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Fora do armário: 4 personagens LGBTQIA+ e suas vivências

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Fora do armário
Tess, em This is us

Sair do armário é parte de um processo complexo. Compreender e contar para as pessoas quem você é dificilmente se resume a um momento isolado, a uma única conversa que já abarca tudo que a questão envolve. Ainda assim, é muito comum filmes e séries focarem no ato da revelação, nesse momento específico em que se conta para os pais, para os amigos ou para o mundo todo que se é LGBTQIA+. E a partir daí a narrativa segue, como uma etapa que foi superada.

No entanto, cada vez com mais frequência, temos visto obras que escolhem se debruçar sobre o que acontece depois da revelação. “Contei para todos. E agora? Não existe mais nada para entender/resolver?” Que tal analisar como algumas delas têm abordado essa questão?

Fora do armário: Kat, Fabiola, Tess e Elena

The bold type

Kat se apaixona por Adena e inicialmente fica confusa, tenta ignorar esse sentimento e fugir da amada. Em determinado momento, se permite viver esse amor e se assume lésbica. Ela abraça sua identidade e a insere em seu trabalho, nas pautas com que se envolve e nos movimentos pelos quais luta. Kat passa a frequentar bares e festas lésbicas e é inserida na comunidade lésbica de NY, fazendo diversas novas amigas.

Mais para a frente, Kat tem sentimentos por um homem e fica novamente confusa. Mais uma vez ela precisa olhar para dentro, se entender e assume com orgulho: é bissexual. A personagem afirma que assumir sua bissexualidade e dar um título para o que ela é e para o que sente ajuda a criar um espaço concreto, a se compreender, a ser compreendida e a formar uma comunidade.

Apesar de estar confortável com essa identidade, ela descobre que algumas pessoas da comunidade LGBTQIA+ podem ter problemas com o fato dela ser bi. Kat escuta que muitas lésbicas consideram a bissexualidade como uma estratégia para enganá-las e se sentem usadas. Ela então é aconselhada a evitar suas amigas lésbicas com o entendimento de que não será aceita por elas.

Magoada e ofendida, Kat se sente novamente presa no armário e se recusa a negar quem é. Ela confronta quem a oprimiu, mas infelizmente a série transforma a questão em algo pessoal, focando na relação das duas, e não aproveita para discutir a fundo a bifobia. Conta apenas com um breve diálogo entre Kat e Oliver, em que o amigo a aconselha a reivindicar qualquer espaço queer como seu, sem se envergonhar nem se sentir menos merecedora de ocupá-los.

Esperamos que na quinta temporada isso possa ser melhor explorado, aprofundando a forma com que a bissexualidade é tratada dentro da comunidade LGBTQIA+.

Eu nunca

Fabiola sempre temeu decepcionar a mãe, que coloca sobre ela uma enorme pressão para ser alguém que ela não é. Após reunir coragem e finalmente contar para a mãe e para as amigas que é lésbica, ela começa a namorar com Eve e tudo parece ter se resolvido para a personagem.

No entanto, à medida que conhece as amigas da namorada e passa a conviver com outros jovens LGBTQIA+ da sua idade, Fabiola começa a ser cobrada para agir de determinadas maneiras, se vestir sob um determinado padrão, consumir programas e músicas específicos, conhecer expressões e assuntos que ela não conhece. E a todo momento é tratada como se “não fosse lésbica o suficiente”, como se não se encaixasse no grupo por fatores que nada têm a ver com a sua sexualidade.

Confusa, ela sente que não atende as expectativas nem da heteronormatividade nem da comunidade LGBTQIA+ e se sente extremamente solitária e desajustada. Chega um momento em que ela precisa novamente criar coragem para se auto afirmar e dizer ao mundo quem ela realmente é, negando as pressões e os moldes externos, seja de que grupo for.

