Categorias
Premiações

Teste Arte Aberta no Oscar 2023: Triângulo da Tristeza

Compartilhe!

O Triângulo da Tristeza é indicado a três categorias do Oscar 2023: melhor filme, e melhor direção e melhor roteiro original por Ruben Östlund. Também foi indicado a outros 58 prêmios, sendo vencedor em 19, dentre eles a Palma de Ouro em Cannes. 

Equipe Triângulo da Tristeza

O filme é uma sátira não só sobre estereótipos de gênero, mas principalmente sobre a relação das pessoas com o dinheiro e classes sociais, tendo como pano de fundo discussões sobre o capitalismo e socialismo. Esses temas são trazidos em uma discussão teórica entre um magnata russo capitalista que vende fertilizantes e um americano socialista, o  capitão alcóolatra de uma iate de luxo. Além desse, há outros vários elementos do tipo: na parte um, o universo do luxo, a falsa inclusão da moda e os estereótipos de gênero na relação de um casal; na parte dois, poder e dinheiro entre a tripulação e os clientes; e na parte três, os papéis designados são subvertidos. 

A seguir, analisamos o filme Triângulo da Tristeza através do nosso Teste Arte Aberta. Para saber mais sobre o novo Teste Arte Aberta, confira o texto introdutório.

Sinopse

De acordo com a percepção do Arte Aberta evitando spoilers

Triângulo da Tristeza conta a história dos clientes e da tripulação de um iate de luxo que naufragou após um ataque pirata. O filme é dividido em três partes: a parte um retrata o relacionamento dos modelos Carl e Yaya; a parte dois, dos tripulantes e clientes do iate de luxo; e a parte três, o naufrágio na ilha. 

Ótica de gênero, raça e LGBTQIA+/PcD 

Triângulo da Tristeza apresenta representação de mulheres com certa variedade com histórias e profissões diversas. Mesmo que o filme centre no mercado de luxo, ainda há uma pequena representação de outras classes sociais ao trazer parte da tripulação do iate para o protagonismo da história.

Traz também uma discussão sobre estereótipos de gênero, ao abordar questões como o cavalheirismo obrigatório dos homens pagarem a conta, e a relação de dinheiro, de posse e ciúmes de um casal de modelos. Vale a pena ressaltar que, diferentemente das outras profissões, os modelos homens costumam ganhar menos que as mulheres. Há também uma inversão do papel de assediador sexual, que costumeiramente é atribuído ao homem, e neste caso foi incorporado Abigail, a nova Capitã.

Em relação à raça, é um filme com poucas representações, mas uma delas tem bastante relevância na parte três do filme. Dolly de Leon, a atriz que interpreta Abigail é filipina. Há uma pequena menção sobre racismo direcionada ao personagem Nelson, quando Dimitry, um dos clientes do iate, indica que ele pode ser um pirata e não integrante da tripulação. Isso é confirmado por Nelson em uma conversa com Dimitry sobre o quanto ele fatura pelo trabalho.

Triângulo da Tristeza - Dolly de Leon

Não há representação LGBTQIA+ no filme de forma clara. Há uma personagem de apoio PcD, a Therese, mas ela não é desenvolvida na trama.

Representatividade de gênero, raça e LGBTQIA+/PcD

Direção e Roteiro*

* Classificação é feita de acordo com a declaração pública e disponível das pessoas LGBTQIA+/PcD e heteroidentificação de raça e gênero

A direção e roteiro é de Ruben Östlund, sueco conhecido pelos filmes The Square: A Arte da Discórdia (2017), indicado no Oscar 2018 para melhor filme estrangeiro, e Força Maior (2014). 

Não foi encontrada qualquer menção na internet dele ser LGBTQIA+ ou PcD.

Dessa forma, a ficha técnica principal (direção e roteiro) é composta 100% por brancos, 0% por mulheres, 0% PcD e 0% LGBTQIA+

Elenco principal*

Créditos iniciais/finais

* Classificação é feita de acordo com a declaração pública e disponível das pessoas LGBTQIA+/PcD e heteroidentificação de raça e gênero

Doze nomes são apresentados nos créditos iniciais do filme: Harris Dickinson (Carl), Charlbi Dean (Yaya), Dolly de Leon (Abigail), Zlatko Buric (Dimitry), Iris Bernen (Therese), Vicki Berlin (Paula), Hernrik Dorsin (Jarmo), Jean-Christophe Folly (Nelson), Amanda Walker (Clementine), Oliver Ford Davies (Wilston), Sunny Melles (Vera), Woody Harrelson (O Capitão).

Dois são não brancos, Jean-Christophe Folly (Nelson) e Dolly de Leon (Abigail), e seis são mulheres.

Não foram encontradas informações na internet sobre qualquer deles ser PcD ou abertamente LGBTQIA+.

Dessa forma, o elenco é composto por 50% de mulheres, 16,67% de não brancos, 0% LGBTQIA+ e 0% de PcD

Representação

Mulheres

Presença (Bechdel-Wallace)

As mulheres têm nome? 

Se falam por mais de 60 segundos?

Sobre outro assunto que não seja homens? 

Aprovado.

