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Elas no Oscar 2022:  Amor, sublime amor | Teste Arte Aberta

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Amor, sublime amor, dirigido por Steven Spielberg e com roteiro de Tony Kushner, é uma nova adaptação da peça musical de 1957, de Arthur Laurents, com músicas de Leonard Bernstein e letras de Stephen Sondheim.

O musical já teve uma adaptação para o cinema em 1961, dirigida por Robert Wise e Jerome Robbins, e levou um total de dez estatuetas (de onze indicações) na edição do Oscar que participou, incluindo o Oscar de atriz coadjuvante e ator coadjuvante para Rita Moreno e George Chakiris.

Dessa vez, o filme vem com um total de sete indicações: atriz coadjuvante (para Ariana DeBose, no mesmo papel que rendeu a Rita Moreno seu Oscar em 1962), filme, design de produção, som, figurino, fotografia e direção.  Cabe destacar que Ariana DeBose recentemente recebeu o SAG Awards, o Globo de Ouro e o BAFTA de atriz coadjuvante, sendo a favorita ao Oscar.

Sinopse geral do filme

De acordo com a percepção do Arte Aberta evitando spoilers

O filme conta uma clássica história trágica de amor entre dois jovens, Maria e Tony, que se encontram em lados opostos de uma guerra entre duas gangues (os Jets e os Sharks).

Maria (Rachel Zegler) é irmã de Bernardo (David Alvarez), o líder da gangue de porto-riquenhos (os Sharks), enquanto Tony (Ansel Elgort) é um ex-membro e fundador de uma gangue de meninos imigrantes brancos do bairro (os Jets), que é “arrastado” pelo seu atual líder, Riff (Mike Faist), a participar de uma luta marcada entre as duas gangues.

A ótica de gênero, raça, LGBTQIA+ e PcD

Existe por trás toda uma questão étnico-racial, social e xenofóbica que é tratada ao longo do filme, principalmente em relação ao preconceito com imigrantes latinos. Embora seja importante destacar que ser “latino” não é definido como uma questão racial, é uma marcação étnico-social relacionada a um conjunto de língua, cultura, tradições e, por vezes, marcações raciais, que são razões encontradas por determinados grupos nos Estados Unidos para hostilizar e discriminar imigrantes e todos aqueles que são os “outros” ao Sul do país. Essa é uma questão real, vivida na pele por imigrantes e que é retratada extensivamente no audiovisual estadunidense.

Com isso dito, Amor, sublime amor trata de uma história de amor entre o filho de imigrantes poloneses, Tony, e uma imigrante porto-riquenha, Maria. A gangue dos Jets, chefiada por Riff, abertamente diz que os Sharks (a gangue comandada por Bernardo) “não são iguais a eles”, são diferentes, são o outro.

O filme é uma readaptação que realiza algumas “reparações”, principalmente em relação à representação dos personagens porto-riquenhos. No filme de 1961, Maria é vivida por Natalie Wood (também conhecida como Natalia Nikolaevna Zakharenko), Bernardo é vivido por George Chakiris (filho de imigrantes gregos) e tanto seus personagens quanto Anita, vivida por Rita Moreno, receberam uma mão de maquiagem gigantesca para torná-los mais “marrons”. Dessa vez, no filme de 2021, os atores não sofrem transformações para fazerem seus papéis.

Anita é vivida dessa vez por Ariana DeBose, uma atriz negra e queer, cujo pai é porto-riquenho, e Bernardo é vivido por David Alvarez, filho de imigrantes cubanos que se mudaram para Quebec, no Canadá. Além disso, percebe-se na nova adaptação um teor menos “colonial” para os personagens porto-riquenhos.

Na canção America, Anita canta sobre as belezas e riquezas da ilha de Porto Rico (Porto Rico / Ilha adorável / Ilha de brisas tropicais / Sempre com abacaxis crescendo / sempre com as flores de café desabrochando), enquanto na versão de 1961, Anita tem uma visão bem menos favorável de sua terra natal (Porto Rico / Devoção do meu coração / Que ele se afunde no oceano / Sempre com tornados assoprando / sempre com a população aumentando). Em outro ponto, no que é talvez uma das únicas adições às canções originais do filme, Bernardo e os Sharks cantam juntos alguns versos de “La borinqueña”,  o hino porto-riquenho, porém em sua versão mais revolucionária, de 1868, com as letras de Lola Rodriguez de Tió: “Nosotros queremos la libertad / y nuestros machetes nos la darán…”.

Do ponto de vista das mulheres no filme, cabe destacar as personagens Maria e Anita. Por se tratar de uma história de amor, o arco dramático de Maria está muito centrado em seu par romântico, Tony. Ao contrário da versão de 1961, no entanto, Maria se mostra um pouco mais independente do irmão e é ela quem inicia o primeiro beijo, para a surpresa de Tony.

