WandaVision chegou com a promessa de ser uma série para matar um pouco a saudade do universo Marvel após os eventos do filme Avengers: Endgame. Muito pouco se sabia sobre a série, na verdade, especulações começaram a surgir, trailers e outros tipos de divulgação oficiais e não oficiais. Eu sabia que a forma da narrativa não seria exatamente como a dos filmes de ação da Marvel, mas talvez lá no fundo estava esperando aquela ação de explosão, com muitos socos e piadinhas, típico da Marvel – só que dessa vez com personagens mulheres em evidência. Porém encontrei algo que não estava esperando: mistérios, narrativa lenta e luto.
Os primeiros episódios de WandaVision podem até ser entediantes para aqueles que estavam esperando muita ação. A minha sensação era de que todo aquele arranjo de uma homenagem às comédias que perpassam desde os anos 1950 até chegar aos anos 2000 escondia um porto seguro de Wanda e de Vision. Mal sabia eu que na verdade a relação afetiva de Wanda com as comédias a lembravam da alegria que sentia em estar junto a sua família.
Os mistérios envolvidos no início da série servem para instigar não só o porquê daquela narrativa que parece sem pé nem cabeça, mas também para adentrar em uma fantasia de Wanda com a família perfeita que gostaria de ter tido. Parece que Wanda é perseguida pela morte das pessoas que ama: seus pais morreram quando ainda era uma criança, Pietro, seu irmão gêmeo, é morto pelo vilão Ultron e Vision pede a ela que o mate para que Thanos não pegue a jóia do infinito – não adiantou, mesmo destruindo a jóia e o corpo de Vision, Thanos volta no tempo e mata Vision na frente de Wanda.
Wanda e Vision não tiveram tanto tempo juntos, precisaram se esconder para mantê-lo vivo. O amor entre os dois foi se fortalecendo e Wanda teve que lidar com a morte mais uma vez, em circunstâncias tão complicadas, não tendo tempo para o luto e sentindo o fracasso de proteger o mundo. A culpa e o luto sobrecarregaram uma mulher que tinha perdido a família e estava redescobrindo o pertencimento, buscando um espaço seguro no qual pudesse se alinhar à justiça.
Não houve luto permitido à Wanda, não pôde ter acesso ao Vision depois de morto. A solidão de Wanda parece ser a constante, após a morte de Pietro. Com tanto poder dentro de si, o luto veio na forma da criação de uma realidade na qual poderia viver tudo aquilo que não foi permitido viver com Vision. Em uma casa no subúrbio, Wanda e Vision estão casados, têm filhos, dão jantar para o chefe, participam de eventos na cidade e tantas outras situações presentes na rotina de uma família comum.
A dor de Wanda foi tão insuportável que precisou sair de dentro de si para construir outra realidade. O luto da personagem saiu do controle, então, as instituições do lado de fora da realidade criada por Wanda entendem que precisam dominá-la. O luto de uma mulher – de uma super heroína – não pode ser dessa maneira, por isso exige ser contido. É possível perceber, então, que além de criar uma realidade em alguns bons raios de quilômetros, Wanda controlava as pessoas desconhecidas ao seu redor para interpretar um papel que centrava a sua família com Vision como principal. Wanda não é compreendida! Apenas Monica Rambeau (guardem o nome dessa personagem com muito carinho!) aposta em uma intervenção que leve em consideração tudo que Wanda teve que lidar nos últimos anos, em especial a morte de Vision.
Wanda não compreende que está fazendo mal àquelas pessoas, na verdade nem sabe ao certo como criou aquilo tudo. É nesse momento que a ação começa a florescer em WandaVision e vemos surgir uma Wanda com um poder cru, com a possibilidade de descobrir a si mesma. A vilandade, que é parte de uma narrativa para construir Wanda como um perigo, é questionada pela humanização da personagem.
A Feiticeira Escarlate finalmente se liberta, e com ela a percepção de Wanda de que aquela realidade a aprisiona em uma situação na qual não a ajuda a lidar com o luto e com a saudade daquilo que não viveu com Vision. A minha torcida é para que Wanda encontre uma forma de estar próxima de Vision, voltando ou não à realidade que criou, de uma forma segura e mais pensada. Quem sabe?