Teste de Bechdel fala sobre a representação das mulheres no audiovisual.
(1) Existem duas mulheres – com nomes – no filme? (2) Elas conversam entre si, (3) sobre qualquer coisa que não seja homens?
Se a resposta for sim para as três perguntas, o filme em questão passou no Bechdel Test. Assim, pode parecer simples, porém, são inúmeros aqueles que fracassam neste exame.
O teste recebeu este nome em homenagem à cartunista Alison Bechdel, que popularizou essas perguntinhas no comic Dykes to Watch Out For – The Rule, em 1985. Alison inclusive divide os créditos das regras à Liz Wallace, cujo nome aparece na tirinha.
É importante observar que essas perguntas, mesmo que tenham o sim como resposta, não garantem que o filme rompa com estereótipos de gênero ou que o filme seja feminista (ou que sejam bons, para falar a verdade). É apenas um sintoma, afinal, isso seria o mínimo. Mas o homem no centro ainda é o padrão, o protagonista, o herói ou aquele que as mulheres falam sobre, por isso, tantos filmes fracassam aos serem analisados sob esta perspectiva.
Por mais de 60 segundo
Anita Sarkeesian, do Feminist Frequency, em vídeo de 2012, sugere, inclusive, a inclusão de mais um pré-requisito para as perguntas de Bechdel – (1) Existem duas mulheres – com nomes – no filme? (2) Elas conversam entre si – por mais de 60 segundos, (3) sobre qualquer coisa que não seja homens? Esse acréscimo deixaria mais evidente a falta de representatividade das mulheres nos filmes, quando filmes passam no teste por cenas tão curtas. Independente desse adendo, o que é irrefutável é a baixa representatividade das mulheres na mídia, mesmo ainda em 2016.
Noah Berlatsky, em artigo sobre a série Star Wars, retoma um ponto importante que, na origem do termo, há uma destaque não apenas ao apagamento da da mulher na mídia, mais também para o apagamento da mulher gay, em especial.
A letra A
Em 2013, cinemas da Suécia resolveram adotar a classificação A (www.a-rate.com/) para filmes que passassem no teste de Alison Bechdel, de acordo com a diretora das salas, Ellen Tejle, a intenção não é criticar o próprio filme mas fazer os espectadores pensarem sobre a mídia que eles assistem. Após três anos, os resultados são inspiradores – os filmes suecos agora têm 2,5 vezes mais chance de passar no teste de Bechdel; o selo A que classifica os filmes que passam no exame de Bechdel agora já aparecem em mais de 30 salas de cinema; o teste de Bechdel é agora ensinado nas escolas; outros testes que dão diagnósticos sobre a diversidade étnico e cultural de filmes têm sido utilizados (confira artigo do Indie Wire sobre o tema aqui).
Os resultados do caso dos cinemas na Suécia apontam para algo simples, porém eficaz – é preciso descortinar as desigualdades da representação em nossas telas. Informação gera reflexão e, assim, essa realidade pode começar a ser alterada.
A mídia que você tem assistido – filme, séries, programas de TV – passa no teste de Bechdel? Comece a pensar e aplicar esse teste e você pode se surpreender – infelizmente, negativamente. Porém, o audiovisual não é o vilão, muito pelo contrário. Acreditamos no poder do cinema de ajudar a transformar o mundo – só precisa mudar o seu padrão antes.
A letra F
Em março de 2017, a base de dados IMDb (Internet Movie Database) começou a utilizar o selo “F” (F Rated) para destacar filmes escritos, dirigidos por uma ou mais mulheres ou que possuem personagens complexas mulheres. Se o filme alcançar essas três categorias, recebe um “triplo F”, o “padrão ouro” do selo. A classificação “F” foi criada em 2014, por Holly Tarquini, diretora do Bath Film Festival, inspirado no teste de Bechdel. No portal do selo, “Que horas ela volta?”, de Anna Muylaert aparece como um dos destaques nos filmes com “triplo F”.
