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Elas no Oscar 2019: Infiltrados na Klan | Testes de representação e representatividade

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Infiltrados na Klan

Este ano, o diretor de Infiltrados na Klan (BlacKkklansman), Spike Lee, é indicado pela primeira vez na categoria de Melhor Direção no Oscar. Apenas seis diretores negros (e nenhuma mulher negra) foram indicados nesta categoria nas nove décadas da premiação. Se ganhar, será o primeiro homem negro a conquistar o prêmio. Spike Lee já havia sido indicado por Faça a coisa certa, na categoria Roteiro Original, em 1990.

Além da indicação para Melhor Direção, Infiltrados na Klan também concorre para: Filme (Sean McKittrick, Jason Blum, Raymond Mansfield, Jordan Peele e Spike Lee), Ator Coadjuvante (Adam Driver), Edição (Barry Alexander Brown), Roteiro Adaptado (Charlie Wachtel, David Rabinowitz, Kevin Willmott e Spike Lee), Trilha Sonora (Terence Blanchard). Com essa descrição já podemos observar um spoiler sobre a representatividade das mulheres no filme: é baixa! Em relação às categorias indicadas, a produção não apresenta nenhuma mulher.

Sinopse geral do filme

De acordo com a percepção do Arte Aberta evitando spoilers

Nos anos 1970, Ron Stallworth (John David Washington) torna-se o primeiro negro a entrar para o departamento de polícia em Colorado Springs. Com o desejo de realizar mudança de dentro do sistema, ele inicia uma investigação sobre a KKK local e coloca o parceiro, o judeu Flip Zimmerman (Adam Driver), para se infiltrar na “organização”. O filme navega entre a comédia e o drama, e tem sua maior força em fazer uma relação com o (infeliz) momento de retrocessos que estamos vivendo. O filme, baseado em fatos reais, é adaptado da biografia do verdadeiro Ron Stallworth.

Infiltrados na Klan

A ótica das mulheres

O filme traz discussões necessárias e profundas. Correlaciona absurdos tratados na década de 1970 a ações contemporâneas. São discursos construídos pelo ódio e pela discriminação. Spike Lee tem um histórico de narrativas que apontam esse racismo estrutural e enraizado na sociedade americana. Por isso, é um filme necessário. Porém, quando a questão é representação e representatividade das mulheres, o filme apresenta uma grande lacuna. Apenas duas mulheres aparecem no filme com mais consistência: a esposa de um dos membros da KKK, Connie Kendrickson, e a ativista negra Patrice Dumas, que se torna namorada de Ron.

Infiltrados na Klan

Representatividade feminina na ficha técnica

Direção, Roteiro, Produção, Produção executiva, Direção de fotografia, Design de produção, Figurino, Trilha sonora, Edição de som, Mixagem de som, Edição, Efeitos especiais e Maquiagem.

Nas funções pesquisadas, 27 nomes aparecem (contando com as repetições), desses apenas 5 são de mulheres, representando 18% de representatividade feminina na ficha técnica principal.

Representatividade feminina no elenco principal

Créditos iniciais/finais

São 11 atores/atrizes citados com destaque nos créditos do filme, desses, acredite, apenas duas são mulheres, o que representa 18% do elenco principal. São elas: Laura Larrier (Patrice Dumas) e Ashlie Atkinson (Connie Kendrickson). A título de curiosidade, além das duas, apenas a atriz Damaris Lewis interpreta uma personagem com nome, a Odette, amiga de Patrice.

Infiltrados na Klan: Spike Lee

Bechdel-Wallace

As mulheres têm nome? Se falam? É sobre homem?

Reprovado.

Patrice e Odette orbitam, mas nunca tem tempo de desenvolver um diálogo. Entendemos que são amigas, colegas do movimento negro. E como sentimos falta de um desenvolvimento dessas personagens!

Mako-Mori

Tem mulher? Tem arco dramático? É apoiado no arco do homem?

Reprovado.

Apesar de Patrice aparecer como a presidente da união dos estudantes negros da universidade, ou seja, estar à frente do movimento negro local, não há desenvolvimento da sua história/narrativa na trama. Não há uma pergunta que a guie para a construção de um arco dramático próprio. Logo que ela aparece, já é inserida na narrativa como o par de Ron. Patrice seria uma ótima personagem a ser desenvolvida, que poderia apresentar ao espectador detalhes de sua história até a inserção no movimento negro e dar outras camadas a esse contexto, mas ela só aparece “em relação” ao protagonista.

Tauriel

Tem mulher? Ela só está na trama para ser par romântico/possui competência em algo?

Reprovado.

Mais uma vez, mesmo tendo competência, Patrice só aparece na trama como “par romântico” de Ron. Mesmo questionando as ações de Ron, a sua narrativa na trama é completamente apoiada na do protagonista.

Barnett

Tanto homens quanto mulheres falam entre si só sobre o sexo oposto? Os personagens masculinos têm comportamento atrelado à violência que trate como humor/falta de seriedade/normal/aceitável/como se alguém merecesse a violência?

Reprovado, principalmente pelo segundo questionamento.

Exatamente porque o objetivo do filme é tratar dos absurdos propagados pelo ódio e pelo preconceito dos membros da Ku Klux Klan. Além de apresentar – também como crítica – o racismo estrutural, como o de policiais que colocam as pessoas negras sempre como alvos. Dessa forma, o filme reprova; porque trata da violência com humor, de forma aceitável e – pior – como se as pessoas negras merecessem aquela violência. Porém, é importante destacar que esse é o objetivo do filme. Por meio da comédia, mostrar a discriminação nas suas piores formas – ontem e, infelizmente – hoje em dia!   

Infiltrados na Klan

Resumo dos testes de representação e representatividade de Infiltrados na Klan

Representatividade feminina na ficha técnica: 18%
Representatividade feminina no elenco principal: 18%
Bechdel-Wallace:Reprovado
Mako-Mori: Reprovado
Tauriel: Reprovado
Barnett: Reprovado

Por Lina Távora

É uma cearense que mora em Brasília, jornalista fora da redação, mestre em comunicação/cinema, feminista em construção, mãe com todo o coração e tem no audiovisual uma paixão constante e uma fé no seu impacto para uma mudança positiva na sociedade.

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