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Dica Arte Aberta: Heartstopper

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Quem aprecia histórias juvenis e está procurando uma trama leve e doce para acompanhar já pode comemorar. Entrou recentemente no catálogo da Netflix a série Heartstopper, que, com oito episódios curtinhos, é uma opção rápida para maratonar.

O seriado é baseado na HQ de mesmo nome, da autora Alice Oseman, e conta a história do protagonista Charlie, enquanto ele enfrenta o dia a dia no ensino médio em uma cidade inglesa pequena e conservadora. Sua escola é cheia de casos de LGBTQIA+fobia e muitas das situações retratadas são facilmente reconhecíveis por qualquer um que tenha frequentado colégios brasileiros.

Charlie é gay publicamente assumido e enfrenta na escola diariamente desde comentários normalizados e disfarçados de “piadas” a bullying severo (em evidentes alusões a acontecimentos do ano anterior). Além disso, ele está em um relacionamento abusivo que mina sua confiança e o faz duvidar de si mesmo.

Charlie: Heartstopper

Como um ponto extremamente positivo da série, Charlie tem um grupo de amigos leal e presente, que o protege e fortalece. Tao, Elle e Isaac formam com Charlie um quarteto encantador. Em meio a noites de filmes, brincadeiras e imaturidades típicas da idade, eles são um grupo de adolescentes bastante realista. Dentre tantas séries adolescentes que focam em reproduzir comportamentos adultos (sem falar que são quase sempre jovens milionários, com um estilo de vida que dificulta qualquer tipo de identificação), é um bom respiro ver garotos de cerca de 15 anos que parecem de fato adolescentes.

Amigos - Heartstopper

Para além de alguns momentos de ciúmes e insegurança, as dinâmicas desse grupo são marcadamente positivas, com muitas demonstrações de afeto e companheirismo. Para melhorar, esse grupo recebe a adição de Tara e Darcy, duas estudantes da escola exclusiva para meninas que se aproximam de Elle e são introduzidas na turma. As três trazem importantes tramas secundárias para a série e, a partir delas, são abordados outros casos de homofobia e transfobia no universo escolar. Cabe destacar que a presença dessas personagens na narrativa não fica restrita às experiências com preconceito, contando também histórias de amizade, descoberta e amor.

Elenco principal: Heartstopper

No início de um novo ano letivo, um mapeamento obrigatório na sala de aula faz com que Charlie se sente ao lado de um colega até então desconhecido. Ele e Nick se aproximam e gradativamente se tornam bons amigos. Aos poucos, Charlie se apaixona e não sabe o que pode esperar da relação. Os dois garotos passam por seus próprios processos de autoconhecimento e tentam compreender como se sentem em relação um ao outro, ao mesmo tempo em que lidam com suas outras amizades, com suas inseguranças, medos e traumas.

Charlie and Nick - Heartstopper

Independentemente de como constroem sua relação, a dinâmica dos dois é marcada por respeito e gentileza, com atenção às necessidades e ao tempo de cada um. É também parte do processo de amadurecimento e de empoderamento do protagonista, que tenta se fortalecer após um relacionamento tóxico. Charlie está aprendendo sobre relacionamentos, sobre si mesmo, suas necessidades e seus limites.

Mesmo com amigos carinhosos e com uma família que o apoia, ao longo do processo de bullying e do relacionamento abusivo, Charlie havia aprendido no ano anterior a se isolar e a deslegitimar seus sentimentos. Ele se via como alguém que não é digno de amor e cujos sentimentos não merecem cuidado ou respeito.

Ao longo da série, o espectador acompanha seu processo (longo e gradual) de fortalecimento e as mudanças internas que permitem que o protagonista passe a se relacionar (consigo mesmo e com os demais) de forma positiva e saudável. Para além de qualquer desenrolar da trama romântica principal, o processo de cicatrização e amadurecimento de Charlie é uma história que merece ser acompanhada por si só.

Para quem terminar a série e tiver dificuldade para abandonar os personagens e seu universo, é possível comprar os livros e/ou ler online o webcomic que originou Heartstopper. Além disso, o universo de Charlie, Nick e dos demais personagens continua na obra literária Solitaire. Nela, esses personagens são secundários e a história é centrada em Tori, irmã de Charlie. No entanto, enquanto a série de livros Heartstopper é alegre e romântica, Solitaire segue um estilo bem diferente, sendo um pouco sombrio e focado na temática de doenças mentais. Para quem adorou a personagem da irmã mais velha de Charlie na série e gostaria que ela tivesse tido mais espaço na trama, é uma boa oportunidade para se aprofundar na personagem.

Ficamos na torcida para que isso seja um indicativo de que pode vir uma nova série por aí com Tori como protagonista.

Por Luciana Rodrigues

É formada em Audiovisual e em Letras Português. Uma brasiliense meio cearense, taurina dos pés à cabeça, apaixonada pela UnB, por Jorge Amado e pelo universo infantil. Aprecia o cult e o clichê, gosta de Nelson Pereira dos Santos e também gosta de novela. E, apesar de muitos dizerem o contrário, acha que essa é uma ótima combinação.

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