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Elas no Oscar 2022: Licorice Pizza | Teste Arte Aberta

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Licorice Pizza, dirigido e roteirizado por Paul Thomas Anderson, foi indicado a três categorias no Oscar 2022: Filme, Diretor e Roteiro Original. 

O diretor tem filmes conhecidos pela crítica e pelo público. PTA dirigiu nove longas-metragens: Hard Eight (1996), Boogie Nights (1997), Magnolia (1999), Punch-Drunk Love (2002), There Will Be Blood (2007), The Master (2012), Inherent Vice (2014), Phantom Thread (2017) e Licorice Pizza (2021). No Oscar de 2018, o seu Trama Fantasma foi indicado para seis estatuetas: Filme; Ator (Daniel Day-Lewis); Atriz Coadjuvante (Lesley Manville); Trilha Sonora Original (Jonny Greenwood); Figurino (Mark Bridges); e Direção (Paul Thomas Anderson). O filme levou somente o prêmio de Figurino.

Licorice Pizza é um filme mais leve de PTA, ambientado na década de 70, a mesma época do icônico Boogie Nights, mas sem a temática daquele. O filme é iluminado, colorido e está sempre em movimento, assim como as personagens – correndo a pé ou de carro.

Os dois atores principais fazem a sua estreia no cinema: Alana Haim e Cooper Hoffman. De dia, tudo parece mais infantil e possível, de noite, temos algumas surpresas especialmente com a interpretação de atores tão conhecidos – como Bradley Cooper e Sean Penn – em situações de ataques de ego, podemos colocar assim. É como se o filme mostrasse aos personagens mais jovens o que os espera ou o que devem evitar.  

Alana Haim é a mais nova das três irmãs que compõem a banda de indie rock HAIM, para quem Anderson dirigiu vários videoclipes. Suas irmãs, Danielle e Este, interpretam as irmãs da personagem Alana. E seus pais reais interpretam seus pais no filme. Cooper Hoffman é filho de Philip Seymour Hoffman, com quem Anderson trabalhou em diversos filmes. Ele interpreta Gary Valentine – personagem inspirado em Gary Goetzman, parceiro de produção de Tom Hanks, que foi ator em sua juventude.

É característica dos filmes de Anderson a boa trilha sonora (com destaque especial para a de Magnolia). Para a trilha de Licorice, Anderson trabalha com o seu colaborador frequente, o guitarrista do Radiohead, Jonny Greenwood. 

Uma curiosidade sobre o filme é que não há uma referência direta do título no filme. De acordo com o roteirista e diretor Paul Thomas Anderson, na verdade, o título Licorice Pizza (Pizza de Alcaçuz) é o nome de uma cadeia de lojas de discos de vinil do sul da Califórnia, que já não existe mais. Assim, é uma referência tácita à década de 70.

Sinopse geral do filme

De acordo com a percepção do Arte Aberta evitando spoilers

Licorice Pizza é uma história de amor e de amadurecimento (coming of age) ambientada em 1973. Gary Valentine (Cooper Hoffman), um garoto de 15 anos, muito independente para a sua idade, conhece Alana Kane (Alana Haim), uma mulher de 25 anos entediada e sem tantas perspectivas profissionais, que trabalha como assistente numa empresa que tira fotos para o anuário de escolas do ensino médio. 

Gary está vendo sua carreira de ator infantil chegar ao fim e, assim, embarca em diversos empreendimentos, abrindo e fechando negócios, e, no processo, lidando com adultos de igual para igual. Gary fala para Alana no primeiro encontro deles: “você deveria ter o seu próprio negócio”. Ele realmente parece levar isso muito a sério e faz a transição de ator infantil para empreendedor de forma muito rápida e sempre de cabeça. Alana é bem direta sobre a relação dos dois e fala que eles não podem ser namorada e namorado. Ela também está procurando encontrar seu rumo profissional e seus propósitos, enquanto navega juntamente com Gary pelos negócios que criam.

A ótica de gênero, raça e LGBTQIA+/PcD 

Alana e Gary dividem o protagonismo dessa obra. Apesar de Alana aparecer como o interesse romântico de Gary e passar a conviver com ele e seus amigos, o filme apresenta muito de sua jornada de autodescoberta, experimentando diferentes empregos, prioridades e personalidades e vendo o que se encaixa em quem ela quer ser. Quando conhece Gary, Alana fala que não gosta do seu trabalho e que não sabe o que quer para seu futuro, mas ela vai fazendo testes e cada vez mais aposta em caminhos que possam a completar, como o trabalho no gabinete do político Joel Wachs. Alana também tem momentos de interação e conversas com suas irmãs.

