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Elas no Oscar 2020: Coringa | Testes de representação e representatividade

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Coringa, dirigido por Todd Phillips, é baseado no personagem de mesmo nome da DC Comics, o famoso vilão e arquiinimigo do Batman.  É o filme com mais indicações no Oscar 2020, concorrendo em 11 categorias: Melhor Filme, Direção, Roteiro Adaptado, Ator, Fotografia, Maquiagem e Penteados, Figurino, Montagem, Trilha Sonora, Edição de Som e Mixagem de Som. Também bateu o recorde de indicações recebidas por um filme baseado em histórias em quadrinhos (antes era de Batman: o Cavaleiro das Trevas, de 2008, que recebeu 8 indicações).

presença feminina em três das 11 categorias em que o filme disputa. A produtora Emma Tillinger Koskoff concorre para Melhor Filme, juntamente com dois homens: o diretor, Todd Phillips, e Bradley Cooper. Para Melhor Maquiagem e Penteado, poderão ser premiadas  Nicki Ledermann e Kay Georgiou, ambas mulheres. Por fim, Hildur Guðnadóttir concorre para a estatueta de Melhor Trilha Sonora. Ela já recebeu sete prêmios apenas pelo seu trabalho em Coringa.

Sinopse geral do filme

De acordo com a percepção do Arte Aberta evitando spoilers

Em Gothan City, o solitário Arthur Fleck é um comediante frustrado que trabalha como palhaço durante o dia. Arthur luta com diversos distúrbios mentais em uma sociedade hostil e violenta, sendo constantemente ridicularizado e agredido. Mora com a mãe debilitada de quem é o único responsável. Ela passa o dia em casa assistindo TV e é obcecada pelo ricaço da cidade Thomas Wayne, para quem trabalhou 30 anos atrás. 

Em um mundo que parece não oferecer alternativas, Arthur é consumido lentamente pela sua própria insanidade, o que o levará a se tornar o grande vilão Coringa.

Joker (Coringa)

A ótica das mulheres

Além do filme ser dominado pelos personagens masculinos, sendo as mulheres sempre coadjuvantes, ele parece estabelecer papéis claros de gênero bastante limitadores e estereotipados.

Quase todos os homens são agressivos ou “bullies” que batem, ridicularizam e/ou humilham o protagonista e os outros ao seu redor. Já as poucas mulheres estão todas em papéis de “cuidadoras”: a mãe, o interesse romântico, a assistente social, a médica, a psicóloga/psiquiatra. É curioso notar que todas elas “falham” nessa missão de salvar e acolher o protagonista. É impossível avaliar o que o filme quer dizer com isso, visto que toda a história é contada pela ótica extremamente enviesada do personagem principal.

Pela mesma razão, em nenhum momento sabemos quem exatamente são essas mulheres, pois só as conhecemos através do olhar de um homem profundamente abalado pelos seus distúrbios mentais.

Assistente Social em Coringa

Representatividade feminina na ficha técnica

Direção, Roteiro, Produção, Produção executiva, Direção de fotografia, Direção de arte, Figurino, Trilha sonora, Edição de som, Mixagem de som, Edição, Efeitos especiais e Maquiagem.

Coringa  conta com a presença de 24% de mulheres nas ficha técnica principal. São seis no total: a produtora Emma Tillinger Koskoff, a diretora de Arte Laura Ballinger Gardner, a decoradora de set Kris Moran, a compositora Hildur Guðnadóttir, além de  Nicki Ledermann e Kay Georgiou, responsáveis pela maquiagem e penteados respectivamente.

Representatividade feminina no elenco principal

Créditos finais

Tendo como base os créditos finais do filme, foram identificados 12 nomes de destaque no elenco. Dentre eles, dez homens e apenas duas mulheres (Zazie Beetz e Frances Conroy), o que totaliza 17% de presença feminina.

Bechdel-Wallace

As mulheres têm nome? Se falam? É sobre homem?

Reprovado. 

