Categorias
Críticas

Dica Arte Aberta: Você nem imagina, de Alice Wu

Compartilhe!

Ellie Chu esconde-se atribuindo suas palavras a outras pessoas, e é a partir delas que a garota interage com o mundo ao seu redor, assim como o seu pai estabelece o seu lugar a partir de diálogos de filmes antigos.

Você nem imagina

Ellie é inteligente, dedicada, parte da banda da escola, sino-americana e esquisita – a personagem poderia cair facilmente no estereótipo da garota nerd que passa por uma transformação. O filme, porém, ganha camadas ao utilizar clichês mudando um pouco os rumos da história.

Em Você nem imagina, de Alice Wu, Ellie, que vive apenas com o pai e passa por dificuldades financeiras, escreve os trabalhos dos colegas para fazer uma grana. A sua professora-mentora reconhece e valoriza o seu talento, inclusive, tendo a noção de que é a garota que elabora diferentes ensaios sobre Platão para os companheiros de sala menos interessados.

Você nem imagina

Nesse campo filosófico-literário, Ellie domina sem hesitação, muda pontos de vista e faz um “check” em sua listinha de serviços concluídos. Quando Paul aparece, Ellie precisa sair de sua zona de conforto. O atleta, com jeitão bruto mas gentil e engraçado, quer que a garota escreva uma carta de amor para Aster Flores. Essa, porém, já era a musa para a qual Ellie se direcionava, mesmo ainda sem tantas certezas do que isso significava.

Assim, nasce esse triângulo amoroso, a la Cyrano de Bergerac, com Ellie conversando com Aster por cartas, as duas se encantando e se conhecendo, porém, sob a máscara de que as cartas vinham de Paul.

Você nem imagina

O cara também começa a se tornar amigo de fato de Ellie, o que mais uma vez subverte o clichê cinematográfico da melhor amiga lésbica do protagonista, para vermos a representação do amigo hétero da protagonista lésbica.

Aster é linda e sabe disso, mas suas camadas não param por aí. Ela sabe que as garotas querem ser como ela, com o objetivo de talvez compartilhar um pouco de sua popularidade. Ela sabe que isso é raso. Ela também não tem mais certeza de porque namora com o cara bonito e rico da cidade. Ela está lá, vagando por essas relações. Ellie, por sua vez, sabe que é diferente, isso a liberta das expectativas dos outros e a fortalece para ser quem ela quer ser!

Quando Ellie esbarra no corredor da escola e derruba todos os seus livros, Aster a ajuda. A primeira se apresenta: sou Ellie Chu. Mais uma vez apontando para os clichês de filmes de escola nos quais a garota bonita e popular não sabe o nome dos colegas com os quais estudou a vida inteira. Aster responde que claro que sabe quem ela é, que há quatro anos a colega toca na missa na qual o seu pai é pastor. 

Você nem imagina: Ellie se apresenta para Aster

Você nem imagina é um filme sobre os clichês do amor e da vida. Afinal, nada mais clichê do que a descoberta do amor na adolescência… Mas a obra vai além por mudar as pecinhas de lugar e abrir possibilidades de interação e de crescimento entre o trio protagonista. E mais: o filme avança e nos emociona por ser sobre essa garota não popular, mas que tem um mundo a ser trilhado em sua frente, uma garota que agora sabe amar, que tem certeza sobre sua sexualidade, sobre seus talentos e sobre o poder da amizade em nos ajudar a seguir em frente.

Você nem imagina: Ellie e Aster

Por Lina Távora

É uma cearense que mora em Brasília, jornalista fora da redação, mestre em comunicação/cinema, feminista em construção, mãe com todo o coração e tem no audiovisual uma paixão constante e uma fé no seu impacto para uma mudança positiva na sociedade.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *