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A Substância | Teste Arte Aberta no Oscar 2025

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O filme A Substância, da diretora Coralie Fargeat, foi indicado em cinco categorias no Oscar 2025: Filme, Direção, Roteiro Original, Atriz Principal (Demi Moore) e Cabelo e Maquiagem. O filme é a única obra dirigida por mulher indicada à categoria de Melhor Filme no Oscar 2025, além de Coraline Fargeat ser a única diretora a concorrer ao prêmio de Melhor Direção.

O longa-metragem recebeu a Palma de Ouro em 2024 e no Globo de Ouro levou 5 premiações: Melhor Filme Cômico ou Musical, Melhor Direção, Melhor Roteiro de Cinema, Melhor Atriz em Comédia ou Musical e Melhor Atriz Coadjuvante em Comédia ou Musical.

O filme é um body horror digno de fechar os olhos – não só para as cenas gráficas com assustadores efeitos visuais, mas também para respirar fundo ao assistir a um mundo no qual a validação dos homens é a única forma de ascensão profissional. A narrativa de Coralie Fargeat é mais do que visual, é sonora e também social, política. Há muita referência a um mundo que, mesmo na ficção, continua a ser dominado pelos homens. 

Para além de um filme de terror – o que nem sempre vemos nas principais categorias do Oscar -, A Substância eleva o body horror a uma forma de contar a história do envelhecimento de mulheres e como não basta “estar bem consigo mesma” em uma sociedade que ensina mulheres a odiarem a si mesmas e a buscar padrões irreais como forma de validação. A busca por um outro eu mais novo, mais bonito, mais padrão (branco e cisheteronomativo) não deve ser apenas uma responsabilidade subjetiva que se alcança com terapia, de modo particular, e sim entender que envolve toda uma estrutura que suporta o ódio a mulheres. A seguir, analisamos o filme A Substância com o nosso Teste Arte Aberta.

Para saber mais sobre o teste, confira o texto introdutório.

Sinopse

De acordo com a percepção do Arte Aberta evitando spoilers

Elisabeth Sparkle (Demi Moore) é uma atriz que tem seu próprio show de TV há uns bons anos. Harvey (Dennis Quaid), um dos executivos e produtores da emissora de TV na qual Sparkle tem contrato, decide demiti-la por ser velha demais. Ao atingir um momento na sua carreira que depende de ser jovem de novo, Sparkle decide participar da experiência de um produto chamado A SUBSTÂNCIA para ter uma nova versão de si mesma: mais jovem, mais bonita, mais ousada.

Ótica de gênero, raça e LGBTQIA+/PcD 

O filme é centrado em Elisabeth Sparkle e em sua nova versão criada durante a experiência usando A SUBSTÂNCIA. A nova versão se chama Sue (Margaret Qualley) e, após vir basicamente das costelas de Elisabeth – tal qual Eva na bíblia cristã -, consegue alçar uma carreira de sucesso na televisão que, certamente, não seria possível para Elisabeth. 

As cenas do filme, propositalmente, transitam entre o jovem, o bonito, a pele novinha e o velho, o grotesco, o pesadelo. Sue aparece bastante de maiô, roupas coladas ou curtas, maquiagem em abundância. Ela é o que as pessoas querem, já que apenas assim para amarem essa figura televisiva. 

Por outro lado, Elisabeth é cada vez mais empurrada para o esquecimento e para a solidão. Não consegue mais se ver no espelho, não se acha mais bonita, já existe Sue para alavancar seus sonhos de ascensão profissional.   

Apenas as personagens mulheres Elisabeth e Sue possuem tempo de tela, nome, diálogos. Apesar disso, Harvey é quem fala mais. Para mim, é mais uma construção narrativa de Fargeat para demonstrar que as mulheres estão ali apenas para satisfazer o que os homens querem, já que os executivos e produtores da emissora de TV que aparecem são todos homens, brancos e mais velhos. São eles que falam que “tudo está no lugar” ao medir fisicamente as mulheres e também que dizem que “as pessoas sempre pedem por algo novo”.

Assim, a narrativa do filme foca no envelhecimento de mulheres e em como isso impacta sua vida profissional e pessoal. O filme mostra pele e mostra o corpo, não só de Sue, mas também de Elisabeth, com todos os caminhos naturais de envelhecimento em um corpo de mulher cis. 

É impactante como o body horror combinou com a crítica social e política de corpos de mulheres que envelhecem. O filme é desconfortável não só pelas cenas de horror, mas também pelo male gaze constante e pela forma como Elisabeth vai se diminuindo, enquanto Sue atinge seu ápice profissional.

O núcleo principal de personagens é composto por pessoas brancas, sem deficiência e, ao que tudo indica, heterossexuais. Portanto, no filme não há representação de pessoas LGBTQIA+, não brancas ou PcD.

Representatividade de gênero, raça e LGBTQIA+/PcD

Direção e Roteiro*

* Classificação é feita de acordo com a declaração pública e disponível das pessoas LGBTQIA+/PcD e heteroidentificação de raça e gênero

A direção e o roteiro do filme são de Coralie Fargeat. Coralie nasceu na França e não há nada público sobre sua sexualidade.

Dessa forma, a ficha técnica principal (direção e roteiro) é composta 0% por pessoas não brancas, 100% por mulheres, 0% PcD e 0% LGBTQIA+.

Elenco principal*

Créditos iniciais/finais

* Classificação é feita de acordo com a declaração pública e disponível das pessoas LGBTQIA+/PcD e heteroidentificação de raça e gênero

O filme é centrado em Elisabeth e em Sue. Harvey aparece em alguns momentos, tomando o maior tempo de diálogo, mas não de tela. Apenas os três aparecem nos créditos finais em destaque. Demi Moore e Margaret Qualley são mulheres brancas e estadunidenses. Dennis Quaid é homem branco e também é dos Estados Unidos.

Assim, temos duas mulheres brancas e um homem branco. Não encontramos nenhuma fala pública ou oficial sobre o elenco ser LGBTQIA+ e PcD. Dessa forma, o elenco é composto por 66,6% de mulheres, 100% de brancos, 0% LGBTQIA+ e 0% de PcD.

Representação

Mulheres

Presença (Bechdel-Wallace)

As mulheres têm nome? 

Se falam por mais de 60 segundos?

Sobre outro assunto que não seja homens? 

Reprovado.

Apesar do filme ter o maior tempo de tela para Elisabeth e Sue, esta última é alter ego da primeira, criada a partir da experiência de A SUBSTÂNCIA. Portanto, não há diálogos extensos entre elas – até pela própria proposta da narrativa. Não há outra personagem feminina de destaque e, mesmo dentre as mulheres que existem, não há conversas. Quem fala mais no filme, para adicionar desconforto à narrativa, é Harvey.

Arco Dramático (Mako-Mori) 

Tem mulher? 

Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de gênero?

Aprovado.

Elisabeth e Sue, como dita a propaganda da SUBSTÂNCIA, são uma só. São pessoas diferentes, mas compartilham sonhos, memórias – ainda que não tão claras -, uma casa e um espelho. Elas estão ligadas e sofrem, ainda que de maneira diferente, devido a um mundo construído por homens e para homens. Então, apesar de serem a mesma pessoa, ainda são pessoas diferentes e cada uma tem seu próprio arco dentro desse mundo desconfortável, violento, colorido e cheio de male gaze.

O final, para as duas, é trágico e monstruoso. Há ascensão e decadência das duas. Há violência, há questionamento, há diversos sentimentos humanos pautados em uma sociedade que objetifica e pune mulheres. Então Elisabeth e Sue perpassam por diversos percalços para, no fim, virarem aquilo em que a sociedade de homens brancos as transformou. 

