O filme Nickel Boys, do diretor RaMell Ross, foi indicado em duas categorias no Oscar 2025: Filme e Roteiro Adaptado (RaMell Ross e Joslyn Barnes).
O longa-metragem é uma adaptação do livro de mesmo nome do autor Colson Whitehead e conta a história de dois jovens negros que se conhecem em um centro de detenção para menores de idade. A Academia Nickel retrata um local real, Florida School for Boys (também conhecido como Dozier School for Boys), que funcionou durante 111 anos e chegou a ser o maior reformatório dos EUA. O local, fechado apenas em 2011, ficou conhecido pelos maus tratos, abusos e exploração da população negra. Muitos jovens desapareceram ao longo dos anos e investigações recentes descobriram assassinatos e dezenas de covas sem identificação no local.
Em Nickel Boys, Elwood e Turner têm visões muito diferentes sobre o mundo. O primeiro é um grande defensor dos Direitos Civis, esperançoso por mudanças, enquanto o segundo está cético e desiludido, encarando a brutalidade do mundo como uma tragédia sem escapatória. O espectador assiste a tudo em primeira pessoa, com a câmera representando o olhar dos protagonistas, alternando entre um e outro.
A seguir, analisamos o filme Nickel Boys com o nosso Teste Arte Aberta.
Para saber mais sobre o teste, confira o texto introdutório.

Sinopse
De acordo com a percepção do Arte Aberta evitando spoilers
Por um triste acaso, Elwood pega carona com um desconhecido na estrada sem saber que ele é um foragido da polícia. Preso como cúmplice, ele é enviado para a Academia Nickel, um reformatório violento, e tem todos os seus planos e sonhos ceifados da noite para o dia. No local, ele conhece Turner, um jovem interno que é gentil com ele apesar da dureza do local.

Ótica de gênero, raça e LGBTQIA+/PcD
A história se passa no contexto do sistema Jim Crow, em que leis segregacionistas afetam a vida dos estadunidenses e oficializam espaços e experiências diferentes para pessoas brancas e negras.
No longa-metragem, no primeiro dia de aula de História Americana, o professor de Elwood pede que os estudantes negros risquem e apaguem desenhos feitos nos cantos das páginas dos livros. O protagonista passa os olhos pelos desenhos e vê imagens de pessoas sendo enforcadas em árvores, o que já demarca o momento político violento em que o personagem está inserido.
Elwood acompanha os discursos de Martin Luther King e participa de protestos pelo Movimento dos Direitos Civis. Ele deseja lutar por mudanças e quer ser parte ativa da transformação do país.
Seu professor, Sr. Hill, lhe apresenta a oportunidade de estudar gratuitamente em uma faculdade prestigiada. Diz que assim que soube da oportunidade pensou logo nele. No entanto, antes que Elwood possa chegar na faculdade, é preso injustamente e enviado para o reformatório, impedido de concretizar seus sonhos.
A Academia Nickel é um local que funciona em sistema de segregação racial, com negros e brancos separados e tratados de formas diferentes. Os funcionários não sabem como lidar com internos que não se enquadram de forma evidente em um dos dois lados, como por exemplo um jovem mexicano que os deixa indecisos sobre onde colocá-lo.
Enquanto os jovens brancos têm certas regalias, como poder jogar futebol e receber sorvete, os negros são maltratados, torturados, submetidos a trabalho forçado e apresentam marcas de feridas abertas nas costas. Muitos deles desaparecem e os internos sabem que existem covas escondidas pelo terreno, havendo um constante clima de ameaça para obrigá-los a obedecer.
A decisão de filmar a partir do ponto de vista de Elwood e Turner visa combater a espetacularização da dor da população negra. Muitos filmes focam nos horrores enfrentados pelos negros de forma que espectadores brancos possam assistí-los do conforto de seus sofás, quase como um voyerismo do sofrimento. A fotografia em primeira pessoa de Nickel Boys gera desconforto e cria uma experiência sensorial, faz com que o espectador sinta a violência, a exclusão, a angústia, a dor como algo pessoal, e não apenas assista a tudo isso com distanciamento.

A única personagem feminina de destaque na obra é Hattie, avó de Elwood. A sua história na trama se resume à sua relação com ele e não há um desenvolvimento da questão de gênero.
Não há representação LGBTQIA+ nem PcD na obra.
Representatividade de gênero, raça e LGBTQIA+/PcD
Direção e Roteiro*
* Classificação é feita de acordo com a declaração pública e disponível das pessoas LGBTQIA+/PcD e heteroidentificação de raça e gênero
A direção do filme é de RaMell Ross, um homem negro, e o roteiro é uma parceria entre ele e Joslyn Barnes, uma mulher branca.
Não foram encontradas informações sobre nenhum deles ser LGBTQIA+ e PcD. Dessa forma, a ficha técnica principal (direção e roteiro) é composta 66,6% de não brancos, 33,3% de mulheres, 0% PcD e 0% LGBTQIA+.

