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Returnal: aprisionada em um planeta alienígena

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Returnal foi lançado em 2021 pela Sony e desenvolvido pela Housemarque. O trailer causou alvoroço por mostrar uma dinâmica de ação e de terror, fincada em uma narrativa de ficção científica, além de ser uma promessa bacana para as possibilidades de gráficos do PlayStation 5.

Porém os gráficos não são a cereja do bolo de Returnal, e sim a narrativa roguelike com pitadas de terror psicológico. A história é cheia de lapsos de memória, seja da própria cabeça da protagonista, seja por pedaços que vamos encontrando ao longo da exploração do planeta.

A protagonista, Selene, é uma astronauta da Astra que busca uma sombra branca em um planeta chamado Atropos. Ao se aproximar do planeta, Selene é atingida por alguma coisa não identificada – é possível verificar um buraco na nave dela, que nada no formato indica alguma ação “natural”. 

Tecnologia alienígena a seu favor

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Ao explorar pela primeira vez – ou o que achamos ser a primeira vez – é possível compreender que Selene, além de ser treinada com armas, é corajosa ao ponto de utilizar a tecnologia alienígena disponível. Selene também tem um interesse por compreender a língua do planeta e, consequentemente, compreender o porquê de não conseguir sair de lá.

Sim, o roguelike é injusto e perturbador. Ao morrer, você retorna ao momento do acidente com a nave e precisa pegar tudo que pegou até aquele momento, apenas o item éter permanece com você. Além disso, você encontra cadáveres de Selene em um mapa completamente mudado, o que dá a sensação de insegurança e de surpresa, nada confortável para continuar uma exploração. 

O jogo exige paciência para ir melhorando os trajes e buscando boas armas. No caso das armas, quanto mais você usa, melhor, já que assim é possível destravar as suas novas habilidades. Há também os parasitas que dão uma habilidade boa e uma ruim. É possível ter mais de um parasita ao mesmo tempo, o que faz com que o corpo de Selene fique coberto de pequenos bichos sugadores. 

Além dos parasitas e das armas, há outros itens endêmicos do planeta, como câmaras que servem para diferentes propósitos, como recuperar toda a vida, e também artefatos que podem dar uma vida extra. Selene consegue aproveitar bem a tecnologia do planeta aprisionador, e é importante passar um bom tempo melhorando armas, trajes e vida para então conseguir avançar no planeta e na narrativa. 

As traduções dos escritos alienígenas têm percentual de acurácia, assim você precisa explorar e compreender mais a língua de Atropos para ler e compreender um pouco daquele planeta. Uma menção honrosa aos gráficos e elementos visuais é o efeito de teletransporte como uma fragmentação corporal, digna de uma boa ficção científica! Também é importante mencionar que o controle do PS5 dá uma elevada na imersão do jogo.

A loucura e o trauma de Selene

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Sabemos pouco da jornada de Selene, talvez ela mesma não saiba, por ter que encontrar cadáveres de si mesma com gravações das quais não se lembra de ter feito. Ela mesma não sabe quantas vezes esteve naquele lugar, quantas vezes tentou passar por aquele espaço, quantas vezes morreu. Isso traz um peso muito grande na narrativa porque nem a morte é saída daquele planeta.

A solidão vai crescendo em Selene à medida que chegamos aos objetivos e, mesmo assim, não é possível sair de Atropos. Reviver a morte, o momento do acidente e lembranças desconexas fazem com que a desordem do planeta se encontre com a confusão e distanciamento em que Selene se encontra. Está claro que Selene, apesar de corajosa e aberta a utilizar a tecnologia do planeta a seu favor, não se sente segura naquele lugar – não por morrer, já que a morte não é sinal de conclusão, mas pelo fato de o planeta ter acesso a suas lembranças e traumas, usando isso contra ela.

O maior exemplo disso é o aparecimento da casa de Selene. É possível explorar a casa apenas quando tem alguma luz acesa dentro da casa e a exploração acontece em primeira pessoa, garantindo uma relação íntima e aterrorizante daquele lugar tão conhecido por Selene, mas que não faz o menor sentido estar materializada em um planeta tão longe da terra. A figura da astronauta aparece diversas vezes dentro da casa, não sabemos quem é e, à medida que avançamos na pouca história de Selene, percebemos que a figura significa muito mais do que um personagem aterrorizante.

A exploração é do planeta, mas também das próprias lembranças de Selene, que se confundem e não fazem muito sentido para entender o porquê de ela estar presa naquele local. 

Para mim, porém, Atropos usa de um trauma muito enraizado em Selene para fazê-la de prisioneira no planeta para que consiga libertar alguma criatura. São conjecturas, já que há mais de uma forma de zerar o jogo e, consequentemente, mais de uma forma de ter acesso – ou não – a uma explicação.

O desespero toma conta de Selene em diversos momentos do jogo, é possível observar o embargo de sua voz nas gravações, muitas vezes desconexas e sem sentido, beirando a loucura. O retorno constante ao início com a nave destruída e as memórias íntimas que se materializam no planeta põe em jogo a sanidade de Selene. A casa é parte do cenário, do ambiente e cada vez que a encontramos ficamos à espera da janela com luz acesa que nos avisa que tem algo nos esperando lá dentro.

O jogo é protagonizado por uma mulher em seus 40 e poucos anos, uma astronauta que precisa lutar contra seu próprio trauma e lembranças difíceis para ter uma chance de sair daquele loop infinito. Returnal é um jogo que requer paciência, e me parece um jogo bem injusto – diversas vezes quis desistir de continuar a jogá-lo, ainda bem que estava dividindo o controle com o marido. O jogo frustra em diversos sentidos, inclusive em saber o que realmente aconteceu para que Selene ficasse aprisionada em Atropos.

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Por Risla Miranda

Brilha os olhos quando fala de direitos humanos e se vê um dia programando games. Discutir numa mesa de bar acompanhada de uma cerveja bem lupulada é o paraíso. Criatividade vai desde meme a criar estratégias de ação de projetos. Curtindo o rolê de contar histórias através de dados.

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