A mãe de Gary também parece ser uma mulher independente, autônoma e bem sucedida em sua empresa de relações públicas, mas não temos tanto tempo de tela com ela para que a personagem pudesse ser melhor compreendida. 

Joel Wachs é um político que atrai bandeiras progressistas e jovens interessados em contribuir com essas pautas. Ele é candidato a prefeito. Apesar de apresentar essa ideia de um cara jovem e descolado, que não tem tempo para relações, apenas para a sua carreira; descobrimos ao longo da narrativa que  Wachs na verdade é gay e esconde sua relação com o seu namorado por medo de retaliação em sua carreira. Em uma cena, inclusive, Joel liga para Alana para que ela os encontre em um bar e finja que é a namorada do seu par. 

O personagem Joel Wachs é inspirado em um político real (que cedeu seu nome ao filme), não assumido na época. O Wachs da vida real se assumiu publicamente apenas em 1999 aos 60 anos. Para Wachs:

“a repressão foi enorme”. (…) “Eu conhecia muitos gays na indústria cinematográfica – os mais conhecidos como Rock Hudson, mas também muitos menos conhecidos. Todo mundo naqueles dias, as pessoas estavam se escondendo, porque as consequências de sair do armário seriam tão grandes. Tanta coisa mudou desde então, para o bem. Na verdade, estou feliz que [Anderson] tenha usado meu nome, porque agora podemos ter essas discussões”.

Representatividade (gênero, raça e LGBTQIA+/PcD) na ficha técnica: Direção e Roteiro*

Baseado no F-Rated

A direção e o roteiro do filme são de Paul Thomas Anderson. Assim, a ficha técnica principal (direção e roteiro) é 0% composta por mulheres, não brancos, LGBTQIA+ ou PcD.

Representatividade (gênero, raça e LGBTQIA+/PcD) no elenco principal*

Créditos iniciais/finais

Nos créditos finais, o diretor faz a escolha de apontar 33 atores e atrizes. Como a ideia aqui é de alguma forma selecionar o elenco principal, vamos analisar os nomes que aparecem sozinhos em tela cheia nos créditos, pois alguns aparecem conjuntamente com outros, com a divisão da tela ao meio. Assim, são 21 os principais atores e atrizes: Alana Haim (Alana Kane), Cooper Hoffman (Gary Valentine), Skyler Gisondo (Lance), Mary Elizabeth Ellis (Momma Anita), John Michael Higgins (Jerry Frick), Christine Ebersole (Lucy Doolittle), Harriet Sansom Harris (Mary Grady), Sean Penn (Jack Holden), Tom Waits (Rex Blau), Bradley Cooper (Jon Peters), Ryan Heffington (Steve), Nate Mann (Brian), Benny Safdie (Joel Wachs), Joseph Cross (Matthew), Danielle, Este, Griff Giacchino (Mark), James Kelley (Tim), Will Angarola (Kirk), Emily Althaus (Kiki Page), Milo Herschlag (Greg Valentine).

Das 21 pessoas, 7 são mulheres (33,3%); não há nenhum não-branco; só identificamos um ator abertamente gay (4,7%). Não há menção dos atores serem PcD.

Análise da Representação das Mulheres

Bechdel-Wallace

As mulheres têm nome? Se falam por mais de 60 segundos sobre outro assunto que não seja homens? 

Aprovado.

Apesar de o filme centrar grande parte do tempo de tela na relação entre Alana, Gary e seus amigos, há cenas de diálogos entre Alana e suas irmãs, especialmente Danielle. Há também uma longa cena na qual Alana é entrevistada por uma agente de talentos (Mary Grady, interpretada por Harriet Sansom Harris), elas falam sobre as habilidades da Alana, ou seja, esta cena passa tranquilamente no teste de Bechdel. 

Mako-Mori 

Tem mulher? Tem arco dramático próprio? O arco dramático é apoiado na narrativa do homem? O arco dramático é apoiado na narrativa de um par romântico? 

Aprovado. 

Sim, Alana tem seu próprio arco dramático, não há dúvida. Apesar de estar na maioria do tempo topando as empreitadas de Gary, ela está em busca do seu propósito profissional e de vida. Nós a vemos se transformar na tela, tendo como um dos pontos de virada a decisão de ir trabalhar no gabinete do político Joel Wachs, uma decisão que é tomada por si mesma.

