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Wicked | Teste Arte Aberta no Oscar 2025

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Wicked: Parte 1, do diretor Jon M. Chu, foi indicado ao Oscar 2025 em 10 categorias: Filme; Atriz Principal (Cynthia Erivo); Atriz Coadjuvante (Ariana Grande); Edição; Som; Efeitos Visuais;  Cabelo e Maquiagem; Trilha Sonora; Figurino; e Direção de Arte.

A obra é uma adaptação do musical da Broadway de mesmo nome e centra sua história nos acontecimentos que antecederam O mágico de Oz. Muitos anos antes de Dorothy chegar à fantástica terra de Oz, já viviam lá muitas das personagens que ela viria a encontrar. Wicked foca especialmente na relação entre Elphaba, que viria a ser conhecida como a Bruxa Má do Oeste, e Glinda, a futura Bruxa Boa do Sul, quando ambas ainda eram estudantes na Universidade Shiz.

Inicialmente centrado em uma simplista dicotomia de “bem versus mal”, com a população comemorando a morte da famosa bruxa má, Wicked volta no tempo para explorar como tal personagem veio a se tornar tão odiada e temida. 

A seguir, analisamos o filme Wicked: Parte 1 com o nosso Teste Arte Aberta. Cabe destacar que há previsão de lançamento de outro filme que será continuação deste. A presente análise considera apenas o longa-metragem Wicked: Parte 1 e aplica o Teste Arte Aberta nesta obra de forma independente. Dessa forma, caso algo venha a mudar no desenvolvimento dos personagens em Wicked: Parte 2, não afetará esta análise.  

Para saber mais sobre o teste, confira o texto introdutório.

Sinopse

De acordo com a percepção do Arte Aberta evitando spoilers

Elphaba Thropp nasceu verde e, por causa disso, foi rejeitada pelo pai e sofreu preconceito de todos à sua volta. Quando ela tem a oportunidade de estudar feitiçaria na Universidade Shiz, chama atenção não apenas devido à cor de sua pele, mas também por possuir um evidente poder mágico, o qual ela se esforça para controlar. Ela passa a almejar conhecer o famoso e misterioso Mágico de Oz para que ele realize o seu maior desejo e para que, juntos, possam tornar o mundo um lugar melhor para todos. Mas Elphaba, aos poucos, descobre que coisas estranhas estão acontecendo em Oz e precisa decidir qual será o seu papel em meio a tudo isso. 

Ótica de gênero, raça e LGBTQIA+/PcD 

Apesar de Elphaba ser verde (tendo em vista que o filme se passa em um mundo de fantasia), há uma evidente associação à questão racial como ocorre no mundo real, com a protagonista sendo discriminada unicamente pela cor de sua pele. 

Desde a infância ela sofre preconceito por parte do pai, que se recusa a criá-la como filha devido à sua aparência, e das crianças do vilarejo, que cantam músicas ofensivas e insistem em insultá-la sempre que a encontram. Ao ir para a faculdade de feitiçaria, as coisas não são diferentes. Os colegas emitem frases prontas como “cor não importa”, mas têm aversão a ela e ninguém quer ser seu amigo ou se aproximar dela.

Em paralelo, Glinda é branca, loira, veste rosa dos pés à cabeça e encanta a todos com sorrisos e batidas de cabelo. Considerada modelo de beleza e perfeição, ela e Elphaba são apresentadas como opostos. Desde o primeiro instante, Glinda é vista como a concretização do que é bom, gentil, amável e desejável, enquanto Elphaba é vista como exótica, repulsiva e não digna de amor nem respeito. Mesmo quando elas se tornam amigas, ao invés de descobrir e valorizar os traços positivos de Elphaba, o objetivo da dupla passa a ser deixá-la parecida com Glinda para que possa ser aceita pela sociedade.

Apesar da pele de Elphaba ser de uma cor fantasiosa, foi considerada para esta análise que ela é uma personagem não branca e que esse é um fator tão relevante para a história que permite que ela seja analisada nos testes de representação relativos à raça. 