Apenas duas personagens são chamadas pelo nome no filme: a mãe do protagonista, Penny, e a filha de uma vizinha, GiGi. A própria vizinha só é nomeada nos créditos, apesar de ser a segunda personagem feminina mais importante, atrás apenas da mãe. Dessa forma, ela não é considerada personagem com nome para fins de aplicação do teste. 

Em relação à interação entre personagens femininas, há apenas uma: a vizinha faz um comentário em relação ao estado do prédio vagamente direcionado ao protagonista. A filha repete as palavras da mãe seguido de “não é mãe?”. A mãe responde “sim, sim…” sem dar muita atenção. Dessa forma, não qualifico a interação como uma conversa, visto que o comentário sequer era direcionado à menina em primeiro lugar. A mãe também não está dando continuidade à conversa, apenas concordando como que para calar a filha. Já a filha está apenas imitando a mãe.

Mako-Mori

Tem mulher? Tem arco dramático? É apoiado no arco do homem?

Reprovado. 

O filme tem personagens mulheres, no entanto a única que tem uma história de fundo é a mãe de Arthur, Penny, mas essas informações são dadas apenas para desenvolver o personagem enquanto a mãe permanece a mesma do início ao fim. Não há transformação ou mudança de estado, nem problema a ser enfrentado por essa personagem. Além disso, toda a história dessa mulher é dependente dos homens ao seu redor, seja o filho ou o ex-patrão.

Coringa cuidando da mãe

Tauriel

Tem mulher? Ela só está na trama para ser par romântico/possui competência em algo?

Reprovado. 

As principais personagens não existiriam se fossem homens, mais especificamente a mãe e o interesse romântico do protagonista. Há algumas outras personagens femininas muito coadjuvantes como a assistente social que atende o protagonista, uma médica no programa de tv, e uma psiquiatra/psicóloga no final. Elas poderiam até existir se fossem homens, no entanto, não é possível saber se são competentes devido aos seu curto tempo de tela. 

Como mencionado anteriormente, todas as personagens mulheres do filme exercem uma função de “cuidadora”, o que as situam dentro de papéis de gênero tipicamente associados às mulheres.

Barnett

Tanto homens quanto mulheres falam entre si só sobre o sexo oposto? Os personagens masculinos têm comportamento atrelado à violência que trate como humor/falta de seriedade/normal/aceitável/como se alguém merecesse a violência?

Reprovado. 

Os homens conversam entre si sobre vários assuntos. Já as mulheres não conversam entre si. Há apenas uma curta interação entre a vizinha do protagonista e a filha dela, no entanto, conforme enunciado na seção referente ao Teste de Bechdel-Wallace, essa interação é tão rápida e superficial que não chega a se caracterizar como um diálogo.

Quanto à violência, em nenhum momento ela é retratada com humor. Apesar do protagonista dizer que acha graça dos assassinatos e que a violência é uma piada, os outros personagens não compartilham dessa opinião e as cenas por si só não tem um viés cômico. Porém, em vários momentos a violência é considerada algo normal. Quase todos os homens são violentos no filme. Mesmo quando não há violência física, há humilhação e ridicularização do protagonista e de outros personagens. Além disso, há também cenas em que permeia uma sensação de que as vítimas mereceram a violência. As revoltas que ocorrem no filme têm como estopim o fato de que a opinião pública acredita que certos indivíduos assassinados mereceram o seu destino. O protagonista é especialmente violento com pessoas que o agrediram física ou emocionalmente em uma lógica do tipo “olho por olho, dente por dente”. 

Resumo dos testes de representação e representatividade

Representatividade feminina na ficha técnica24% de mulheres nos principais cargos da ficha técnica
Representatividade feminina no elenco principal17% de presença feminina no elenco principal
Bechdel-WallaceReprovado
Mako-MoriReprovado
TaurielReprovado
BarnettReprovado
Poster Joker

Por Barbara Alpino

Connoisseur de cultura pop japonesa, adoradora de gatos e colecionadora de vestidos. Ama desenhos e sonha em escrever uma saga de fantasia.

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