Tauriel 

Houve mulher(es) com atividade profissional definida? Quão competente são as mulheres em sua atividade profissional (1 a 5 , sendo  1 – muito incompetente e 5 – muito competente) Houve reconhecimento dessa competência?

Aprovado. 

Apesar de Alana começar o filme mostrando-se entediada e sem perspectiva de rumo profissional, no seu ponto de virada, quando ela começa a trabalhar no escritório do político Joel Wachs, ela se destaca e é elogiada pela equipe. Ela é quem avisa ao Gary sobre a relação da crise do petróleo com a empresa de colchões d’água deles. Além disso, Alana é responsável por uma das cenas importantes do filme – a direção do caminhão sem gasolina pelas ladeiras! Assim, consideramos a nota 3 para a sua competência.

Representação dos Personagens

Como é a representação dos personagens mulheres (escala de -1 a 3), sendo -1, estereótipos negativos;  0, não tem; 1, personagem de apoio ou com estereótipos; 2, personagens secundários ou com poucos estereótipos; 3, muito bem representada e personagem principal sem estereótipos

3 – muito bem representada e personagem principal sem estereótipos

Escolhemos o número três principalmente por causa de Alana, que é protagonista do filme e tem destaque na trama. Além dela temos a mãe de Gary, Mary – a agente de talentos, que se mostra competente, mesmo com pouco tempo de tela.

Análise da Representação de Raça

Mako Mori

Tem personagem não branco? Tem arco dramático próprio? O arco dramático é apoiado na narrativa de um par romântico? 

Reprovado. 

Dentre as 21 pessoas do “elenco principal”, não há nenhum personagem não-branco. Há uma mulher negra com uma ponta, Brenda (Iyana Halley), que vende o colchão de água para Gary, produto que ele investirá em uma de suas tentativas de negócios.

Representação dos Personagens

Como é a representação dos personagens não-brancos  (escala de -1 a 3), sendo  -1, estereótipos negativos;  0, não tem; 1, personagem de apoio ou com estereótipos; 2, personagens secundários ou com poucos estereótipos; 3, muito bem representado e personagem principal sem estereótipos

 0 – não tem

Consideramos não ter já que a participação a qual descrevemos acima – Brenda – é apenas uma ponta no filme.

Análise da Representação LGBTQIA+

Mako Mori

Tem personagem LGBTQIA+? Tem arco dramático próprio? O arco dramático é apoiado na narrativa de um par romântico? 

Reprovado.

Apesar de ter um personagem gay importante na trama (Joel Wachs), ele aparece como apoio ao arco dramático da protagonista Alana. Não temos conhecimento sobre o seu histórico e não temos como perceber o seu ponto de virada.

Representação dos Personagens

Como é a representação dos personagens LGBTQIA+  (escala de -1 a 3), sendo -1, estereótipos negativos;  0, não tem; 1, personagem de apoio ou com estereótipos; 2, personagens secundários ou com poucos estereótipos; 3, muito bem representado e personagem principal sem estereótipos)

1 – personagem de apoio ou com estereótipos

Apesar de Joel Wachs ter uma importância na narrativa, o seu posicionamento de não assumir sua homosexualidade para não prejudicar a sua carreira reforça estereótipos negativos da comunidade LGBTQIA+. Claro, vale a ressalva que o filme é ambientado na década de 70.

Análise da Representação PcD (Pessoa Com Deficiência)

Mako-Mori

Tem personagem PcD? Tem arco dramático próprio? O arco dramático é apoiado na narrativa de um par romântico? 

Reprovado.

Não há representação de PcD (Pessoa com Deficiência).

Representação dos Personagens 

Como é a representação dos personagens PcD (escala de -1 a 3), sendo -1, estereótipos negativos;  0, Não tem; 1, personagem de apoio ou com estereótipos; 2, personagens secundários ou com poucos estereótipos; 3, muito bem representado e personagem principal sem estereótipos)

0 – Não tem.

Resumo do Teste Arte Aberta

Representatividade

Representatividade (gênero, raça e LGBTQIA+/PcD) na ficha técnica (Direção e roteiro)

Representatividade (gênero, raça e LGBTQIA+/PcD) no elenco principal (Atores e atrizes)

Representação

Estrelas Arte Aberta: 1,3

Por Lina Távora

É uma cearense que mora em Brasília, jornalista fora da redação, mestre em comunicação/cinema, feminista em construção, mãe com todo o coração e tem no audiovisual uma paixão constante e uma fé no seu impacto para uma mudança positiva na sociedade.

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