História de um casamento, escrito e dirigido por Noah Baumbach, é, na verdade, a narrativa sobre o fim de um casamento, sobre o divórcio de Nicole (Scarlett Johansson) e Charlie (Adam Driver).
O filme concorre a seis Oscars: Filme (Noah Baumbach e David Heyman), Ator (Adam Driver), Atriz (Scarlett Johansson), Atriz Coadjuvante (Laura Dern), Trilha Sonora (Randy Newman) e Roteiro Original (Noah Baumbach).
Scarlett Johansson também foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, pelo filme Jojo Rabbit, concorrendo com sua parceira de cena Laura Dern, em História de um Casamento.
Noah Baumbach dirigiu, entre outros, os filmes: Lula e a baleia (indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original em 2006), Margot e o casamento, Frances Ha e Mistress America. Uma curiosidade é que o diretor é casado com Greta Gerwig – que também tem uma obra dirigida por ela concorrendo ao Oscar de Melhor Filme – Adoráveis Mulheres. Ela já atuou em alguns de seu filmes – destaque para o belo e sensível Frances Ha.
No ano passado, o Oscar teve pela primeira vez um filme da Netflix concorrendo em sua categoria principal. Em 2020, a plataforma emplacou dois filmes na categoria de Melhor Filme: O irlandês e História de um casamento.
Sinopse geral do filme
De acordo com a percepção do Arte Aberta evitando spoilers
Charlie (Adam Driver) é um diretor de teatro “novaiorquino”, considerado um sucesso em potencial e um “gênio” pela cena artística indie da cidade. Ele, que é de Indiana, mas sem muita ligação com a família, foi morar em Nova Iorque e construiu, “do nada”, sua companhia de teatro e sua reputação. Nicole (Scarlett Johansson) é sua esposa, mãe de seu filho, atriz de sua companhia. Ela destacou-se cedo em um filme teen, mas “abandonou tudo” para dedicar-se ao teatro do/junto com o marido.
Mas, mais que tudo isso, Nicole também tem seus anseios de vida e seus desejos profissionais.
A narrativa já se inicia no fim. Podemos perceber a relação dos dois a partir de pequenas cenas cotidianas passadas logo no início do filme, a partir de uma carta escrita – mas não lida – um para o outro.
Os dois são ótimos pais – com possíveis erros humanos – de um menino de 8 anos. Dedicam-se ao filho, brincam com ele, dão carinho e o educam.
Porém, não há mais volta. O divórcio é a única saída viável para os dois. Assim, como esse processo vai se desenrolar e os seus impactos na família são as temáticas centrais do filme.
A ótica das mulheres
A narrativa parte – e centra-se – no processo dolorido (e caro) de um divórcio. Mas as perspectivas desse divórcio são diferentes para Charlie e Nicole.
Neste aspecto, considero que, para Nicole, é um processo de encontrar-se (ou re-encontrar-se), de não ser mais a atriz casada com o dramaturgo gênio, mas de se descobrir profissionalmente, de buscar o seu canto no mundo, de na verdade decidir o que ela quer e o que ela não quer, sem mais seguir o fluxo do casamento e da carreira do marido sem questionamentos.
Charlie, ao que parece, mesmo com todos os problemas, continuaria nesta “zona de conforto”, morando no seu lugar escolhido, com sua companhia de teatro, com suas “notas” sobre atores e atrizes – com seus acertos e seus erros, mas no mesmo lugar.
Representatividade feminina na ficha técnica
Direção, Roteiro, Produção, Produção executiva, Direção de fotografia, Direção de arte, Figurino, Trilha sonora, Edição de som, Mixagem de som, Edição, Efeitos especiais e Maquiagem.
Apesar de ser um filme que na representação (personagens, relevância dramática, tempo de tela) valoriza a participação das mulheres, a representatividade ainda é muito desigual. Nas funções destacadas como principais, há a presença de apenas 28% de mulheres.
Representatividade feminina no elenco principal
Créditos finais
Nos créditos finais, 11 personagens são destacados, sendo 6 homens e 5 mulheres, tendo assim a presença de 45% de mulheres no elenco principal. De fato, há personagens mulheres fortes.
