Desde 2018, nós do Coletivo Arte Aberta analisamos as obras indicadas na categoria Melhor Filme na premiação do Oscar. Dentro da série Elas no Oscar, avaliamos a representação e a representatividade das obras, em especial nas categorias:
Sinopse; |
Ótica das mulheres; |
Representatividade feminina na ficha técnica e no elenco principal; e |
Testes de Representação (Bechdel-Wallace, Mako Mori, Tauriel e Barnett). |
Além das análises do Oscar durante esses quatro anos, também estamos desenvolvendo a pesquisa “Investigação de representatividade das mulheres no cinema brasiliense”, que analisa 20 filmes de ficção brasilienses, de 1995 até 2018, com ênfase nos papéis de gênero, a fim de compreender como essas obras retratam as mulheres e os homens. O estudo foi contemplado no Edital do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) Audiovisual – n° 16/2018, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Governo do Distrito Federal. Natália Brandino é a idealizadora do projeto. Ela é membro do Coletivo Arte Aberta e da Kocria Audiovisual.
Com base nos diversos aprendizados nesses anos de análises dos filmes do Oscar e a partir do estudo das obras brasilienses, decidimos revisar os aspectos analisados, expandir os parâmetros, e aprofundá-los para filmes brasileiros, criando assim o Teste Arte Aberta.
Teste Arte Aberta
Contexto do filme |
Sinopse geral do filme – de acordo com a percepção do Arte Aberta evitando spoilers |
A ótica das personagens: mulheres, raça, LGBTQIA+ e PcD – créditos iniciais/finais |
Representatividade |
Representatividade na Ficha Técnica: Direção e Roteiro |
Representatividade no Elenco Principal |
Representação |
Bechdel-Wallace – Mulher |
Tauriel – Mulher |
Mako-Mori – Mulher |
Mako-Mori – Raça |
Mako-Mori – LGBTQIA+ |
Mako-Mori – Pessoas com Deficiência (PCD) |
Estrelas Arte Aberta |
Representatividade
Na ficha técnica, escolhemos analisar apenas as categorias de Direção e de Roteiro, decisão baseada nos aspectos analisados do F-Rated, que destacam filmes dirigidos e escritos por mulheres. Por outro lado, para acresentarmos novas camadas de análise, incluímos a avaliação, quando possível, de raça e LGBTQIA+/PcD, com o intuito de trazer mais interseccionalidade ao nosso teste.
Na avaliação da representatividade do elenco principal, além da presença das mulheres, que já costumávamos pontuar, acrescentamos a análise de raça e LGBTQIA+/PcD para abarcar interseccionalidade.
Representação
Para passar no teste de Bechdel-Wallace deve-se responder às seguintes perguntas em relação ao filme: há mulheres com nome? Elas falam entre si? Sobre outro assunto que não seja homens? Incluímos mais uma questão: a contagem de segundos para que se configure como um diálogo entre mulheres, e não apenas uma simples troca rápida de palavras. A inclusão foi baseado nas adaptações que o teste sofreu no decorrer das críticas. Assim, o filme só será aprovado no Bechdel se o diálogo entre as mulheres contabilizar mais de 60 segundo.
O teste de Tauriel nasceu em homenagem à elfa presente na trilogia cinematográfica de O Hobbit de 2012, que, segundo a idealizadora do teste, ela é uma guerreira tão competente quanto os personagens masculinos. Focando no fato de haver ou não competência da personagem, seja em uma atividade profissional definida ou não. Mas tendo em vista que boa parte dos filmes ressaltam muito mais a carreira masculina à feminina, optamos por atrelar a pergunta a uma atividade profissional, fundamental para a mensagem de independência financeira sobre as mulheres retratadas nas obras.
Na nossa adaptação do teste de Tauriel, questionamos: o filme apresenta mulher(es) com atividade profissional definida? Quão competente são as mulheres em sua atividade profissional (1 a 5 , sendo 1 – muito incompetente e 5 – muito competente)? Houve reconhecimento dessa competência?
Na adaptação desse teste, havia a menção a personagem abandonar o trabalho por interesse romântico, interpretamos que isso tenha muito mais influência na narrativa, por isso resolvemos incorporar na nossa atualização do teste Mako Mori.
O teste Mako Mori é baseado na personagem Mako Mori, do filme “Círculo de Fogo (Pacific Rim)” de 2013, reprovado no teste de Bechdel, mas que possui um arco que foge do estereótipo e independente de personagens masculinos. O “nosso” teste de Mako Mori faz as seguintes perguntas: o filme apresenta alguma mulher? Ela tem arco dramático próprio? O arco dramático é apoiado na narrativa de um homem? O arco dramático é apoiado na narrativa de um par romântico?