Já a personagem Anita é uma mulher forte, independente e sexualmente ativa. Ela forma par romântico com Bernardo, mas não orbita em volta do namorado. Anita se posiciona contra a ideia de ser uma “mãe de seis filhos” e dona de casa, diz que trabalha como costureira para juntar dinheiro para um dia ter sua própria loja e outras pessoas costurando para ela. Anita também é a única personagem do elenco principal que é negra, e essa é uma questão retratada em diálogos do filme, onde ela questiona se não faz parte da família, ou se tem menos direitos na casa, só por ser uma mulher negra.

Uma das cenas mais fortes do filme é, ao final, uma agressão sofrida por Anita, que quase é estuprada por um grupo de Jets. Na versão de 2021, as garotas que andam com os Jets tentam salvar Anita. Apesar de todas as animosidades e divergências, tentam ajudar quando percebem o que está para acontecer, e são expulsas da loja. Anita acaba sendo salva por Valentina (Rita Moreno), a dona da loja, que se mostra muito triste e decepcionada com os garotos. 

Essa personagem, inclusive, foi adicionada na nova versão do filme. Em 1961, o dono do estabelecimento, que salva Anita e dá emprego a Tony, atuando como uma espécie de mentor do protagonista, é um homem. Na readaptação, Doc faleceu e foi substituído por sua esposa Valentina, uma mulher latina, bondosa e firme, que acolhe Tony, mesmo ele sendo de um grupo que rivaliza com os latinos. Além de ser uma homenagem a Rita Moreno, que tem a oportunidade de fazer parte novamente da história que lhe rendeu o Oscar, é uma boa chance de aumentar os personagens femininos da obra.

Por fim, quanto à ótica LGBTQIA+, o filme de 1961 trazia um personagem ambíguo, Anybodys, que é visto como uma menina que apresentava características, comportamentos e expressões de gênero tipicamente masculinas, na medida em que gostaria de se tornar um membro dos Jets, fazendo parte da gangue e sendo reconhecida como tal.

Na versão de 2021 esse personagem é vivido por Iris Menas, pessoa não binária, e tem um pouco mais de profundidade e diálogos, apesar de não ter um arco dramático próprio. Em vários momentos, ele é quem observa os dois lados da história, transitando “nas sombras” e colhendo informações para os Jets. Ao longo de todo o filme ele é hostilizado pelos outros Jets, que o tratam como mulher e ele se irrita, deixando evidente que quer ser tratado como homem. No final do filme, ele recebe o reconhecimento da gangue, que o chama de garoto uma vez, o que o deixa bem feliz. Dessa forma, apesar da ambiguidade, há um diálogo em que isso é dito expressamente e é possível perceber que ele se identifica como um homem trans.

Não há personagens com deficiências no filme.

Representatividade (gênero, raça e LGBTQIA+/PcD) na ficha técnica: Direção e roteiro*

Baseado no F-Rated

A direção é de Steven Spielberg, um homem cis, hétero e branco. O roteiro é assinado por Tony Kushner, um homem cis, gay e branco. Kushner venceu um prêmio Pulitzer pela peça “Angels in America: a Gay fantasia on national themes”, e já se pronunciou em entrevistas como judeu, gay e socialista.

Dessa forma, a ficha técnica principal (direção e roteiro) é 100% composta por homens brancos cis e sem deficiência, e 50% hétero e 50% homossexual.

Representatividade (gênero, raça e LGBTQIA+/PcD) no elenco principal*

Créditos iniciais/finais

Nos créditos finais temos 14 nomes em destaque: Ansel Elgort, Ariana DeBose, David Alvarez, Mike Faist, Brian D’Arcy James, Corey Stoll, Rita Moreno, Rachel Zegler, Josh Andrés Rivera, Ana Isabele, Ilda Mason, Iris Menas, Julius Anthony Rubio e Tanairi Sade Vasquez.

Temos, portanto, seis mulheres (aproximadamente 42,85%) no elenco principal, uma pessoa não-binária (7,15%) e sete homens (50%).

Iris Menas se identifica como lésbica, Ariana DeBose se identifica como queer e o ator Julius Anthony Rubio se identifica como gay, portanto três membros do elenco se identificam abertamente como LGBTQIA+ (21,45%).

Dos 14 nomes em destaque, temos seis pessoas  (42,85%) não brancas (Ariana DeBose, Ilda Mason, Tanairi Sade Vasquez, Rachel Zegler, Ana Isabelle e Julius Anthony Rubio). 

Análise da Representação das Mulheres

Bechdel-Wallace

As mulheres têm nome? Se falam por mais de 60 segundos sobre outro assunto que não seja homens? 

Aprovado. 

O filme é aprovado por conta de um diálogo entre Maria e Anita, logo no começo do filme, em que conversam sobre o vestido que Maria usará no baile.

Mako-Mori 

Tem mulher? Tem arco dramático próprio? O arco dramático é apoiado na narrativa do homem? O arco dramático é apoiado na narrativa de um par romântico? 

Aprovado. 

Mesmo se tratando de uma história de amor, em que o arco dramático dos personagens principais está interligado, a personagem Anita é uma das mais bem trabalhadas ao longo da narrativa, e possui desejos e aspirações próprios, que não envolvem seu relacionamento com Bernardo. Maria é responsável ainda por uma tomada de decisão que altera o destino de dois personagens do filme. 