Confira os personagens destacados:
Charlie | Adam Driver |
Nicole | Scarlett Johansson |
Nora Fanshaw | Laura Dern |
Bert Spitz | Alan Alda |
Jay Marotta | Ray Liotta |
Sandra | Julie Hagerty |
Cassie | Merritt Wever |
Henry | Azhy Robertson |
Frank | Wallace Shawn |
Nancy Katz | Martha Kelly |
Carter Mitchum | Mark O’Brien |
Bechdel-Wallace
As mulheres têm nome? Se falam? É sobre homem?
Aprovado.
Aqui, temos uma decisão complexa. Embora o portal https://bechdeltest.com/ considere que o filme não passa no teste, acreditamos que há sim um sentido na sua aprovação – inclusive em corroboração com outros sites.
Consideramos a aprovação do teste por entender que as conversas, principalmente entre Nora e Nicole, por mais que partam – e em muitos momentos centram-se mesmo em Charlie – abordam assuntos que transcendem o “falar sobre homem”. Mesmo a primeira vez que Nicole vai encontrar Nora, a advogada pergunta como ela está, fala que já a viu atuar ou mesmo sobre a sua vida pessoal – filhos, livro lançado. E só então iniciam a falar sobre o relacionamento de Nicole. E mais: há uma troca de conversas sobre maternidade (discurso icônico sobre as exigência de ser mãe e a comparação com a Virgem Maria). Enfim, acreditamos que mesmo em assuntos intercalados pela conversa específica sobre Charlie, há diálogos sobre outros assuntos.
Há conversas que não abordam Charlie entre Nicole e sua mãe também, mas o nome da personagem não é falado – apenas é referenciada como mãe e vovó.
Mako-Mori
Tem mulher? Tem arco dramático? É apoiado no arco do homem?
Aprovado.
A história tem sua força exatamente na busca de Nicole por essa nova vida, separada de Charlie, e suas escolhas.
Tauriel
Tem mulher? Ela só está na trama para ser par romântico/possui competência em algo?
Aprovado.
As competências de Nicole podiam estar adormecidas, mas são acordadas nesse processo. Há uma cena que vale destacar, quando Nicole é indicada a um Emmy e Charlie comenta: “ela é uma ótima atriz”. E, então, Nicole fala que a indicação foi por direção. Não que a função de atriz já não fosse a sua competência, mas vale para destacar apenas essa ruptura de Nicole em relação a Charlie e a busca por seus interesses.
Barnett
Tanto homens quanto mulheres falam entre si só sobre o sexo oposto? Os personagens masculinos têm comportamento atrelado à violência que trate como humor/falta de seriedade/normal/aceitável/como se alguém merecesse a violência?
Aprovado.
Há uma cena de destaque de violência, quando Charlie está conversando com Nicole na sua casa nova e eles acabam discutindo e ele dá um murro na parede. Embora haja este ato de violência (característico de uma masculinidade tóxica), a ação não é encarada com ironia ou sendo aceitável.
Resumo dos testes de representação e representatividade
Representatividade feminina na ficha técnica | 28% de mulheres nas principais funções técnicas |
Representatividade feminina no elenco principal | 45% de mulheres no elenco principal |
Bechdel-Wallace | Aprovado |
Mako-Mori | Aprovado |
Tauriel | Aprovado |
Barnett | Aprovado |
2 respostas em “Elas no Oscar 2020: História de um casamento | Testes de representação e representatividade”
[…] História de um casamento, escrito e dirigido por Noah Baumbach, é, na verdade, a narrativa sobre o fim de um casamento, sobre o divórcio de Nicole (Scarlett Johansson) e Charlie (Adam Driver). O filme concorre a seis Oscars: Filme (Noah Baumbach e David Heyman), Ator (Adam Driver), Atriz (Scarlett Johansson), Atriz Coadjuvante (Laura Dern), Trilha Sonora (Randy Newman) e Roteiro Original (Noah Baumbach). […]
[…] personagem do filme brasileiro “Separações”, e Nicole, personagem do filme “História de um casamento“. As duas são casadas com diretores egocêntricos do teatro, mas que tomam cada uma seu rumo […]