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Assassinos da lua das flores | Teste Arte Aberta no Oscar 2024

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O filme Assassinos da lua das flores foi indicado em 10 categorias no Oscar 2024: Filme, Diretor (Martin Scorsese), Atriz (Lily Gladstone), Ator Coadjuvante (Robert De Niro), Canção Original, Trilha Sonora Original, Design de Figurino, Design de Produção, Edição e Fotografia. 

O filme foi baseado no livro homônimo escrito por David Grann, no qual o autor revisita o “Reino do Terror” – acontecimento envolvendo mais de 50 assassinatos de indígenas do povo Osage – e o início do FBI (Federal Bureau Investigation) nos Estados Unidos na década de 1920. Os assassinatos aconteceram por motivos de racismo e de ganância, uma vez que os Osage se tornaram uma população rica após encontrar petróleo em sua reserva indígena. 

A seguir, analisamos o filme Assassinos da lua das flores com o nosso Teste Arte Aberta. Para saber mais sobre o teste, confira o texto introdutório.

Sinopse

De acordo com a percepção do Arte Aberta evitando spoilers

Ernest Burkhart (Leonardo DiCaprio) retorna da guerra e vai morar com seu tio, Bill Hale (Robert De Niro), e seu irmão, Byron Burkhart (Scott Shepherd). A fazenda do seu tio fica próxima à terra dos Osage que encontraram petróleo em sua reserva indígena. Ernest descobre que os indígenas são ricos e, ao iniciar seu trabalho de motorista pela cidade, encontra e se apaixona por Mollie (Lily Gladstone), uma puro sangue Osage. A paixão pela indígena se torna lucrativa para Bill e Ernest.

Ótica de gênero, raça e LGBTQIA+/PcD 

O filme, apesar de ter como base o evento horrível e histórico de assassinatos de indígenas pertencentes ao povo Osage, dá o maior tempo de tela para os homens brancos. Há, inclusive, uma certa suavização da maldade de Ernest ao focar em um “amor verdadeiro” dele por Mollie e o fato de sentir medo de Hale. 

De todo modo, os indígenas foram representados por indígenas, não necessariamente descendentes ou pertencentes ao povo Osage, trazendo uma diversidade de povos indígenas para o elenco. O filme representa o povo Osage como articulado e inteligente, apesar de sofrerem restrições para gastarem seu próprio dinheiro – algo como uma tutela do governo. Há sim alguns personagens que trazem uma certa ingenuidade na forma de lidar com pessoas brancas claramente mal intencionadas, mas não é dessa forma que o Conselho Tribal Indígena dos Osage se relaciona com o que está acontecendo.

Com diálogos que trazem o racismo e a ganância, a história foca em Ernest e Hale – ou Rei Hale, como pede para ser chamado. Mollie, uma das filhas de Lizzie Q. (Tantoo Cardinal), casa-se com Ernest e assiste a todas as mulheres da sua família morrendo. O terror trazido pela série de assassinatos destoa da relação amorosa entre Ernest e Mollie, apesar de que Ernest, a pedido do tio, inclui doses pequenas de veneno na aplicação de insulina de Mollie.

Algumas questões importantes são trazidas durante o filme: racismo, colonização, tutela do governo, violências médicas e institucionais e o próprio trauma histórico do Reino do Terror. Porém, é de se questionar o porquê do foco ser nos homens brancos, além de expor cenas até explícitas das mortes e dos corpos mortos dos indígenas. Por outro lado, é importante dizer que, para contar a história dos indígenas, nada melhor do que termos pessoas indígenas à frente do projeto.

As únicas mulheres com destaque no filme são mulheres indígenas e da mesma família: Lizzie Q., Mollie, Anna Brown (Cara Jade Myers), Minnie (Jillian Dion) e Reta (JaNae Collins). Os poucos diálogos entre essas mulheres são feitos, em sua maioria, na língua indígena. Exceto Minnie e Reta, descobrimos um pouco mais sobre essas mulheres. Lizzie Q. é calada – na verdade, esse traço é construído na trama como comum ao povo Osage – e sabe que seu momento de ir embora está perto. Lizzie não acredita em nenhum homem branco e demonstra que não está feliz em ver as filhas casadas com eles. 

Anna Brown é disruptiva, não só como mulher, mas também como indígena. Atrai comentários machistas e racistas, mas não se cala, além de viver como quer. Mollie é inteligente e persistente, sendo chamada de teimosa e determinada por Ernest e Bill. Ela participa ativamente das reuniões do Conselho Tribal Indígena e age de diversas maneiras para descobrir os assassinos, mas sempre é frustrada por Bill e Ernest. Mollie, na verdade, é a responsável por trazer o FBI para investigar a série de assassinatos, já que foi até Washington D.C. sozinha para falar com o presidente sobre a situação.

É interessante observar como os homens indígenas são representados: uns no poder, como no Conselho Tribal Indígena, e outros tentando sobreviver ao terror dos assassinatos e da tutela do governo. Ainda que tenhamos personagens indígenas bons e bem construídos, há uma certa aclamação ao início do FBI, sendo responsável por achar os responsáveis e acabar com o terror. Seria importante e necessário criticar com mais afinco a violência institucional sofrida pelos Osage, além de sabermos que este foi um caso específico dentro de todo um histórico de genocídio de pessoas indígenas nos Estados Unidos que não tiveram o mesmo desfecho. Sem contar que foram mais de 50 Osage mortos e ainda foi necessário ir até a sede do Governo Estadunidense para solicitar ajuda.