Tauriel 

Houve mulher(es) com atividade profissional definida? Quão competentes são as mulheres em sua atividade profissional (1 a 5 , sendo  1 – muito incompetente e 5 – muito competente) Houve reconhecimento dessa competência?

Aprovado. Nota 3.

Anita trabalha como costureira e tem o plano de se tornar dona de uma loja de costura. Já Maria trabalha como faxineira em uma loja de conveniência, junto com outras mulheres do núcleo “latino” do filme. E Valentina é dona de uma loja, que no passado, pertenceu a seu marido.

Embora todas trabalhem, não há expressamente o reconhecimento de suas competências por parte de outras pessoas, mas sim delas mesmas. Anita se enxerga como uma mulher esforçada e com planos para o futuro, e ela aparentemente é respeitada nesse quesito. Por outro lado, o personagem de Chino (Josh Andrés Rivera), que aparece como possível par romântico de Maria, no começo do filme é apresentado como um estudante esforçado, que tem uma carreira promissora pela frente. Apesar de aparecer bem menos no filme do que Anita, ele tem sua competência reconhecida pelos demais, o que não acontece com ela de forma tão evidente.

Representação dos Personagens

Como é a representação das personagens mulheres (escala de -1 a 3), sendo -1, estereótipos negativos;  0, não tem; 1, personagem de apoio ou com estereótipos; 2, personagens secundários ou com poucos estereótipos; 3, muito bem representada e personagem principal sem estereótipos

3 – Muito bem representada e personagem principal sem estereótipos.

É impossível dizer que não há estereótipos no filme, porém as personagens mulheres são bem representadas, principalmente se levarmos em consideração Anita. Maria, apesar de ser uma das personagens principais do filme (considerando que são o par Maria/Tony) não tem tanto aprofundamento quanto Anita. De todo modo, é uma personagem fundamental para o filme e tem uma participação muito forte e importante, principalmente no final, sendo responsável por protagonizar uma das cenas mais dramáticas da narrativa.

Análise da Representação de Raça

Mako Mori

Tem personagem não branco? Tem arco dramático próprio? O arco dramático é apoiado na narrativa de um par romântico? 

Aprovado. 

Novamente por conta de Anita.

Representação dos Personagens

Como é a representação dos personagens não brancos (escala de -1 a 3), sendo  -1, estereótipos negativos;  0, não tem; 1, personagem de apoio ou com estereótipos; 2, personagens secundários ou com poucos estereótipos; 3, muito bem representado e personagem principal sem estereótipos

2 – Personagens secundários ou com poucos estereótipos.

Anita não é a personagem principal da história. Um destaque negativo pode ser a representação do único homem negro no filme, um gangster que não tem o nome apresentado e nos créditos é citado como Abe (Curtiss Cook), que é responsável por vender uma arma para Riff e acaba sendo estereotipado como um criminoso.

Análise da Representação LGBTQIA+

Mako Mori

Tem personagem LGBTQIA+? Tem arco dramático próprio? O arco dramático é apoiado na narrativa de um par romântico? 

Reprovado. 

Há um personagem LGBTQIA+ no filme, Anybodys (Iris Menas), porém não possui arco dramático próprio e funciona mais como apoio para contar alguns elementos da narrativa.

Representação dos Personagens

Como é a representação dos personagens LGBTQIA+  (escala de -1 a 3), sendo -1, estereótipos negativos;  0, não tem; 1, personagem de apoio ou com estereótipos; 2, personagens secundários ou com poucos estereótipos; 3, muito bem representado e personagem principal sem estereótipos

1 – Personagem de apoio ou com estereótipos.

Apesar de não ser um personagem estereotipado, e ser uma revisão de um personagem bem mais ambíguo, presente na versão original do filme, de 1961, o personagem Anybodys é totalmente de apoio para o filme.

Análise da Representação PcD (Pessoa com Deficiência)

Mako-Mori

Tem personagem PcD? Tem arco dramático próprio? O arco dramático é apoiado na narrativa de um par romântico? 

Reprovado.

Não há pessoas com deficiência no elenco principal.

Representação dos Personagens 

Como é a representação dos personagens PcD (escala de -1 a 3), sendo -1, estereótipos negativos;  0, não tem; 1, personagem de apoio ou com estereótipos; 2, personagens secundários ou com poucos estereótipos; 3, muito bem representado e personagem principal sem estereótipos)

0 – Não tem.

 Resumo do Teste Arte Aberta

Representatividade

Representatividade (gênero, raça e LGBTQIA+/PcD) na ficha técnica (Direção e roteiro)

Representatividade (gênero, raça e LGBTQIA+/PcD) no elenco principal (Atores e atrizes)

Representação

Estrelas Arte Aberta: 2

Por Rafael Maximiniano

Historiador por formação, ainda não encontrou o trabalho perfeito em que só precise ler e assistir obras de ficção científica e fantasia durante o dia todo. Gamer nas horas vagas e viciado em café, bem antes de surgirem aqueles memes ridículos de minions no facebook falando “Não converse comigo antes do meu café”.

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