A partir de nova interpretação e discussão sobre os testes Mako Mori e Tauriel, decidimos adicionar a pergunta sobre “par romântico” ao Mako Mori, e retirá-la do Tauriel, pois acreditamos que para que a personagem seja considerada como tendo de fato uma narrativa independente, sua história não pode ser apoiada em um par romântico.
Nos estudos sobre testes de representação, encontramos diversos testes vinculados a mulheres (Sexy lamp, Sphinx, Furiosa, Ellen Willis, Análise de Johanson), homem (Barnett), a raça e religião (DuVernay, Nikesh Shukla, Chavez Perez Test, Racial Bechdel, Regra Deggans, The Guardian, The Kent Test, Teste Riz, Teste de Josephs) e LGBTQIA+ (Vito Russo, Harris, Gay Bechdel, Roberts, Finkbeiner).
Esses testes apresentam em maior e menor grau estereótipos vinculados à representação de personagens desses grupos, e o quão presentes esses personagens estão na trama. Por isso, optamos ao invés de incorporar um novo teste relacionado a esses grupos, adaptarmos o Mako Mori, tendo em vista que a presença de personagens com arco dramático pertencentes a esses grupos na narrativa é fundamental para as suas representações. Todavia, nem sempre essa representação é positiva, por isso a Representação dos Personagens também foi adicionada na avaliação de cada grupo.
Assim, buscando uma análise mais profunda e interseccional sobre a representação das personagens nas obras audiovisuais, adaptamos e incluímos o teste de Mako Mori em relação a: Raça, LGBTQIA+ e PcD.
- Mako Mori – Raça: tem personagem não-branco? Tem arco dramático próprio? O arco dramático é apoiado na narrativa de um par romântico?
- Mako Mori – LGBTQIA+: Tem personagem LGBTQIA+? Tem arco dramático próprio? O arco dramático é apoiado na narrativa de um par romântico?
- Mako Mori – PcD (Pessoa Com Deficiência): tem personagem PcD? Tem arco dramático próprio? O arco dramático é apoiado na narrativa de um par romântico?
Além dessas perguntas, acrescentamos a cada teste Mako Mori (Mulheres, Raça, LGBTQIA+ e PcD), uma análise mais qualitativa sobre a diversidade das personagens. Incorporamos essa escala inspirada no Media Diversity ao qual também é avaliado o fato de terem estereótipos negativos vinculados a certos grupos (mulheres, raça, LGBTQIA+ e PcD) nas obras, como apresentamos a seguir.
Pontos para representação dos personagens
Utilizamos uma escala de -1 a 3:
-1 | Apresenta estereótipos negativos |
0 | Não apresenta personagens na categoria |
1 | Apresenta personagem de apoio ou com estereótipos |
2 | Personagem secundário ou com poucos estereótipos |
3 | Apresenta personagem muito bem representada e sem estereótipos, pode ser o personagem principal |
Estrelas Arte Aberta
Ao final do texto de cada filme teremos uma tabela com o resumo: de como o filme se saiu na representatividade de Ficha Técnica e Elenco, de mulheres, raça e LGBTQIA+/PcD (quando houver essa informação), se ele foi aprovado ou reprovado nos testes de Representação Bechdel-Wallace (Mulheres), Mako Mori (Mulheres, Raça, LGBTQIA+ e PcD), Tauriel (Mulheres) e, por fim, como foi a representação dos personagens no que diz respeito a mulheres, raça, LGBTQIA+ e PcD (quando houver), atribuindo uma média de representação nesses aspectos, pontuando o filme com 0 a 3 estrelas.
Assim acreditamos que teremos um panorama completo de análise no ponto de vista da mulher, no que tange se ela aparece minimamente no filme com o Bechdel, se ela tem história com o Mako Mori, se ela tem competência e profissão com o Tauriel, e como é a representação da personagem, positiva ou negativa, além disso, abarcando a interseccionalidade com as análises de Raça, LGBTQIA+ e PcD.
O primeiro filme que vai estrear o Teste Arte Aberta será Um Dia Com Jerusa, de 2020, dirigido por Viviane Ferreira, a segunda cineasta negra a dirigir um longa-metragem solo e lançado comercialmente em salas de cinema no Brasil. O filme brasileiro está disponível na plataforma Netflix.
6 respostas em “Teste Arte Aberta: representação e representatividade no cinema”
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