Melody Ellison vive com a mãe e com o avô paterno em Detroit na década de 60. Muito talentosa, a menina usa a imaginação para costurar figurinos criativos e dar asas à imaginação. Um dia ela anda pela cidade como uma astronauta, em outro pode ser uma fada, uma bruxa ou uma cientista. Não existem limites para seus sonhos e brincadeiras.

Isso muda quando ela começa a compreender que uma grande parcela da sociedade se incomoda com os seus sonhos e até mesmo com a sua existência. Melody é uma menina negra vivendo em um país extremamente racista, segregacionista e violento. Aos poucos, com seu olhar infantil, ela vai tomando conhecimento desse ódio, compreendendo sua dimensão e, de forma assustadora, se percebendo como o alvo.

A mãe e o avô discordam sobre a forma com que essas questões devem ser apresentadas a ela. Frances quer garantir uma infância positiva e saudável para a filha, estimulando seu otimismo e suas brincadeiras. Ela tenta preservar a menina dos debates difíceis e se esforça para blindá-la das notícias sobre assassinatos e preconceito. Frank acredita que Melody deve ser preparada desde a infância para encarar a maldade do mundo, estando apta a se proteger e a se defender quando precisar.

Independente da proteção da mãe, chega um momento em que inevitavelmente Melody precisa lidar com o racismo e com o ódio das pessoas. Episódios isolados vão se somando e ela vai costurando diversas experiências negativas para compreender como parte da sociedade a vê. Após ser maltratada na escola, excluída pelos colegas brancos, acusada de roubo em uma loja e de ver sua mãe sendo destratada pelo patrão branco, sua alegria e ingenuidade vão dando espaço a uma raiva crescente. Ela precisa então descobrir o que fazer com aquele sentimento.

Junto a tudo isso, por mais que a mãe tente blindá-la, ela escuta pedaços dos noticiários e se depara com um cenário de violência e insegurança que até então não conhecia. O filme faz menção a um caso real em que quatro meninas de idades parecidas com a idade da protagonista foram assassinadas em um ataque terrorista orquestrado por membros da Ku Klux Klan.
Mesclando ficção e realidade, Melody acompanha a transmissão do caso. Uma bomba explodiu em uma Igreja Batista em Birmingham, Alabama, no horário da escola dominical, deixando quatro meninas negras mortas e outras dezenas de pessoas feridas. Essa mesma história é contada também no documentário Quatro meninas, de 1997, dirigido por Spike Lee, e é mencionada em Selma: Uma luta pela igualdade, longa-metragem de ficção dirigido por Ava DuVernay.
A proximidade com a idade das vítimas e a inegável sensação de que aquilo poderia ter acontecido com ela ou com a sua família, mexe muito com Melody. Ela começa a refletir sobre o juramento de fidelidade aos Estados Unidos que diariamente tem que recitar na escola e que menciona igualdade de direitos. Se sentindo insegura e brava, e sem saber lidar com essas sensações, ela explode na escola, brigando com a professora e com a turma e questionando a obrigatoriedade de recitar um juramento que não tem aplicabilidade prática.

Aos poucos, Melody aprende que pode ser mais benéfico direcionar sua energia e sua raiva para ações concretas que visem mudanças e reflexões. Sua habilidade criativa para figurinos é colocada em prática mais uma vez. Dessa vez reunindo a comunidade, brancos e negros, em um evento beneficente em prol das vítimas da explosão.
Agora sem ingenuidade e precisando encarar um mundo assustador e perigoso, Melody percebe a importância de se manter esperançosa. Ela descobre também que, apesar de tantas pessoas ruins, o mundo está repleto de pessoas boas e que desejam caminhar em conjunto.
Dirigido por Tina Mabry e roteirizado por Alison McDonald, esse é um filme infanto-juvenil que aborda temas extremamente difíceis e delicados a partir da ótica de uma menina criativa e curiosa. É uma boa oportunidade para contextualizar os jovens em relação ao histórico de violência racial dos EUA (e do mundo de forma geral) e suscitar conversas sobre racismo e sobre a importância de nos manifestarmos contra qualquer tipo de preconceito.
