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Elas no Oscar 2020: O irlandês | Testes de representação e representatividade

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Iniciamos os testes de representação e representatividade das mulheres no Oscar 2020, a partir da análise dos indicados à categoria de Melhor Filme.

No ano passado, o Oscar teve pela primeira vez um filme da Netflix concorrendo em sua categoria principal. Em 2020, a plataforma de streaming dobrou a meta, apresentando dois longas-metragens na categoria de Melhor Filme: O irlandês e História de um casamento.

O irlandês, do diretor Martin Scorsese, recebeu 10 indicações na 92ª edição do Oscar: Melhor filme (Martin Scorsese, Robert De Niro, Jane Rosenthal e Emma Tillinger Koskoff, todos produtores do longa); Ator coadjuvante (Al Pacino e Joe Pesci); Direção (Martin Scorsese); Roteiro adaptado (Steven Zaillian); Fotografia (Rodrigo Prieto); Efeitos visuais (Pablo Helman, Leandro Estebecorena, Nelson Sepulveda-Fauser e Stephane Grabli); Figurino (Sandy Powell e Christopher Peterson); e Montagem (Thelma Schoonmaker).

São 16 profissionais indicados pelo filme e apenas quatro deles, mulheres. Apesar do número ínfimo, duas delas têm a chance de bater recordes este ano. Se Sandy Powell for premiada, se tornará a terceira figurinista viva a ganhar quatro Oscars, compondo o seleto grupo ao lado de Milena Canonero e Collen Atwood. Sandy Powell já recebeu o prêmio por Shakespeare apaixonado (1998), O aviador (2004) e A jovem Victoria (2009).

Thelma Schoonmaker

A montadora argelina Thelma Schoonmaker está atualmente empatada com os profissionais Ralph Dawson, Daniel Mandell e Michael Kahn, cada um com três estatuetas de Melhor Montagem. Se Thelma vencer este ano por O irlandês, ultrapassará todos eles e se tornará a montadora, dentre homens e mulheres, mais premiada da história do Oscar.

Ela trabalha há 30 anos com o diretor Martin Scorsese e montou todos os seus filmes desde a década de 80. Seus prêmios anteriores foram por Touro indomável (1980), O aviador (2004) e Os infiltrados (2006).

O filme mais caro (US$ 175 milhões) e mais longo (3h30) de Scorsese é baseado em uma história real e foi maturada pelo diretor por mais de uma década antes de sair do plano das ideias. O roteiro foi adaptado do livro I heard you paint houses, de Charles Brandt, e conta uma história ao longo de três décadas. Por esse motivo, o filme utilizou técnicas de rejuvenescimento facial (de-aging) em seus atores.

Sinopse geral do filme

De acordo com a percepção do Arte Aberta evitando spoilers

Frank Sheeran é um veterano de guerra que trabalha como motorista de caminhão. Ao realizar entregas de carnes, ele conhece nomes importantes da máfia (como Russel Bufalino, Angelo Bruno, Anthony Salerno e Anthony Provenzano, todos personalidades reais). Com o tempo, vai se aproximando de alguns dos mais importantes dentre eles e sendo tragado para uma vida de violência e ilegalidade.

Gif de Frank em O irlandês

Em determinado momento, ele precisa trabalhar com o líder sindical Jimmy Hoffa, figura de extremo destaque nos EUA, tornando-se parte importante de sua história.

Cabe mencionar que a história do personagem Jimmy Hoffa já havia sido adaptada para o cinema em 1992, com Jack Nicholson no papel que hoje é de Al Pacino.

A ótica das mulheres

O filme é inquestionavelmente dominado pelos personagens masculinos. As mulheres têm papéis completamente secundários e diálogos mínimos. As que “mais se destacam” são Irene e Mary, primeira e segunda esposas de Frank; Carrie, esposa de Russel; Josephine, esposa de Jimmy; e Peggy, filha de Frank e Irene.

E é exatamente assim que são trabalhadas ao longo da obra, apenas como esposas e filhas. Não sabemos nada sobre suas histórias e elas só existem para reagir aos homens. Enquanto Carrie está ciente do trabalho de Russel e o apoia, Peggy sente medo do pai e Josephine atua como laranja nos negócios do marido.

Elas aparecem em pouquíssimas oportunidades e poderiam facilmente ser descartadas da história. O único objetivo de inseri-las no filme é mostrar os personagens masculinos em sua vida pessoal.

