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Elas no Oscar 2021: Meu pai | Testes de representação e representatividade

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Meu pai

Meu Pai é o primeiro filme dirigido pelo autor e dramaturgo francês Florian Zeller, baseado em uma de suas peças de maior sucesso “Le Père”, de 2012. O filme está concorrendo em seis categorias nessa edição do Oscar: Filme, Ator Principal (com Anthony Hopkins), Atriz Coadjuvante (com Olivia Colman), Roteiro Adaptado, Direção de Arte e Edição.

O roteiro foi adaptado pelo próprio diretor junto com Christopher Hampton, e foi pensado desde o começo para ser protagonizado pelo ator Anthony Hopkins (o nome do personagem principal é, inclusive, Anthony). Anthony é um senhor de 83 anos que desenvolveu um quadro de demência, mas se recusa a receber ajuda tanto das cuidadoras quanto de sua filha, Anne (Olivia Colman).

Destaco ainda o trabalho de edição (Jorgos Lamprinos) e de direção de arte (Peter Francis e Cathy Featherstone), dois fatores muito importantes para compreender o filme. A obra apresenta uma narrativa não-linear, que causa propositalmente confusão em quem assiste. Além disso, também contribui para essa confusão a modificação de elementos no set de filmagem, pequenas modificações que vão aos poucos tornando o ambiente familiar em um lugar desconhecido.

Sinopse geral do filme

De acordo com a percepção do Arte Aberta evitando spoilers

É um pouco difícil fazer uma sinopse desse filme evitando spoilers, mas vamos lá. O filme apresenta a história de como Anthony lida com o desenvolvimento de sua demência. Sua filha, Anne, busca uma cuidadora para acompanhar o pai e se frustra constantemente com a teimosia dele, que é em alguns momentos carismático, mas em outros agressivo e até mesmo cruel, antagonizando com as cuidadoras e com sua própria filha. 

A ótica das mulheres

O ponto principal do filme é, sem dúvida, a atuação magistral de Anthony Hopkins. A escolha do diretor de contar a história do ponto de vista do pai, permite que possamos nos perder junto com Anthony em sua jornada, experimentando as mesmas sensações de confusão e, eventualmente, de realização da sua condição ali, junto com o personagem. Apesar disso, não é possível apagar a importância de sua filha, Anne, vivida por Olivia Colman (e em um breve momento por Olivia Williams), para o desenvolvimento narrativo e emocional da história.

Anne apresenta um contraponto para a história, buscando cuidar de seu pai, encontrar uma nova cuidadora (Imogen Poots / Olivia Williams), lidar com seu marido Paul (Rufus Sewell / Mark Gatiss) e, por fim, buscar uma nova vida em Paris. Além das movimentações que a personagem causa na história, Anne também experimenta e nos comunica sensações de frustração, carinho, cuidado, cansaço e raiva, que complementam e impactam a história.

Além de Anne, o filme conta com algumas outras personagens mulheres em papéis mais secundários. Temos a cuidadora Laura (Imogen Poots / Olivia Williams), a outra filha de Anthony, Lucy (Imogen Poots), que surge em alguns momentos como flashback ou lembrança, a cuidadora Catherine (Olivia Williams) e a médica Dra. Sarai (Ayesha Dharker). 

Representatividade feminina na ficha técnica

Direção, Roteiro, Produção, Produção executiva, Direção de fotografia, Direção de arte, Figurino, Trilha sonora, Edição de som, Mixagem de som, Edição, Efeitos especiais e Maquiagem.

Tendo em vista as funções elencadas acima, restritas aos chefes de equipe e/ou pessoas que estão concorrendo ao Oscar, foram identificados 26 profissionais. Apenas 5 são mulheres: Nadia Stacey (maquiagem e cabelo), Anna Mary Scott Robbins (figurino), Cathy Featherstone (decoradora de set, uma das nomeadas ao Oscar de Direção de Arte), Lauren Dark (produtora executiva) e Alice Dawson (co-produtora).

Meu Pai conta com apenas 19,23% de representatividade feminina em cargos-chave. 

