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Dia internacional de tolerância zero à mutilação genital feminina

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Seis de fevereiro é internacionalmente conhecido como Dia de tolerância zero à mutilação genital feminina. A MGF, como ficou conhecida, é compreendida como:

todos os procedimentos que levam à remoção parcial ou total da genitália feminina externa e todas as lesões provocadas nos órgãos genitais femininos por razões culturais ou outras que não sejam de ordem médica”. 

Até 2016, a UNICEF estimava que mais de 140 milhões de meninas e mulheres ao redor do mundo já tivessem sido sujeitas a essa prática violenta, com mais cerca de 3 milhões em risco a cada ano (o que significa cerca de uma menina mutilada a cada 11 segundos). Por mais que os números sejam aproximados, são assustadores.

Segundo levantamento das Nações Unidas, a MGF é praticada em mais de 30 países e mais de 40% das vítimas são meninas com menos de 15 anos. Existem diversos tipos/níveis de procedimentos, classificados de acordo com a extensão da mutilação.

As inúmeras consequências envolvem danos físicos, psicológicos, sexuais e sociais, podendo acarretar inclusive em morte, além de extrema dor, choque, hemorragia, infecção, retenção de urina, ulceração da região genital, febre, septicemia, prejuízo para o tecido adjacente, abcessos, cicatrizes, incontinência urinária, disfunção sexual, hipersensibilidade da área, complicações durante o parto, com possibilidade de passagem obstruída e risco elevado de morte do bebê.

Trata-se de uma violação básica dos direitos humanos, acarretando em sérios riscos à saúde, à autoestima, à liberdade e ao empoderamento de mulheres. A prática, profundamente enraizada, varia entre os países e grupos étnicos que a realizam, sendo sempre justificada por fatores religiosos, sociais e culturais.

Envolve especialmente o papel da mulher naquela sociedade e o controle sobre seu corpo, sua sexualidade e seus direitos reprodutivos. Envolve também questões econômicas, uma vez que se acredita que a mutilação tornará as mulheres mais honradas para o casamento, pois dificultará sua vida sexual e sua possibilidade de ter prazer, diminuindo a probabilidade de traições. Com isso em vista, muitos homens se recusam a casar com mulheres que não passaram pelo procedimento, o que leva diversas famílias a exigirem a mutilação ainda na infância para garantir a possibilidade de casamentos no futuro e o dote que isso acarretará.

A MGF é amplamente criticada pelas comunidades internacionais e sua erradicação é tratada com urgência entre os países. Estudos recentes avaliam que a prática tem diminuído a cada ano, apesar de estar longe de ser completamente interrompida.

Aproveitando a data de conscientização, o Arte Aberta listou alguns filmes que abordam o assunto da mutilação genital feminina. Espera-se que a difusão do conteúdo e o debate do tema ajudem a combater a desinformação que acompanha a MGF e contribuam, de alguma forma, para o combate da prática.

Flor do deserto

Flor do deserto (2009) é um longa-metragem de ficção dirigido por Sherry Hormann e inspirado em uma história real. Sua protagonista é Waris Dirie, uma garota somali que aos 13 anos foi vendida pelo pai para um casamento arranjado com um homem de 60 anos. Com a ajuda de alguns parentes ela conseguiu fugir para Londres, onde trabalhou como faxineira durante alguns anos e onde foi descoberta pelo fotógrafo Terence Donovan.

Hoje uma modelo famosa, Waris aproveita o reconhecimento internacional para denunciar a prática da mutilação genital feminina, da qual ela própria foi vítima quando criança. Atualmente ela é embaixadora da ONU, escreveu livros sobre o assunto e, desde 2002, comanda uma fundação chamada Desert Flower, cujo objetivo é lutar pela erradicação da MGF especialmente através da educação.

Este é o meu corpo 

Trata-se de um média-metragem documental, das diretoras Inês e Daniela Leitão, que entrevista três mulheres da Guiné-Bissau que hoje vivem em Portugal. Todas elas sofreram mutilação genital na infância e falam sobre a prática, o tabu e as gerações atuais. Além delas, são entrevistados membros do governo português, líderes religiosos, médicos, ativistas e pesquisadores do tema. O filme utiliza imagens de arquivo da Guiné Bissau fornecidas pela RTP – empresa de Rádio e Televisão de Portugal.

A ideia da obra audiovisual surgiu do premiado livro Cicatrizes de Mulher, da autora Sofia Branco, que traz reportagens sobre mulheres mutiladas residentes em Portugal. É considerado o primeiro livro do país a falar sobre o tema e acredita-se que os portugueses apenas muito recentemente passaram a encarar a realidade do MGF devido ao aumento das comunidades imigrantes que chegam todos os anos ao país.

A maçã de Eva 

https://www.youtube.com/watch?v=jdjjMq7noTo

O documentário do diretor e roteirista Jose Manuel Colón tem duração de 90 minutos e está disponível na Netflix. Ele traz entrevistas com mulheres de Gâmbia e do Quênia sobre a prática de mutilação genital feminina, em que elas falam sobre a realidade em suas casas, a necessidade de fugir e a importância da educação no processo de se defender e de se impor.

São também entrevistados estrategistas políticos, profissionais de saúde e responsáveis por ONGs e projetos sociais que falam sobre os esforços internacionais para combater a MGF. As falas são brutais e extremamente dolorosas de se assistir, mas necessárias.

O filme parte de uma maratona em que mulheres correm juntas pela liberdade das meninas ao redor do mundo e pelo fim da MGF para simbolizar as milhares de jovens que fogem de casa para evitar os casamentos forçados e a mutilação, muitas vezes percorrendo cidades e desertos a pé, em condições extremamente difíceis, dolorosas e perigosas.

Por Luciana Rodrigues

É formada em Audiovisual e em Letras Português. Uma brasiliense meio cearense, taurina dos pés à cabeça, apaixonada pela UnB, por Jorge Amado e pelo universo infantil. Aprecia o cult e o clichê, gosta de Nelson Pereira dos Santos e também gosta de novela. E, apesar de muitos dizerem o contrário, acha que essa é uma ótima combinação.

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