Os estereótipos de gênero como “mulheres devem sorrir” ou “beleza dita a competência” são utilizados de forma satírica e crítica. Diante disso, há arcos dramáticos próprios tanto de Elisabeth como de Sue, utilizando da estética do body horror para questionar padrões, validade de si por homens e objetificação de mulheres.

Competência (Tauriel)

Houve mulher(es) com atividade profissional definida? 

Ela é competente na atividade?

Grau da Competência Caso a mulher seja competente, quão competentes elas são em sua atividade profissional (1 a 5 , sendo  1 – pouco competente e 5 – muito competente) 

Houve reconhecimento dessa competência?

Aprovado. 

Nota: 3

Elisabeth escuta Harvey falando no banheiro com os demais executivos sobre sua demissão, sob o argumento de que ela está velha para o que a emissora de TV quer. Harvey inclusive diz que não sabe como ela conseguiu permanecer até então e parece uma espécie de caridade ela estar ali. A validação da competência profissional de mulheres se dá através da juventude e de uma beleza padrão de mulheres brancas.

Sue utiliza da memória de Elisabeth – de alguma forma – para alavancar sua trajetória profissional como dançarina e apresentadora do programa de TV que em um momento foi de Elisabeth. Entretanto, não há tantos elementos que corroborem para uma efetiva competência de Elisabeth e Sue. A própria narrativa obscurece essa análise através do male gaze, ainda que seja possível identificar alguns elementos de competência. 

Então fica a dúvida (proposital): elas são boas profissionais ou estavam à frente de um programa de TV por serem bonitas? Essa pergunta é importante para a própria história contada no filme e, levando em consideração os elementos da própria narrativa, a nota deste item fica em 3.

Qualidade da representação – mulheres

Como é a representação das personagens mulheres (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 3

Tanto Elisabeth quanto Sue estão bem representadas no filme e, ainda que a narrativa utilize artifícios de estereótipo para atingir a crítica, há profundidade nessas personagens. Durante o filme percebemos que há ambição das duas personagens para alcançar uma carreira na TV, mas isso tudo perpassando por validação constante de homens brancos, já que são eles que possuem o poder para marcar o que é bom ou não para a sociedade.

É possível perceber a busca constante por afeição e por validação. Talvez fosse possível dar alguns outros elementos de profundidade para além do que nos é mostrado por Elisabeth, já que passamos tantos momentos no ambiente íntimo de sua casa. Ainda assim, essa busca incessante por validação é o mote da narrativa, mas isso não é relegado a um mero traço subjetivo das personagens, já que há toda uma estrutura social-política que corrobora e que fortalece para aprisionar mulheres em um determinado lugar.

Raça

Arco dramático (Mako Mori)

Tem personagem não branco? 

Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de raça?

Reprovado.

Não há papéis de destaque de pessoas não brancas.

Qualidade da representação – raça

Como é a representação dos personagens não brancos (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 0

Não há papéis de destaque de pessoas não brancas.

LGBTQIA+

Arco dramático (Mako Mori)

Tem personagem LGBTQIA+? 

Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de LGBTQIA+?

Reprovado. 

Não há representação LGBTQIA+ no filme.

Qualidade da representação – LGBTQIA+

Como é a representação das personagens LGBTQIA+ (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 0

Não há representação LGBTQIA+ no filme.

PcD 

Arco dramático (Mako Mori)

Tem personagem PcD? Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de PcD?

Reprovado. 

Não há representação PcD no filme.

Qualidade da representação – PcD

Como é a representação das personagens PcD (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 0

Não há representação PcD no filme.

Resumo do Teste Arte Aberta

Representatividade

Representação

Estrelas Arte Aberta: 1

Por Risla Miranda

Brilha os olhos quando fala de direitos humanos e se vê um dia programando games. Discutir numa mesa de bar acompanhada de uma cerveja bem lupulada é o paraíso. Criatividade vai desde meme a criar estratégias de ação de projetos. Curtindo o rolê de contar histórias através de dados.

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