Representatividade feminina no elenco principal

Créditos iniciais

A situação é um pouco diferente quando se trata do elenco principal do filme. De acordo com os créditos iniciais, são destacados três homens e três mulheres no elenco principal. São eles: Anthony Hopkins, Olivia Colman, Mark Gatiss, Imogen Poots, Rufus Sewell e Olivia Williams. Dessa forma, o filme conta com 50% de representação feminina no elenco principal.

Bechdel-Wallace

As mulheres têm nome? Se falam? É sobre homem?

Aprovado.

Apesar da presença de Anthony em quase todas as cenas do filme, há alguns momentos em que ocorre um diálogo entre duas mulheres. Anne conversa com Laura no seu primeiro dia de trabalho, como cuidadora de Anthony. Ao final dessa conversa, e após Anthony se mostrar um pouco agressivo, Anne e Laura conversam sobre a situação em que se encontram, sem mencionar especificamente Anthony. Em outro momento, ao final da consulta médica de Anthony com a Dra. Sarai, a médica e Anne conversam por um momento, distantes de  seu pai. A Dra. Sarai se coloca à disposição para atender Anne caso ela se veja em uma situação angustiante e precise de ajuda.  

Mako-Mori

Tem mulher? Tem arco dramático? É apoiado no arco do homem?

Reprovado.

Na verdade, esse teste é um pouco complicado e injusto quando se trata desse filme. Anne parte de uma condição de cuidado e tem, dessa forma, a figura de Anthony como seu dependente. Ao mesmo tempo, Anne se vê por vezes frustrada e presa por estar nessa situação. Sua relação com Paul, seu marido, também é confusa (nesse caso, vemos a relação dos dois somente a partir do ponto de vista de Anthony, então sabemos muito pouco sobre suas intimidades). 

Embora o filme dê importância para o que Anne sente, as suas motivações e emoções são geradas pelo relacionamento dela com o próprio pai. Dessa forma, seu arco dramático pode ser visto como apoiado no arco dramático de Anthony.

Tauriel

Tem mulher? Ela só está na trama para ser par romântico/possui competência em algo?

Aprovado.

Existem quatro mulheres no filme, e nenhuma está presente na trama para ser par romântico de ninguém. Quanto às competências, Laura e Catherine são cuidadoras, sendo que em diversos momentos é dito que Laura é uma ótima profissional. Além disso, a Dra. Sarai é médica e realiza o acompanhamento de Anthony, em determinado momento Anne busca sua ajuda. 

Barnett

Tanto homens quanto mulheres falam entre si só sobre o sexo oposto? Os personagens masculinos têm comportamento atrelado à violência que trate como humor/falta de seriedade/normal/aceitável/como se alguém merecesse a violência?

Aprovado.

Como dito anteriormente, Anne e Laura conversam entre si sobre amenidades e sobre a relação de trabalho de Laura em relação à Anthony. Anthony e Paul conversam sobre diversos assuntos, e Anthony também conversa com Laura, Anne e Catherine sobre sua vida, suas preocupações, seu passado e outros assuntos.

SPOILER ABAIXO

Em relação à violência, há apenas uma cena em que Paul agride Anthony. Apesar do filme não mostrar se Anthony contou ou não sobre a agressão para Anne, a cena é carregada de sofrimento e dor, não somente física, mas também psicológica e emocional. Não há falta de seriedade, humor ou qualquer possibilidade de encarar essa cena como normal ou aceitável, diante do sofrimento de Anthony. 

Resumo dos testes de representação e representatividade de Meu pai

Representatividade feminina na ficha técnica: 19,23%
Representatividade feminina no elenco principal: 50%
Bechdel-Wallace:Aprovado
Mako-Mori: Reprovado
Tauriel: Aprovado
Barnett: Aprovado

Por Rafael Maximiniano

Historiador por formação, ainda não encontrou o trabalho perfeito em que só precise ler e assistir obras de ficção científica e fantasia durante o dia todo. Gamer nas horas vagas e viciado em café, bem antes de surgirem aqueles memes ridículos de minions no facebook falando “Não converse comigo antes do meu café”.

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