Ao mesmo tempo, sua mãe se esforça incansavelmente para demonstrar que a ama, apoia e compreende. Mas por mais bem intencionada que ela seja, na ânsia de mostrar para a filha e para todos que é uma aliada, comete algumas gafes e tropeça em estereótipos. Eve ensina para Fabiola que é preciso ter paciência e aproveitar que a mãe está completamente disposta a aprender, ansiosa para que a filha compartilhe com ela seus pensamentos e opiniões. Com carinho e paciência, tanto a mãe quanto a filha têm muito a aprender e poderão desbravar juntas grande parte do caminho.

This is us

Fora do armário

Tess conta para a família que é lésbica e, aproveitando uma campanha específica das redes sociais, conta também para todos os seus amigos e para a comunidade escolar. Inicialmente tudo parece transcorrer sem qualquer complicação, seus pais conversam com ela sobre o quanto a amam e se colocam à disposição para conversar sobre qualquer assunto que ela quiser e precisar. Apesar de ter sido absolutamente sincera, aos poucos alguns atos vão deixando sua mãe desconfortável, sem que ela própria compreenda qual é o motivo.

Primeiro, Tess decide cortar o cabelo curto, o que incomoda Beth, que sempre amou o cabelo da filha do jeito que era. Em seguida, Tess começa a namorar com Alex, uma pessoa não binária, e Beth se sente confusa em relação aos pronomes, com muito medo de errar e chatear a filha. Desconfortável, ela tenta fazer de tudo para agradar o casal, pisando em ovos e com muito receio de incomodar ou dizer algo errado. Com o tempo, isso evolui para que sua relação com a filha vá perdendo a espontaneidade.

Tess percebe o desconforto da mãe e tem uma conversa franca com ela, o que faz com que Beth olhe para dentro e tente compreender as origens desse incômodo. O amor nunca faltou, nem de longe. Mas Beth descobre que isso nem sempre é suficiente e que ela precisa reajustar suas expectativas a respeito do futuro da filha. Precisa aprender a lidar com a realidade e abrir mão dos planos e caminhos que criou para Tess, entendendo que ela é uma pessoa independente e que traçará sua própria jornada.

One day at a time

Elena conta para a família que é lésbica e sua mãe, Penélope, receia como será a reação da avó da menina, super religiosa e conservadora em muitas questões. Em um monólogo magnífico, Lydia surpreende a todos, usando a própria religiosidade para defender o amor e combater a intolerância.

Aparentemente sem maiores problemas depois disso, Penélope conversa com a filha, diz o quanto a ama, tenta deixá-la confortável e se mostra completamente tranquila em relação ao assunto. No entanto, internamente, ela tem dificuldade para compreender como se sente. Confusa e abalada, ela se sente culpada por não viver de fato a tranquilidade que demonstrou para a filha e que acredita que seria o correto. Afinal, ela ama a filha com todas as suas forças e jamais cogitaria não apoiá-la no que quer que fosse. Então por que se sente perturbada com a revelação de Elena?

Em uma conversa com um desconhecido em um bar, ela finalmente cria coragem para expor sua vergonhosa verdade. E escuta dele que está tudo bem, que ela não é uma pessoa terrível por precisar de um tempinho para entender o que está acontecendo. Que assim como a filha provavelmente precisou de tempo para se compreender, ela também pode ter um tempo para entender seus pensamentos e para ajustar os planos que imaginou para Elena.

Penélope então entende que é aceitável se surpreender com a revelação da filha e que ela ainda tem muito para aprender, mas que pode fazer isso ao lado de Elena, dando e recebendo sempre muito amor e carinho.

Por Luciana Rodrigues

É formada em Audiovisual e em Letras Português. Uma brasiliense meio cearense, taurina dos pés à cabeça, apaixonada pela UnB, por Jorge Amado e pelo universo infantil. Aprecia o cult e o clichê, gosta de Nelson Pereira dos Santos e também gosta de novela. E, apesar de muitos dizerem o contrário, acha que essa é uma ótima combinação.

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