Além dela, a mais notória professora da Universidade Shiz é uma mulher não branca. Madame Morrible é interpretada por Michelle Yeoh, uma atriz asiática. Ela é admirada por todos devido à sua magia e ao fato de ser o braço direito do Mágico de Oz.

Na questão de gênero, além dessas duas mulheres poderosas, temos Glinda, que apesar de ainda não ter demonstrado possuir magia, tem grande poder de influência social, agregando e moldando as massas e direcionando opiniões, o que também é uma forma de poder. 

Um dos grandes pontos positivos da obra é justamente a amizade entre Elphaba e Glinda. Duas mulheres apresentadas como opostas e que inicialmente se odeiam, mas que aprendem a questionar essa rivalidade e a se olhar com gentileza. Mesmo quando seus objetivos são diferentes, elas conseguem se apoiar e fortalecer uma à outra.

Em determinado momento parece que a história giraria em torno de duas mulheres com inveja uma da outra. Glinda ansiando pela magia de Elphaba e esta triste por ver seu amor não correspondido nos braços da amiga. Mas Wicked: parte 1 passa longe disso. Por mais que tais sentimentos existam, o foco é muito maior nos laços positivos entre as duas. É bonito acompanhar os olhares sinceros e amorosos entre Glinda e Elphaba.

Como diz a futura Bruxa Boa, “rosa fica muito bem com verde”. E os espectadores se encantam com essa união. 

Além da evidente temática racial e da presença de mulheres fortes, o filme conta ainda com boa representação de pessoas com deficiência (PcD). Nessarose é irmã de Elphaba e é PcD. A personagem usa uma cadeira de rodas e sua história no filme suscita debates sobre capacitismo e imposição de ajuda.

Sobre representação LGBTQIA+, cabe destacar que os fãs de Wicked se posicionam bastante na internet em relação a um possível romance entre Glinda e Elphaba (o casal recebeu até um apelido: Gelphie). Muitos interpretam que a história entre elas deixa subentendido o início de um amor romântico. Mas para a presente análise foi considerado que a obra audiovisual não possui elementos suficientes para considerar as personagens como parte da comunidade LGBTQIA+. Ainda assim, há uma pequena representação LGBTQIA+ com Pfannee, um personagem secundário, amigo de Glinda, que parece tentar flertar de forma desajeitada com Fiyero quando ele chega na escola.

Representatividade de gênero, raça e LGBTQIA+/PcD

Direção e Roteiro*

* Classificação é feita de acordo com a declaração pública e disponível das pessoas LGBTQIA+/PcD e heteroidentificação de raça e gênero

A direção do filme é de Jon M Chu, um homem não branco. As roteiristas são Winnie Holzman e Dana Fox, duas mulheres brancas. Não foram encontradas informações sobre qualquer um deles ser LGBTQIA+ e PcD.

Dessa forma, a ficha técnica principal (direção e roteiro) é composta 33,3 % por pessoas não brancas, 66,6 % por mulheres, 0% PcD e 0% LGBTQIA+.

Elenco principal*

Créditos iniciais/finais

* Classificação é feita de acordo com a declaração pública e disponível das pessoas LGBTQIA+/PcD e heteroidentificação de raça e gênero

Essa é a primeira vez na história do musical, que já foi adaptado algumas vezes, em que a personagem Nessarose é interpretada de fato por uma atriz PcD, tanto a personagem adulta quanto a criança. Marissa Bode, que interpreta a irmã de Elphaba na idade adulta, é uma mulher não branca, queer e PcD.