Representatividade de gênero, raça e LGBTQIA+/PcD

Direção e Roteiro*

* Classificação é feita de acordo com a declaração pública e disponível das pessoas LGBTQIA+/PcD e heteroidentificação de raça e gênero

A direção do filme é de Martin Scorsese, que também assina o roteiro junto a Eric Roth. Ambos são homens brancos e não foi encontrada qualquer menção na internet sobre serem LGBTQIA+ ou PcD.

Dessa forma, a ficha técnica principal (direção e roteiro) é composta 0% por pessoas não brancas, 0% por mulheres, 0% PcD e 0% LGBTQIA+.

Elenco principal*

Créditos iniciais/finais

* Classificação é feita de acordo com a declaração pública e disponível das pessoas LGBTQIA+/PcD e heteroidentificação de raça e gênero

Trinta e um nomes são apresentados nos créditos iniciais do filme: Leonardo DiCaprio, Robert De Niro, Lily Gladstone, Jesse Plemons, Tantoo Cardinal, John Lithgow, Brendan Fraser, Cara Jade Myers, JaNae Collins, Jillian Dion, Jason Isbell, William Belleau, Louis Cancelmi, Scott Shepherd, Everett Waller, Talee Redcorn, Yancey Red Corn, Tatanka Means, Tommy Schultz, Sturgill Simpson, Ty Mitchell, Gary Basaraba, Charlie Musselwhite, Pat Healy, Steve Witting, Steve Routman, Michael Abbott Jr., Jack White, Pete Yorn, Larry Sellers, Barry Corbin.

Desses, cinco são mulheres (Lily Gladstone, Tantoo Cardinal, Cara Jade Myers, JaNae Collins e Jillian Dion), o que totaliza 16,12% do elenco. E onze são não brancos, especificamente indígenas (Lily Gladstone, Tantoo Cardinal, Cara Jade Myers, JaNae Collins, Jillian Dion, William Belleau, Everett Waller, Talee Redcorn, Yancey Red Corn, Tatanka Means e Larry Sellers), o que totaliza 35,48%. Ty Mitchell é o único ator PcD, assim, temos 3,22% do elenco com alguma deficiência.

Não foram encontradas informações na internet sobre qualquer um deles ser abertamente LGBTQIA+. 

Dessa forma, o elenco é composto por 16,12% de mulheres, 35,48% de não brancos, 0% LGBTQIA+ e 3,22% de PcD.

Representação

Mulheres

Presença (Bechdel-Wallace)

As mulheres têm nome? 

Se falam por mais de 60 segundos?

Sobre outro assunto que não seja homens? 

Aprovado.

Lizzie Q., Mollie, Anna Brown, Minnie e Reta conversam entre si em alguns breves momentos. São diálogos curtos, rápidos e que não necessariamente contribuem para a história, mas são interessantes para aprender sobre a vida dessas mulheres.

Arco Dramático (Mako-Mori) 

Tem mulher? 

Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de gênero?

Aprovado.

A única mulher com arco dramático próprio é Mollie, que, apesar de estar fatalmente ligada a Ernest, conseguimos observar tendo seus próprios desejos e articulando ações não necessariamente ligadas a Ernest ou a outro homem. O arco de Mollie é imprescindível para pôr fim à série de assassinatos de seu povo.

Competência (Tauriel)

Houve mulher(es) com atividade profissional definida? 

Ela é competente na atividade?

Grau da Competência Caso a mulher seja competente, quão competentes elas são em sua atividade profissional (1 a 5 , sendo  1 – pouco competente e 5 – muito competente) 

Houve reconhecimento dessa competência?

Reprovado. 

Nota: 0.

Nenhuma das mulheres com destaque possui atividade profissional definida.

Qualidade da representação – mulheres

Como é a representação das personagens mulheres (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 3

Apesar de Mollie ser a única personagem com arco dramático próprio, Lizzie Q. e Anna Brown são duas outras mulheres indígenas com uma construção bacana de personagem, demonstrando agência e criticidade.

Raça

Arco dramático (Mako Mori)

Tem personagem não branco? 

Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de raça?

Aprovado.

Mais uma vez, a única personagem com arco dramático próprio é Mollie, que é uma indígena. Não há estereótipos de raça na construção de Mollie, apesar de ser questionável a relação amorosa com Ernest. De qualquer forma, ao final, há uma clara cisão entre os dois.

Qualidade da representação – raça

Como é a representação dos personagens não brancos (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 3

Aqui a nota é 3 pelos mesmos motivos dos outros pontos sobre raça e mulheres. Mollie é a única personagem (mulher e indígena) que não foi construída com estereótipos.

LGBTQIA+

Arco dramático (Mako Mori)

Tem personagem LGBTQIA+? 

Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de LGBTQIA+?

Reprovado. 

Não há representação LGBTQIA+ no filme.

Qualidade da representação – LGBTQIA+

Como é a representação das personagens LGBTQIA+ (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 0

Não há representação LGBTQIA+ no filme.

PcD 

Arco dramático (Mako Mori)

Tem personagem PcD? Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de PcD?

Reprovado. 

Apesar de termos Ty Mitchell no elenco, ele interpreta um personagem secundário e não possui arco dramático próprio. Há também um personagem com nanismo que aparece no início do filme, na estação de trem. Porém a cena é curta, não sabemos o nome do personagem e o ator não aparece nos créditos finais.

Qualidade da representação – PcD

Como é a representação das personagens PcD (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 1

O ator Ty Mitchell interpreta John Ramsey, um personagem secundário.

Resumo do Teste Arte Aberta

Representatividade

Representação

Estrelas Arte Aberta: 2

Por Risla Miranda

Brilha os olhos quando fala de direitos humanos e se vê um dia programando games. Discutir numa mesa de bar acompanhada de uma cerveja bem lupulada é o paraíso. Criatividade vai desde meme a criar estratégias de ação de projetos. Curtindo o rolê de contar histórias através de dados.

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