Dica Arte Aberta: Marte Um, de Gabriel Martins

Marte Um (2022) conta a história de uma família negra, mineira e de classe baixa durante os últimos meses de 2018, pouco depois do resultado das eleições presidenciais no Brasil.  

O filme acompanha os quatro membros dessa família e seus desejos, sonhos e as dificuldades de suprir e entender as expectativas que são projetadas nos seus papéis tanto dentro do núcleo familiar como dentro da própria sociedade.

Tércia (Rejane Faria), a matriarca, está com problemas devido à informalidade do trabalho doméstico remunerado que realiza. Ela passa por um trauma e começa a questionar a sua influência na sorte da família. O seu marido Wellington (Carlos Francisco) tem trabalho fixo como porteiro de um prédio de classe alta. Ele acredita que o seu filho pode ser um grande jogador de futebol, por isso, tenta fazer tudo que está ao alcance para garantir que esse sonho se realize.

Deivinho (Cícero Lucas), o filho caçula, é super estudioso e tem desejos diferentes do pai. Ele quer estudar astrofísica para participar da missão de colonização de Marte.

Já Eunice (Camilla Damião), a filha mais velha, que cursa direito na faculdade pública, se apaixona por uma colega de turma e começa a traçar os seus próprios caminhos.  

A obra traz a bela relação de irmãos, Eunice e Deivinho, que encontram dentro das suas identidades amor e apoio mútuo. Aborda, também, a força e solidão da mulher negra, quando Tércia é ignorada em seu recente trauma e, sozinha, entende o seu caminho de cura. Trata da pressão e projeção do papel do homem, tanto para Wellington que acredita conhecer o melhor caminho para seu filho, como para Deivinho, que tem medo de contar o seu sonho para o pai. E ainda traz Eunice crescendo e amadurecendo sem medo e com muita vontade de mudar as coisas. 

Marte Um é um filme sensível e bonito que demonstra que as diferenças são necessárias para construção da individualidade, assim como o amor e a compreensão. 

O filme teve sua estreia mundial no Festival de Sundance. Foi premiado no Festival de Gramado nas categorias Especial do Júri, Júri Popular, Roteiro (de Gabriel Martins) e Trilha Sonora (de Daniel Simitan). No Outfest 2022, arrematou o prêmio de melhor longa internacional do grande júri e, no San Francisco International Film Festival de 2022, o prêmio de público de melhor filme de ficção. Também é o filme escolhido para representar o Brasil no Oscar 2023. 

O roteiro, a direção e a montagem são de Gabriel Martins, essa última juntamente com Tiago Ricarte.

Martins também dirigiu os longas metragens No Coração do Mundo (co-direção de Maurílio Martins, 2019) e O Nó do Diabo (co-direção Ian Abé, Ramon Porto Mota e Jhésus Tribuzi, 2018).

O filme está em exibição nos cinemas em algumas cidades brasileiras.