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Carros 3 | Crítica

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Cruz Ramirez e a Síndrome da Impostora

O terceiro filme da franquia Carros, da Disney e Pixar, passa raspando no teste de Bechdel (o que os outros dois primeiros não chegam nem perto). Além da já conhecida Sally, que perde um pouco de presença nesta sequência, conhecemos Cruz Ramirez, a “treinadora” de um centro de alta tecnologia para carros corredores; Maria Busão, uma ônibus escolar que compete em “corridas de demolição”; Natália Certeza, estatística que analisa os dados dos corredores; e Louise “Nada” Modesta, representante feminina da velha guarda das corridas.

São personagens que quebram estereótipos de gêneros e, mesmo de forma pontual, colocam a presença das “mulheres” – personificação dos carros – como pontos de virada nesta narrativa.

Imagem de Cruz Ramirez.
Cruz Ramirez, na voz, em inglês, de Cristela Alonzo; em português foi dublada por Giovanna Ewbank

Cruz Ramirez

O protagonista solo ainda é o Relâmpago McQueen, carro de corrida que mudou a sua forma de encarar a vida ao se aproximar da pequena cidade de Radiator Springs, lá no primeiro filme da franquia, em 2006. Agora, após 11 anos, ele já não é mais um jovem corredor, e sim, passa por uma “crise pessoal” ao ter que enfrentar nas pistas a nova leva dos carros ultra tecnológicos. Após um acidente mas, mesmo assim, decidido a continuar a correr, Relâmpago vai para um centro de treinamento de seu novo patrocinador. E lá conhece Cruz Ramirez.

A história de Cruz é a exemplificação do que nós mulheres vivenciamos como a “síndrome da impostora”.

Cruz Ramirez é designada para treinar McQueen, que após não se adaptar às esteiras e aos simuladores do centro esportivo, decide fazer seu treinamento “sujando os pneus”. Os dois embarcam numa “road trip” de descobertas e retorno às origens das corridas. Cruz demora a se acostumar ao novo estilo de corrida, mas vai se destacando e superando os “mestres”, mesmo sendo “colocada no seu lugar” constantemente.

“Você não entende! Você não é uma corredora, você é apenas uma treinadora”!

Essas são frases ditas – por carros homens – a Cruz. Mas ela entende sim, ela cresceu querendo ser uma corredora, destacando-se na área. Na sua primeira corrida, porém, sentiu-se inadequada, todos a sua volta eram “diferentes”, eram mais fortes. O que ela estava fazendo ali? Pronto. Desistiu. Virou treinadora.

Esta é a sensação da síndrome da impostora.

“A Síndrome da Impostora corresponde a essa autopercepção pela qual uma pessoa se considera menos qualificada para uma determinada função, cargo ou desempenho que seus companheiros”, afirma  Jose A. M. Vela, em matéria no El País.

E completa: “a socialização diferenciada, pela qual homens e mulheres são educados em papéis distintos e em valores distintos, cria o caldo de cultura perfeito para que as mulheres sintam de forma maciça a síndrome da impostora”.  

Ver narrada esta história em um filme infantil – e de carros – é relevante para que as meninas percebam essa sensação e possam combatê-la. Cruz, com a “ajuda” de Relâmpago, vai ter sua chance de perceber que ela é sim adequada, que as pistas também são espaços a serem conquistados por mulheres.

A representação da superação de Cruz ainda está, infelizmente, associada à figura masculina de McQueen.

Mas as mulheres, neste filme, estão lá, presentes e mudando a história. Elas só precisam se unir e deixar de serem apenas pontos isolados ao redor de tantas outras figuras masculinas.

Mas vamos conhecer um poucos das outras mulheres/carros do filme:

Imagem de Louise Nash
Louise “Nada” Modesta, na voz de Margo Martindale na versão em inglês, em português dublada por Mariangela Cantú

Louise “Nada” Modesta

Outra personagem que vale a pena aprofundar é Louise “Nada” Modesta, única mulher da gangue da velha guarda dos corredores. A história de Louise – inspirada em Louise Smith (“Fisrt Lady of Racing”), que correu na Nascar de 1945 a 1956, ganhando 38 competições – ilustra a de tantas outras mulheres que tiveram que vencer barreiras para conseguir se inserir em esportes considerados masculinos.

imagem de Maria Busão
Maria Busão, dublada em inglês por Lea DeLaria, em português por Vânia Alexandre

Maria Busão

No ambiente tosco das “corridas de demolição”, nas quais o vencedor é o último sobrevivente, a campeã e estrela é a Maria Busão, um antigo ônibus escolar, com chifres de touro e piercing. A sua presença já quebra estereótipos, ela é grande, forte, corajosa e, até, um pouco malvada. McQueen entra na competição disfarçado para testar suas habilidades e Cruz entra por acidente. É interessante porque a ganhadora desta competição é exatamente a personagem de Cruz. Maria Busão é derrotada, mas por outra mulher.

imagem de Natália Certeza
Natália Certeza, dublada por Kerry Washington em inglês, e em português por Fernanda Gentil

Natália Certeza

Natália Certeza é a maior comentarista esportista das corridas, aparece em todos os programas para falar sobre as estatísticas dos competidores, é a especialista na área. Porém, como ela é chamada pelo carro apresentador de TV? Numeróloga!

Referências

Por que a ‘síndrome da impostora’ continua atormentando as mulheres?

New ‘Cars 3’ characters inspired by NASCAR legends

Por Lina Távora

É uma cearense que mora em Brasília, jornalista fora da redação, mestre em comunicação/cinema, feminista em construção, mãe com todo o coração e tem no audiovisual uma paixão constante e uma fé no seu impacto para uma mudança positiva na sociedade.

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