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The Last of Us: Part II | Ellie e a visibilidade lésbica nos jogos

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the last of us ellie e dina

*CONTÉM SPOILER

Depois de uma espera e tanto, finalmente temos a parte 2 do grande sucesso The Last of Us! Desenvolvido pela Naughty Dog, o primeiro saiu em 2013 e revolucionou os jogos de zombie. Agora em 2020, temos Ellie como uma das principais personagens jogáveis em uma narrativa cheia de vingança, violência, amor, esperança e dor.

Além dos gráficos maravilhosos que quase fizeram meu PlayStation 4 voar pela sala, a narrativa de TLOU: Parte II carrega lembranças que são jogadas por você durante alguns momentos específicos da história, seja para você compreender mais a personagem que você está jogando ou para acalentar nosso coração que está cheio de saudades e de raiva.

Além de Ellie, já crescida, quatro anos depois do final da parte I, também jogamos com Abby, que, assim como Ellie, faz da vingança seu mote de sobrevivência. Temos então duas mulheres como personagens principais jogáveis. Abby é musculosa, focada, introspectiva. Ellie, pequena, inteligente, nostálgica. Ambas tiveram pessoas importantes em suas vidas que a transformaram profundamente, sendo a vingança pela morte dessas pessoas o motivo pelo qual as fazem cruzar o caminho uma da outra.

Quando o trailer da parte II saiu, a internet se viu cheia de comentários lesbofóbicos pelo fato de ficarmos sabendo que Ellie se envolveria romanticamente com uma mulher, a Dina – é importante mencionar que na DLC Left Behind do The Last Of Us Ellie já revelou sua orientação sexual. Mais uma vez, a comunidade gamer sendo lbgtfóbica apostou que jogos como esse não iam fazer sucesso. Além do que, já sabíamos que o personagem jogável seria Ellie, deixando Joel de lado, o queridinho da franquia. O que aconteceria com Joel na parte II era pura especulação.

O sucesso de venda em poucas semanas depois do lançamento mostra que trazer mulheres como personagens centrais, além de uma delas ser lésbica, provou o contrário: o jogo é muito bom e veio para marcar que precisamos de diversidade nas personagens para assim termos outras narrativas exploráveis no mundo gamer. 

Jogabilidade

Em nível de jogabilidade há sim alguns problemas: NPCs que atrapalham em momentos stealth necessários, gráficos tão pesados para PS4, dentre outros bugs encontrados, mas que não anulam a qualidade geral do jogo.

Os gráficos maravilhosos realmente são de tirar o fôlego, trazendo aquele quê de prestar atenção não só nos esporos, mas em uma vida “normal” que foi deixada para trás em apartamentos e casas abandonadas. As relações de sociedade entre os humanos daquela situação pós apocalíptica que mesmo nessas circunstâncias não entendem a importância de estar e ser em comunidade. Essa estrutura social que perpassa e dá base à narrativa de Ellie e Abby aprimoram a imersão no jogo.

Personagens

Ellie e Abby não têm, digamos, pudor. Sabem matar. Cada uma com sua habilidade. O jogo é violento, as mulheres também. Inclusive a atriz Jocelyn Mettler que serviu de modelo facial para Abby sofreu diversos ataques em suas redes sociais por matar um dos personagens queridos de TLOU. Não lembro de perseguição parecida quando algum personagem homem matou algum queridinho de outros jogos.

Abby é uma mulher musculosa e não é lésbica, desfazendo alguns estereótipos bem conhecidos que marcam corpos de mulheres lésbicas. Como é necessário jogar tantas horas com Abby, o jogo nos traz para perspectivas diferentes do mesmo acontecimento, humanizando as dores e as lembranças de Abby. Ela é assertiva, sabe o que quer, elenca bem suas prioridades.

Ellie e Dina. Abby e Owen. Os casais do jogo se unem e se perdem de diversas maneiras, mostrando que as relações em tempos apocalípticos carregam uma complexidade que distanciam as pessoas por conta de traumas e dores profundas. Ellie e Abby são duas mulheres que não se abrem tão fácil assim para o amor em tempos de profunda perda.

As histórias paralelas também têm seus encantos, como as de Jesse, Yara, Tommy e Lev, sendo este último um menino trans que tenta se desvincular de uma seita religiosa na qual é considerado um herege. Abby cruza com os irmãos Yara e Lev, fazendo florescer uma relação mista de culpa e de empatia. Abby constrói uma relação interessante com Lev, aprendendo que a vida precisa acontecer além de uma vingança.

the last of us ev e yara

Dina e Ellie acabam tendo uma vida juntas. Mas essa vida tranquila, cheia de amor, não combina com o trauma profundo de Ellie, quase como se ela não tivesse o direito de ser feliz e seguir com sua vida até se vingar pelo que foi tirado dela. É cravado nela uma situação na qual não consegue sair, a vingança continua correndo em suas veias como forma de honrar o nome de Joel.

Duas histórias jogáveis com mulheres diferentes, que se cruzam, colocando a vida de uma na mão da outra. As histórias se concluem, sendo a morte a marca profunda da história de Abby e Ellie. Humaniza-se os dois lados. Os dois lados que sobrevivem, ainda que marcados por tantas perdas.

Por Risla Miranda

Brilha os olhos quando fala de direitos humanos e se vê um dia programando games. Discutir numa mesa de bar acompanhada de uma cerveja bem lupulada é o paraíso. Criatividade vai desde meme a criar estratégias de ação de projetos. Curtindo o rolê de contar histórias através de dados.

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