De acordo com os créditos finais do filme, o elenco principal é composto por nove atores: Cynthia Erivo, Ariana Grande, Jonathan Bailey, Ethan Slater, Bowen Yang, Marissa Bode, Peter Dinklage, Michelle Yeoh e Jeff Goldblum.Dessa forma, o elenco é composto por 44,4 % de mulheres (Cynthia Erivo, Ariana Grande, Marissa Bode e Michelle Yeoh), 44,4 % de não brancos (Cynthia Erivo, Bowen Yang, Marissa Bode e Michelle Yeoh), 44,4 % LGBTQIA+(Cynthia Erivo, Jonathan Bailey, Bowen Yang e Marissa Bode) e 22,2 % de PcD (Marissa Bode e Peter Dinklage).

Representação

Mulheres

Presença (Bechdel-Wallace)

As mulheres têm nome? 

Se falam por mais de 60 segundos?

Sobre outro assunto que não seja homens? 

Aprovado.

Existem muitas conversas entre mulheres na obra, muitas delas como partes de canções (afinal, é um musical). As principais conversas ocorrem entre Elphaba e Glinda, que apesar de falarem sobre o Mágico de Oz e sobre Fiyero, também conversam sobre roupas, sobre como tornar Elphaba popular, sobre Oz, sobre a culpa que Elphaba sente em relação à irmã, dentre outros temas.

Além disso, ambas conversam com Madame Morrible. Elphaba sobre seus poderes e aulas de feitiçaria; e Glinda, que escuta da professora que não tem vocação para magia. As irmãs Elphaba e Nessarose também conversam sobre a vontade da caçula de começar do zero na escola nova e sobre Glinda, que ela acredita ser uma pessoa boa, apesar da resistência da irmã.

Arco Dramático (Mako-Mori) 

Tem mulher? 

Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de gênero?

Aprovado.

Elphaba tem arco dramático próprio e evolui de uma jovem insegura e que busca aprovação para alguém que sabe quem é, que se posiciona e que para de tentar mudar para satisfazer os demais. 

Essa transformação começa com a mudança de seu desejo para o Mágico de Oz. Ela tem direito a pedir que ele lhe conceda um desejo usando magia. Inicialmente pensa em pedir que ele transforme a cor de sua pele, para que deixe de ser verde e se adeque à sociedade que a exclui. Mas ao identificar o perigo que circunda os animais do reino, ela decide usar o seu desejo para garantir a segurança dos mais vulneráveis, deixando de lado sua transformação.

Posteriormente, ela descobre quem está cerceando os direitos dos animais e manipulando a população. Decide então que não pode compactuar com esse regime, por mais que isso lhe trouxesse aceitação, fama e segurança. Para não comprometer seus ideais, Elphaba foge e fica com a injusta fama de vilã.

Glinda também tem arco dramático próprio. Em determinado momento, é construída uma encruzilhada moral para a personagem. Ocorre uma cena “a la Carrie, a estranha”, muito comum em narrativas audiovisuais, quando uma personagem feminina é humilhada publicamente e todos se unem para rir dela. É nesse momento que Glinda demonstra que é mais do que a personagem superficial que parecia até então.

Enquanto Elphaba está no centro da pista de dança sendo alvo da zombaria dos colegas, algo que começou com a própria Glinda, a personagem fica verdadeiramente triste com o espetáculo. Ela se posiciona ao lado de Elphaba e encerra a comicidade do momento. As duas dançam juntas perante todos, se olhando com compreensão, tristeza pelo que acabou de acontecer e apoio. 

Como todos seguem Glinda, o que até então estava sendo visto como ridículo, passa a ser aceito e Elphaba recebe um “selo” de aprovação coletivo. Mas muito mais importante do que ser aceita pelos outros, esse momento é marcante por ser o primeiro encontro real entre Elphaba e Glinda, que passam a respeitar e valorizar uma à outra.Esse ponto de virada de Glinda é relacionado a um estereótipo de gênero que pressupõe a rivalidade feminina, mas acaba por combatê-lo ao invés de reforçá-lo.

Competência (Tauriel)

Houve mulher(es) com atividade profissional definida? 

Ela é competente na atividade?

Grau da Competência Caso a mulher seja competente, quão competentes elas são em sua atividade profissional (1 a 5 , sendo  1 – pouco competente e 5 – muito competente) 

Houve reconhecimento dessa competência?

Aprovado. 

Nota: 5

Srta Coddle é a diretora da Universidade Shiz e Madame Morrible é a reitora de feitiçaria, além de ser o braço direito do Mágico de Oz. Morrible é citada como uma grande feiticeira e os estudantes anseiam por ter aula com ela, que escolhe a dedo quais alunos terão a honra de tê-la como mentora.

Qualidade da representação – mulheres

Como é a representação das personagens mulheres (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 3

Por tudo que já foi descrito nos itens anteriores, tanto Elphaba quanto Glinda são mulheres bem construídas e que combatem estereótipos.

Raça

Arco dramático (Mako Mori)

Tem personagem não branco? 

Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de raça?

Aprovado.

Considerando que Elphaba é uma mulher não branca, vale a mesma análise apresentada acima no teste Mako Mori de gênero.

Qualidade da representação – raça

Como é a representação dos personagens não brancos (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 3

Tanto Elphaba quanto Madame Morrible são bem representadas e com pouquíssimos estereótipos.

LGBTQIA+

Arco dramático (Mako Mori)

Tem personagem LGBTQIA+? 

Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de LGBTQIA+?

Reprovado. 

Pfannee não tem arco dramático próprio, existindo apenas como “acessório de Glinda” e com a função de deixar evidente os julgamentos e preconceitos da população geral.

Qualidade da representação – LGBTQIA+

Como é a representação das personagens LGBTQIA+ (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 1

Pfannee representa um estereótipo clássico vinculado a personagens LGBTQIA+: o amigo da garota popular, que vive sob sua sombra, idolatrando-a e destilando veneno sobre os personagens excluídos. 

PcD 

Arco dramático (Mako Mori)

Tem personagem PcD? Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de PcD?

Reprovado. Apesar de sabermos que Nessarose passará por uma transformação e terá maior desenvolvimento na continuação da história, em Wicked: Parte 1 ela ainda não tem arco dramático próprio.

Qualidade da representação – PcD

Como é a representação das personagens PcD (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 3

Apesar de não ter arco dramático próprio, Nessarose é uma personagem complexa e bem construída. Ela deseja ser independente e ser vista para além de sua deficiência. 

Tanto seu pai quanto os funcionários da escola tratam-na de forma capacitista, com super proteção, como se ela fosse extremamente frágil. Assumem que sempre precisa de ajuda, mesmo quando ela verbaliza que não deseja interferência dos outros. Os colegas da mesma idade lidam com ela com pena, fazendo convites para sair e para dançar por assumir que ninguém mais convidaria e que ela ficaria triste. Suas interações com os demais acabam sendo todas centradas em sua deficiência, o que ela está ansiosa para mudar.

A única pessoa que a trata com respeito é sua irmã Elphaba. E mesmo assim, Nessarose se cala quando a irmã é alvo de preconceito e permite que ela seja humilhada e excluída sem se posicionar. Nessarose sente vergonha da irmã e se ressente por achar que a má fama de Elphaba vai afetá-la. Apesar de receber carinho e apoio da irmã, sua vontade de ser aceita e de provar sua independência fala mais alto.

Isso torna a personagem complexa e multidimensional, fugindo do estereótipo de personagem PcD que costuma ser desenvolvido como bonzinho, vítima e digno de pena.

Resumo do Teste Arte Aberta

Representatividade

Representação

Estrelas Arte Aberta: 2,5

Por Luciana Rodrigues

É formada em Audiovisual e em Letras Português. Uma brasiliense meio cearense, taurina dos pés à cabeça, apaixonada pela UnB, por Jorge Amado e pelo universo infantil. Aprecia o cult e o clichê, gosta de Nelson Pereira dos Santos e também gosta de novela. E, apesar de muitos dizerem o contrário, acha que essa é uma ótima combinação.

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