Vamos à análise “Elas no Oscar”, agora com o filme Os 7 de Chicago (The Trial of the Chicago 7), indicado em seis categorias no Oscar 2021. O filme é uma produção original Netflix, que estreou em 16 de outubro de 2020 na plataforma no Brasil.
O filme, baseado em fatos reais, foi escrito e dirigido por Aaron Sorkin, roteirista, produtor de televisão e dramaturgo norte-americano. O cineasta é conhecido pela direção do filme A Grande Jogada e pelo Oscar de Melhor Roteiro Adaptado do longa A Rede Social.
Os 7 de Chicago concorre a um total de seis estatuetas, são elas: Filme, Ator Coadjuvante (com Sacha Baron Cohen), Fotografia, Montagem, Canção Original e Argumento/Roteiro Original.
Um dos destaques de Os 7 de Chicago é a indicação de Trilha Sonora Original e Canção Original por Hear My Voice, interpretada por Celeste, cantora negra britânica de soul. A música foi coescrita com Daniel Pemberton. Celeste tem mais três canções originais na trilha do filme.
Sinopse geral do filme
De acordo com a percepção do Arte Aberta evitando spoilers
Os 7 de Chicago conta a história do julgamento dos sete réus: Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen), Jerry Rubin (Jeremy Strong), David Dellinger (John Carroll Lynch), Tom Hayden (Eddie Redmayne), Rennie Davis (Alex Sharp), John Froines (Danny Flaherty), Lee Weiner (Noah Robbins). Além de Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), que entra no julgamento, mas depois tem a sua acusação anulada. Eles são acusados pela promotoria dos Estados Unidos de conspiração devido aos protestos contra a Guerra do Vietnã, ocorridos em Chicago, Illinois, durante a Convenção Nacional Democrata em 1968. Os protestos acabaram em violência.
A ótica das mulheres
O filme é centrado na história real do julgamento dos “7 de Chicago” e Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II) e os fatos que se sucederam para que eles fossem escolhidos para a acusação de conspiração. Tendo em vista que o foco principal do filme é o julgamento deles, a participação feminina é muito pequena.
Destacamos quatro participações femininas com graus de importância bem diversa: Sondra (Tiffany Denise Hobbs), a única mulher negra dentre as personagens de destaque, que aparece em uma cena no início do filme advertindo Bobby Seale, co-fundador do partido Pantera Negra (Yahya Abdul-Mateen II), a ir a Chicago devido ao problema dele em Connecticut e ao racismo estrutural; Bernadine (Alice Kremelberg), a atendente do escritório da “Conspiração”, com uma participação meramente de apoio aos atendimentos, com destaque a uma cena na qual um dos telefonemas é feito uma piada machista de cunho sexual e racista; Daphne O’conner (Caitylin Fitzgerald), a Agente especial do FBI infiltrada nos protestos e que depõe no julgamento; e por último, a “Menina da bandeira”, personagem sem nome que estava no protesto de Chicago e recebeu vários xingamentos machistas ao segurar a bandeira dos Estados Unidos, além de ter sua roupa retirada à força por alguns homens.
Importante destacar que, de acordo com a apuração de realidade x ficção pela Veja, a personagem Daphne O’conner (Caitylin Fitzgerald) parece ter sido inventada para a construção da trama, já que a personagem mais próxima desse papel foi uma policial infiltrada de Chicago (Mary Ellen Dahl) que chegou a testemunhar que Abbie Hoffman estava planejando um motim.
Representatividade feminina na ficha técnica
Direção, Roteiro, Produção, Produção executiva, Direção de fotografia, Direção de arte, Figurino, Trilha sonora, Edição de som, Mixagem de som, Edição, Efeitos especiais e Maquiagem.
Tendo em vista as funções elencadas acima, restritas aos chefes de equipe e/ou pessoas que estão concorrendo ao Oscar, foram identificados nos créditos finais do filme 32 profissionais.
Destes, 13 são mulheres (alguns em mais de um cargo) e 19 homens. O filme conta então com 40,63% de representatividade feminina em cargos-chave.
São elas: no Figurino, Susan Lyall; na Direção de Arte, Shane Valentino; na Edição de Som, Renée Tondellie; no Departamento de Maquiagem, Louise McCarthy. Na Produção Executiva, foram listados 19 nomes, sendo nove mulheres, dentre elas com maior destaque para Laurie MacDonald, Nia Vazirani, Kristie Macosko Krieger e Lauren Lohman.
Representatividade feminina no elenco principal
Créditos iniciais/finais
Com base nos créditos finais do filme, em destaque, foram identificados 21 nomes no elenco principal. Destes, dois são mulheres e 19 homens. São elas Caitylin Fitzgerald, Alice Kremelberg, contabilizando assim 9,52% de representação feminina no elenco principal, refletindo no papel das mulheres na história.
Bechdel-Wallace
As mulheres têm nome? Se falam? É sobre homem?
Não há diálogos entre as personagens femininas com nome no filme.
Mako-Mori
Tem mulher? Tem arco dramático? É apoiado no arco do homem?
Reprovado.
Apesar do filme possuir mulheres, a participação delas é limitada a ações específicas do protesto ou do julgamento sem um arco dramático próprio.
Tauriel
Tem mulher? Ela só está na trama para ser par romântico/possui competência em algo?
Aprovado.
Bernadine (Alice Kremelberg) tem como função ser atendente do escritório da “Conspiração”, já Daphne O’conner (Caitylin Fitzgerald) é agente especial do FBI infiltrada no meio dos protestos. Ela se infiltrou por meio de um falso pretexto romântico com um dos integrantes e trouxe informações valiosas sobre a participação dos envolvidos no protesto.
Barnett
Tanto homens quanto mulheres falam entre si só sobre o sexo oposto? Os personagens masculinos têm comportamento atrelado à violência que trate como humor/falta de seriedade/normal/aceitável/como se alguém merecesse a violência?
Reprovado.
Quanto à primeira parte do teste, não há cena em que as mulheres conversam entre si, o que faz com que o teste seja reprovado na primeira pergunta.
Em relação às cenas de violências, o filme traz em diversos momentos a sequências de protestos com comportamento violento institucionalizado pela polícia além de duas cenas simbólicas de violência racial, com o personagem Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II) amordaçado diante do júri, e com a execução Fred Hampton (Kelvin Harrison Jr.), integrante do Pantera Negra e amigo de Bobby, também tratado no filme Judas e o Messias Negro que concorre a seis estatutetas no Oscar deste ano.
Resumo dos testes de representação e representatividade de Os 7 de Chicago
| Representatividade feminina na ficha técnica | 40,63% |
| Representatividade feminina no elenco principal | 9,52 % |
| Bechdel-Wallace | Reprovado |
| Mako-Mori | Reprovado |
| Tauriel | Aprovado |
| Barnett | Reprovado |
