. Essas personagens são menos importantes, mas criam um filme com forte presença feminina.

Quanto à raça, a única personagem negra nomeada é a empregada doméstica Zezé. Ela tem uma participação pequena e se adequa aos estereótipos comuns de personagens empregadas domésticas. Ela mora em um quartinho nos fundos da casa, cuida bem das crianças e é afetuosa. É uma pessoa simples que não quer encrenca. Quando Rubens desaparece, ela fica sem receber o salário e demora a falar com a patroa. No final, é demitida quando Eunice não consegue pagar mais o seu salário. Há também uma breve aparição de um repórter negro da revista Manchete.

Quanto às personagens PcD, Marcelo (Guilherme Silveira e Antonio Saboia) na fase adulta é cadeirante e tem mobilidade reduzida em pelo menos uma das mãos. Vale lembrar que o Marcelo da vida real é o autor do livro que deu origem ao filme. Eunice, no fim da vida e já com Alzheimer avançado, está bastante debilitada e também aparece em uma cadeira de rodas. Não há personagens explicitamente LGBTQIA+ no filme.

Representatividade de gênero, raça e LGBTQIA+/PcD

Direção e Roteiro*

* Classificação é feita de acordo com a declaração pública e disponível das pessoas LGBTQIA+/PcD e heteroidentificação de raça e gênero

A direção do filme é de Walter Salles, um homem branco. O roteiro fica a cargo de Murilo Hauser e Heitor Lorega, também homens brancos. Não há informações se algum deles é LGBTQIA+ e PcD. 

Dessa forma, a ficha técnica principal (direção e roteiro) é composta 0% por pessoas não brancas, 0% por mulheres, 0% PcD e 0% LGBTQIA+.

Elenco principal*

Créditos iniciais/finais

* Classificação é feita de acordo com a declaração pública e disponível das pessoas LGBTQIA+/PcD e heteroidentificação de raça e gênero

Os créditos finais do filme apresentam 33 nomes em cartelas. Devido a grande quantidade de atores, optei por considerar apenas os nomes que aparecem com maior destaque: Fernanda Torres e Selton Mello.

Dessa forma, o elenco é composto por 50% de mulheres (Fernanda Torres), 0% de não brancos, 0% LGBTQIA+ e 0% de PcD.

Representação

Mulheres

Presença (Bechdel-Wallace)

As mulheres têm nome? 

Se falam por mais de 60 segundos?

Sobre outro assunto que não seja homens? 

Aprovado.

Eunice conversa com muitas mulheres: suas filhas, amigas e a empregada doméstica. Muitas vezes o assunto é o seu marido. Em outros vários casos, o nome do marido surge na conversa, interrompendo-a. Ainda assim, somando todos os trechos de conversa, somam-se mais de 60 segundos.

Arco Dramático (Mako-Mori) 

Tem mulher? 

Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de gênero?

Aprovado.

O arco dramático de Eunice é baseado, em grande parte, em seu papel como esposa e mãe. No entanto, a personagem extrapola estereótipos ao manter-se firme e resiliente, ao decidir o futuro de sua família sem ingerência de outras pessoas, ao decidir voltar a estudar e se tornar uma defensora dos direitos dos indígenas, da memória e da democracia. Dessa forma, considero que, apesar do arco de Eunice partir de um estereótipo de gênero bem clássico (a dona de casa, a esposa, a mãe), ela vai além. Eunice não é apenas a esposa de Rubens nem a mãe de Vera, Eliana, Nalu, Marcelo e Bibiu. Ela é uma sobrevivente. Ela é resistência. 

As outras personagens femininas não possuem arco dramático próprio.

Competência (Tauriel)

Houve mulher(es) com atividade profissional definida? 

Ela é competente na atividade?

Grau da Competência Caso a mulher seja competente, quão competentes elas são em sua atividade profissional (1 a 5 , sendo  1 – pouco competente e 5 – muito competente) 

Houve reconhecimento dessa competência?

Aprovado. 

Nota: 5

Eunice é uma dona de casa na maior parte do filme. Na última parte, ela decide voltar para São Paulo com a família e também para faculdade. Eunice torna-se advogada e especialista em direitos humanos e dos indígenas extremamente reconhecida. Isso é deixado claro tanto nas cenas finais quanto nas cartelas de encerramento.

As outras personagens mulheres não têm suficiente importância para reconhecermos a sua competência.

Qualidade da representação – mulheres

Como é a representação das personagens mulheres (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 3

Como já analisado nas seções anteriores, Eunice se destaca como a protagonista e é caracterizada de forma a criar uma personagem humana, que vai além de possíveis estereótipos de gênero.

Raça

Arco dramático (Mako Mori)

Tem personagem não branco? 

Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de raça?

Reprovado.

A personagem negra com algum destaque é Zezé, a empregada doméstica. Ela não possui um arco dramático próprio.

Qualidade da representação – raça

Como é a representação dos personagens não brancos (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 1

A personagem negra com algum destaque é Zezé, a empregada doméstica. Ela é uma personagem com pouca participação e muito vinculada a estereótipos de empregada doméstica (que coincidem com estereótipos de representações negras na mídia brasileira).

LGBTQIA+

Arco dramático (Mako Mori)

Tem personagem LGBTQIA+? 

Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de LGBTQIA+?

Reprovado. 

Não há personagens LGBTQIA+ na trama.

Qualidade da representação – LGBTQIA+

Como é a representação das personagens LGBTQIA+ (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 0

Não há personagens LGBTQIA+ na trama.

PcD 

Arco dramático (Mako Mori)

Tem personagem PcD? Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de PcD?

Reprovado. 

Marcelo, o único filho homem de Eunice e Rubens, é cadeirante e tem mobilidade reduzida em pelo menos uma das mãos na parte do filme em que aparece como adulto. Contudo, ele não possui arco dramático próprio.

Qualidade da representação – PcD

Como é a representação das personagens PcD (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 2

Marcelo é um personagem secundário com relevância no filme por ser filho de Eunice. No entanto, ele aparece muito pouco tempo em tela como PcD (apenas na parte final) o que dificulta analisar a qualidade da representação.

Resumo do Teste Arte Aberta

Representatividade

Representação

Estrelas Arte Aberta: 1,5

Por Barbara Alpino

Connoisseur de cultura pop japonesa, adoradora de gatos e colecionadora de vestidos. Ama desenhos e sonha em escrever uma saga de fantasia.

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