É interessante que o selo F coloque em destaque tanto a posição das mulheres em algumas das principais funções técnicas do cinema (direção e roteiro) e também aborde a questão das protagonistas mulheres. Dessa forma, ao introduzir essas categorias em uma base de dados amplamente acessada (mais de 250 milhões de visitantes por mês), a promoção do cinema de mulheres tem ganhos. Mais de 21 mil filmes foram classificados com o selo F. Porém, a visibilidade dada ao selo no site é muito baixa. A categoria F não aparece nas páginas dos filmes, mas apenas quando se entra na página de referência do IMDb.
Referências
https://www.theguardian.com/film/2015/dec/22/star-wars-the-force-awakens-feminism-bechdel-test-lesbian-culture What Happened After Swedish Theaters Introduced a Bechdel Rating for Its Movies? http://www.passthebechdeltest.com/ http://bechdeltest.com/ The Bechdel Test for Women in Movies The Oscars and The Bechdel Test F-rated: IMDb introduces classification system to highlight work by women http://f-rated.org/ Most Popular "F Rated" Titles Bath Film Festival's F-Rating added to online film site IMDb
16 respostas em “O que é o Bechdel Test ou Teste de Bechdel Wallace?”
[…] os cineastas presentes a pensarem no Teste de Bechdel ao realizarem os seus filmes. Já falamos aqui sobre esse teste, que tem como premissa a resposta positiva a três perguntas: (1) Existem duas […]
[…] filme, “teste de Bechdel” e o “Selo F” – já falamos sobre os dois aqui! O filme é “aprovado” no teste de Bechdel se responder positivamente a três […]
[…] terceiro filme da franquia Carros, da Disney e Pixar, passa raspando no teste de Bechdel (o que os outros dois primeiros não chegam nem perto). Além da já conhecida Sally, que perde um […]
[…] Devido a percepção de falta de representação feminina nas telas de cinema foi criado o Teste Bechdel-Wallace originado da tirinha de quadrinhos The rule, escrita por Alison Bechdel, em 1985, a partir de uma ideia de sua amiga Liz Wallace, que faz parte da série Dykes to watch out for (DTWOF) da autora. Já falamos deste teste aqui! […]
[…] pensada a partir da aplicação de testes de representação de gênero no audiovisual, a saber: Bechdel, Mako Mori, Tauriel e Barnett. Porém, a pesquisa tomou corpo e desenvolveu-se. Com a orientação […]
[…] feminina na produção das obras (representatividade). Serão utilizados como base quatro testes: Bechdel, Mako Mori, Tauriel e […]
[…] a vizinha do protagonista e a filha dela, no entanto, conforme enunciado na seção referente ao Teste de Bechdel-Wallace, essa interação é tão rápida e superficial que não chega a se caracterizar como um […]
[…] A favorita gira em torno de Sarah, Abigail e da rainha Anne, o filme passa com folga no teste de Bechdel, com inúmeras conversas entre as […]
[…] apenas as categorias de Direção e de Roteiro, decisão baseada nos aspectos analisados do F-Rated, que destacam filmes dirigidos e escritos por mulheres. Por outro lado, para acresentarmos novas […]
[…] falamos dos clássicos testes de Bechdel, Tauriel e Mako Mori. Todos esses testes têm em comum o fato de tentar entender como mulheres são […]
[…] Philips, associada da companhia, inspirada pelo Teste de Bechdel, desenvolveu o teste como uma ferramenta para a dramaturgia, partindo da análise cultural e de […]
[…] filme, que passa por Sexy Lamp, Bechdel e Mako Mori, tem 12 personagens femininas diferentes em tela ao mesmo tempo, e nenhuma delas está […]
[…] O Teste de Shukla é proposto para ser aplicado em livros, filmes e televisão como uma variação do Teste Bechdel: […]
[…] foi pensada a partir da aplicação de quatro testes de representação de gênero no audiovisual: Bechdel, Mako Mori, Tauriel e Barnett. Porém, a pesquisa foi além. Sob a orientação da professora […]
[…] Teste de Bechdel: quando duas personagens femininas nomeadas conversam entre si sobre algo diferente de um […]
[…] Arte Aberta, propusemos um panorama da representação da mulher, no que tange a sua presença (Bechdel), seu arco dramático (Mako Mori), sua competência (Tauriel), e a vinculação ou não a […]