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Precisamos falar do assédio | Crítica

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Precisamos falar do assédio expõe as diversas formas de violência contra a mulher

Pai, padrasto, marido, primo, namorado, pastor, pai de santo, médico, professor, amigo, amigo-da-galera, desconhecido. Na infância, adolescência ou na vida adulta. Não há regra. O que há são mulheres violentadas – moral e/ou fisicamente. Traumas quase insuperáveis. Ensinamentos de que o calar era mais importante do que o falar. Foi assim mesmo? Tem certeza? O que VOCÊ fez?

São 26 mulheres na tela. 26 histórias de arrepiar. Do olhar indesejado ao estupro. Mulheres que resolveram contar suas histórias. O documentário “Precisamos falar do assédio”, de Paula Sacchetta, é na verdade um recorte de um projeto maior que recebeu mulheres em uma van-estúdio, de 7 a 14 de março de 2016, em nove locais em São Paulo e no Rio de Janeiro. Sozinhas no estúdio móvel, as mulheres relataram os assédios que passaram. 140 resolveram falar – com a opção de mostrar o rosto ou usar máscaras, que representavam medo, vergonha, raiva ou tristeza.

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“Poderíamos chamar as mulheres para falar aqui mesmo, em uma sala fechada dentro da produtora. Mas decidimos fazer um estúdio móvel, uma van que circulasse por diferentes lugares para colher esses depoimentos pela cidade, sem pesquisa prévia, para que fosse também uma campanha: precisamos falar do assédio”, afirma a diretora, no site do filme.

Os vídeos podem ser acessados pelo portal do projeto – e pesquisados por tipo de assédio, quem assediou, onde aconteceu e quando aconteceu. É possível, inclusive, que novos depoimentos sejam enviados.

Porém, o que torna o filme tão necessário é simplesmente apresentar que o assédio não é pontual. Não é exagero falar da cultura do estupro. Vivemos nela. O documentário mostra o poder de romper o silêncio. As mulheres falam diretamente para a câmera, em close, e nós espectadores encaramos esses relatos de frente. Nos identificamos diretamente ou com histórias próximas a nós. “Escolhemos a palavra assédio para que ela pudesse abarcar do mais simples fiu-fiu, que escutamos na rua todos os dias, até os casos das violências mais perversas”, explica Paula Sacchetta.

A diretora Paula Sacchetta esteve à frente também do documentário Verdade 12.528, sobre a comissão nacional da verdade e lançou, em 2014, Quanto mais presos, maior o lucro, curta documental sobre a chegada das penitenciárias privadas ao brasil.

Para romper absurdos

Em setembro de 2016, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgou pesquisa mostrando que 85% das mulheres brasileiras afirmam ter medo de sofrer violência sexual. Os dados justificam esse sentimento. Em 2014, foram registrados 47.646 casos de estupro em todo o país. Isso significa um estupro a cada 11 minutos. Esses dados podem ser, na realidade, ainda muito maiores, pois, a maioria das pessoas que sofrem violência sexual não registram denúncia na polícia.

A pesquisa mostrou, ainda, que 42% dos homens concordam com a afirmação de que “Mulheres que se dão ao respeito não são estupradas”, ou seja, culpam a própria vítima pela violência que sofrem. Quando se fala nas roupas que as vítimas de violência usavam, a pesquisa apresenta que para 1/3 dos brasileiros a mulher que é agredida sexualmente é, de alguma forma, culpada pela agressão sofrida se opta por usar certas peças de roupa.

Ao assistir ao filme de Paula Saccheta é impossível não romper com esses tipos de pensamentos, quando escutamos histórias tão diversas, mas que têm no agressor a violência e a dominação – e nunca na vítima!

[vimeo 178206612 w=640 h=272]

Precisamos Falar do Assédio – Trailer de mira filmes no Vimeo.

Por Lina Távora

É uma cearense que mora em Brasília, jornalista fora da redação, mestre em comunicação/cinema, feminista em construção, mãe com todo o coração e tem no audiovisual uma paixão constante e uma fé no seu impacto para uma mudança positiva na sociedade.

2 respostas em “Precisamos falar do assédio | Crítica”

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