Peggy criança em O irlandês

Representatividade feminina na ficha técnica

Direção, Roteiro, Produção, Produção executiva, Direção de fotografia, Direção de arte, Figurino, Trilha sonora, Edição de som, Mixagem de som, Edição, Efeitos especiais e Maquiagem.

Levando em conta as funções elencadas acima, O irlandês possui apenas 20% dos cargos ocupados por mulheres. São elas: as produtoras Jane Rosenthal, Emma Tilinger Koskoff e Gabriele Israilovici; a figurinista Sandy Powell; a montadora Thelma Schoonmaker; e a maquiadora Nicki Ledermann.

Cabe destacar que, apesar de poucas, quatro delas estão indicadas no Oscar 2020.

Representatividade feminina no elenco principal

Créditos finais

Tendo como base os créditos finais do filme, foram identificados 20 nomes de destaque no elenco. Dentre eles, 15 homens e cinco mulheres (Anna Paquin, Stephanie Kurtzuba, Kathrine Narducci, Marin Ireland e Welker White), o que totaliza 25% de presença feminina. Cabe destacar que, mesmo estando presentes no filme, sua participação (tempo de tela e relevância dramática) é muitíssimo menor do que 25%, se comparada aos personagens masculinos.

Bechdel-Wallace

As mulheres têm nome? Se falam? É sobre homem?

Aprovado. 

O irlandês passa no teste por pouco, devido a uma única conversa entre Irene e Carrie, que dentro de uma loja decidem o que comprar de presente para o casamento a que vão. Uma delas sugere dar uma colher de bebê e a outra descarta a ideia dizendo que o casal ainda não tem filhos.

 Irene e Carrie em O irlandês

Mako-Mori

Tem mulher? Tem arco dramático? É apoiado no arco do homem?

Reprovado. 

Apesar do filme ter personagens mulheres, elas não têm arco dramático próprio, não têm falas significativas, nem ações e surgem na história apenas como pano de fundo para retratar as famílias dos personagens masculinos.

Peggy em O irlandês

Tauriel

Tem mulher? Ela só está na trama para ser par romântico/possui competência em algo?

Reprovado. 

A maior parte das mulheres só participa do filme como esposas e filhas, reagindo às ações dos homens com medo, chateação ou apoio. Elas não têm nenhuma competência, ao contrário de seus pais e maridos. A única personagem com alguma competência é a enfermeira que mede a pressão de Frank, mas o espectador não sabe seu nome, nem nada de sua história, só que é uma profissional exercendo seu trabalho em uma cena pequena. Por esse motivo, sua presença não foi considerada suficiente para alterar o resultado do teste. 

Frank e suas filhas em O irlandês

Barnett

Tanto homens quanto mulheres falam entre si só sobre o sexo oposto? Os personagens masculinos têm comportamento atrelado à violência que trate como humor/falta de seriedade/normal/aceitável/como se alguém merecesse a violência?

Reprovado. 

Tanto mulheres quanto homens falam entre si sobre assuntos que não sejam o sexo oposto. Porém, os homens têm diversos comportamentos atrelados à violência, sendo considerados comuns e rotineiros. Além de diversos assassinatos normalizados no dia a dia no âmbito profissional, o protagonista resolve problemas pessoais também com violência.

Em uma cena em que o personagem de De Niro se confessa, ele admite ao padre não sentir remorso por nenhuma de suas ações violentas. Anteriormente ele menciona que apenas segue ordens, como quando estava no exército, não se preocupando com nenhuma delas. A violência é algo normal para todos os personagens masculinos e faz parte de sua rotina.

Frank em um ato de violência em O irlandês

Resumo dos testes de representação e representatividade em O irlandês

Representatividade feminina na ficha técnica20% dos principais cargos ocupados por mulheres
Representatividade feminina no elenco principal25% de presença feminina no elenco principal
Bechdel-WallaceAprovado
Mako-MoriReprovado
TaurielReprovado
BarnettReprovado

Por Luciana Rodrigues

É formada em Audiovisual e em Letras Português. Uma brasiliense meio cearense, taurina dos pés à cabeça, apaixonada pela UnB, por Jorge Amado e pelo universo infantil. Aprecia o cult e o clichê, gosta de Nelson Pereira dos Santos e também gosta de novela. E, apesar de muitos dizerem o contrário, acha que essa é uma ótima combinação.

3 respostas em “Elas no Oscar 2020: O irlandês | Testes de representação e representatividade”

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