Elenco principal*
Créditos iniciais/finais
* Classificação é feita de acordo com a declaração pública e disponível das pessoas LGBTQIA+/PcD e heteroidentificação de raça e gênero
De acordo com os créditos finais do filme, o elenco principal é composto por nove atores: Ethan Herisse (Elwood); Brandon Wilson (Turner); Hamish Linklater (Spencer); Fred Hechinger (Harper); Daveed Diggs (Elwood adulto); Jimmie Fails (Mr. Hill); Aunjanue Ellis-Taylor (Hattie); Luke Tennie (Griff); e Craig Tate (Chickie Pete adulto).
Dessa forma, o elenco é composto por 11,1 % de mulheres, 77,7% de não brancos, 11,1 % LGBTQIA+ (Aunjanue Ellis-Taylor) e 0 % de PcD.

Representação
Mulheres
Presença (Bechdel-Wallace)
As mulheres têm nome?
Se falam por mais de 60 segundos?
Sobre outro assunto que não seja homens?
Reprovado.
Hattie, avó de Elwood, conversa com outras mulheres na rua e ao telefone, mas elas não têm nome.

Arco Dramático (Mako-Mori)
Tem mulher?
Tem arco dramático próprio?
O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de gênero?
Reprovado.
Hattie só aparece na obra em relação ao neto, visita-o no reformatório e batalha por sua liberdade. Não sabemos nada sobre ela especificamente e não há um desenvolvimento da personagem.

Competência (Tauriel)
Houve mulher(es) com atividade profissional definida?
Ela é competente na atividade?
Grau da Competência Caso a mulher seja competente, quão competentes elas são em sua atividade profissional (1 a 5 , sendo 1 – pouco competente e 5 – muito competente)
Houve reconhecimento dessa competência?
Reprovado.
Nota: 0
Hattie trabalha como camareira, mas não temos informações sobre sua competência.
Qualidade da representação – mulheres
Como é a representação das personagens mulheres (escala de -1 a 3)
Sendo -1, estereótipos ofensivos;
0, não tem;
1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos;
2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos;
3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos estereótipos
Nota: 2
Hattie é uma personagem secundária com poucos estereótipos.

Raça
Arco dramático (Mako Mori)
Tem personagem não branco?
Tem arco dramático próprio?
O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de raça?
Aprovado.
Os protagonistas Elwood e Turner são negros. Elwood não tem um grande ponto de transformação interno, seguindo na narrativa de forma uniforme apesar das tragédias que ocorrem.

Já Turner é influenciado e transformado pelo amigo. Inicialmente cético e desiludido, ele acredita que é melhor abaixar a cabeça e passar despercebido para evitar sofrer represálias. Quando Elwood se esforça para denunciar os maus tratos na Academia Nickel, Turner é informado de que o amigo será assassinado. Ele decide então agir para salvar Elwood.

Anos depois, ele reflete sobre os acontecimentos na Nickel e acompanha as investigações, decidindo se conta sua versão e se denuncia os crimes cometidos no local.
Qualidade da representação – raça
Como é a representação dos personagens não brancos (escala de -1 a 3)
Sendo -1, estereótipos ofensivos;
0, não tem;
1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos;
2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos;
3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos estereótipos
Nota: 3
Elwood e Turner são personagens principais com pouquíssimos estereótipos.
LGBTQIA+
Arco dramático (Mako Mori)
Tem personagem LGBTQIA+?
Tem arco dramático próprio?
O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de LGBTQIA+?
Reprovado.
Não há representação LGBTQIA+ no filme.
Qualidade da representação – LGBTQIA+
Como é a representação das personagens LGBTQIA+ (escala de -1 a 3)
Sendo -1, estereótipos ofensivos;
0, não tem;
1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos;
2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos;
3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos estereótipos
Nota: 0
Não há representação LGBTQIA+ no filme.
PcD
Arco dramático (Mako Mori)
Tem personagem PcD? Tem arco dramático próprio?
O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de PcD?
Reprovado.
Não há representação PcD no filme.
Qualidade da representação – PcD
Como é a representação das personagens PcD (escala de -1 a 3)
Sendo -1, estereótipos ofensivos;
0, não tem;
1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos;
2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos;
3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos estereótipos
Nota: 0
Não há representação PcD no filme.
Resumo do Teste Arte Aberta

Representatividade


Representação



Estrelas Arte Aberta: 1