O filme tem diversas personagens femininas com nome e existem diálogos entre várias delas que duram mais de 60 segundos e tratam de outros assuntos que não sejam  os homens.  

Arco Dramático (Mako-Mori) 

Tem mulher? 

Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de gênero?

Aprovado.

O filme apresenta a construção de história principalmente de Yaya e Abigail. Há outras personagens que apresentam uma participação relevante, mas sem arco dramático, como Paula, Therese, Vera, Clementine e Alicia.

Competência (Tauriel)

Houve mulher(es) com atividade profissional definida? 

Ela é competente na atividade?

Grau da Competência Caso a mulher seja competente, quão competentes elas são em sua atividade profissional (1 a 5 , sendo  1 – pouco competente e 5 – muito competente) 

Houve reconhecimento dessa competência?

Aprovado. 

Nota: 5

Paula é chefe da tripulação, Yaya é modelo e influencer, Alicia faz parte da tripulação. Todas desempenham seus papéis profissionais com algum destaque. Mas a personagem que mais teve a sua competência reconhecida é Abigail, faxineira do iate. Em dado momento da história, ela vira capitã do grupo que naufragou, demonstrando diversas habilidades: pescar, acender o fogo, comandar e cuidar da sua equipe. Ela é elogiada em três oportunidades por pessoas diferentes pelas habilidades em garantir a sobrevivência do grupo.

Apresentação de estereótipos

Como é a representação das personagens mulheres (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 2

O filme usa alguns estereótipos para brincar com as personagens. Yaya é uma modelo padrão influencer que usa seus atributos físicos para conseguir vantagens, sendo que inclusive  considera  a possibilidade de  ser uma esposa troféu.

Paula é uma chefe da tripulação assertiva que está interessada em agradar os clientes para conseguir que sua tripulação fature. Mesmo na situação de naufrágio, ela continua assumindo a posição altiva de ajudar no comando e pensar no que o futuro a reserva se fizer bem o seu trabalho. 

Abigail é faxineira no iate, que  se torna capitã após o naufrágio. É uma mulher filipina com muitas habilidades de sobrevivência e comando, e quando colocada em situação de liderança tira proveito do posto em todos os sentidos, inclusive ao construir uma relação sexual baseada em troca de favores com Carl, namorado de Yaya. Mesmo ela sendo peça chave da terceira parte do filme, só sabemos que ela não tem filhos, subvertendo o estereótipo que é esperado dela. Em uma das últimas cenas, que também mostra  mais um ponto da personalidade de Yaya,  a modelo prova que ainda vê Abigail como subalterna dela no mundo “real” e espera que ela volte a ocupar essa posição no futuro. 

Além dessas personagens, vemos um pouco da história de Clementine, que tem uma empresa familiar de minas terrestres e granadas com o marido; de Vera, que parece ser esposa de Dimitry, detentor de império de fertilizantes, que obriga a tripulação a “aproveitar o dia” e usar a piscina e toboágua; Ludmilla, mulher fútil que parece ser namorada ou filha de Dimitry, e, por fim, Therese, que se comunica através do marido, por ter tido derrame e possuir uma deficiência de fala, mas, em um curto diálogo com Nelson, ela revela que já transou para conseguir emprego.

Raça

Arco dramático (Mako Mori)

Tem personagem não branco? 

Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de raça?

Aprovado.

A atriz que interpreta Abigail é filipina e não-branca. Ela tem destaque na última parte da história desenvolvendo um arco dramático próprio não apoiado em estereótipos de raça. Além dela, há Darius, um homem pardo, segundo-comandante que é quem de fato comanda o barco no lugar do capitão, e Nelson, um homem preto, que é pirata, e se junta à tripulação naufragada, mas ambos não têm histórias desenvolvidas além das suas funções profissionais e pequenas participações na trama. 

Apresentação de estereótipos

Como é a representação dos personagens não-brancos (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 2

Ainda que Abigail tenha poucos estereótipos, a representação do filme em relação a raça dos personagens não brancos deixa a desejar, considerando que os personagens brancos têm muito mais tempo de tela e participação na história.

LGBTQIA+

Arco dramático (Mako Mori)

Tem personagem LGBTQIA+? 

Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de LGBTQIA+?

Reprovado. 

Apresentação de estereótipos

Como é a representação das personagens LGBTQIA+ (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: -1

Há uma pequena fala que associa que modelos homens sofrem assédio constante de homossexuais. Fora isso, não há indicação de personagens claramente LGBTQIA+ na história.

PcD 

Arco dramático (Mako Mori)

Tem personagem PcD? Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de PcD?

Reprovado. 

Apresentação de estereótipos

Como é a representação das personagens PcD (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 1

A personagem Therese é PcD, interpretada pela atriz Iris Bernen, que não é PcD. Todavia ela é tratada apenas como uma personagem de apoio à trama.

Resumo do Teste Arte Aberta

Representatividade

Representação

Estrelas Arte Aberta: 1,5

Teste Arte Aberta Estrelas - Triângulo da Tristeza

Por Natália Brandino

Tem a mania de analisar, segmentar, e planejar. Mas também de conversar de séries e bobagens da vida. Não se engane com a seriedade aparente da capricorniana que sempre se esconde atrás de um livro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *