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Teste Arte Aberta no Oscar 2023: Elvis

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Elvis, de Baz Luhrmann, conta a história do cantor e rei do rock, interpretado nesse filme biográfico por Austin Butler, sob a perspectiva de seu agente, o coronel Tom Parker (Tom Hanks). O filme constrói a narrativa tendo o segundo como o vilão que fez com que Elvis trabalhasse exaustivamente e que o aprisionou em escolhas profissionais de acordo com seus próprios interesses. Logo no início, Parker, em  off, fala: “Eu não matei Elvis. Eu criei Elvis.” O filme, porém, argumenta o contrário.

Assim, apesar de o filme ser uma biografia do cantor, entrega ao espectador um olhar mediado por Parker e que, ao centrar nesse ponto de vista, fala muito sobre os interesses desse empresário, deixando Elvis ser conduzido e não o condutor da narrativa. Parker é descrito como um ilusionista, alguém que teve que aprender a se virar para sobreviver, trabalhando em parques de diversões e sempre em busca de um talento que o levaria a outro nível. 

As performances de Elvis, com a interpretação de Austin Butler, e o cinema colorido, rápido e brilhante de Luhrmann são empolgantes, apresentando o poder de atração que o cantor emanava quando subia nos palcos. A mistura de músicas também é algo relevante e especial na obra.

O filme tem oito indicações no Oscar 2023: filme (Baz Luhrmann, Catherine Martin, Gail Berman, Patrick McCormick e Schuyler Weiss), ator (Austin Butler), fotografia (Mandy Walker), desenho de produção (Catherine Martin e Karen Murphy), figurino (Catherine Martin), maquiagem e penteados (Mark Coulier, Jason Baird e Aldo Signoretti), montagem (Matt Villa e Jonathan Redmond) e som (David Lee, Wayne Pashley, Andy Nelson e Michael Keller).

Baz Luhrmann é um diretor, roteirista e produtor australiano. Ele é conhecido por seus filmes esteticamente e sonoramente marcantes como Moulin Rouge!, O Grande Gatsby e Romeo + Juliet. Ele também dirigiu a produção The Get Down para a Netflix.

Sinopse

De acordo com a percepção do Arte Aberta evitando spoilers

Um olhar sobre a vida do lendário rei do rock and roll, Elvis Presley. A história é contada por seu empresário, o coronel Tom Parker. 

Ótica de gênero, raça e LGBTQIA+/PcD 

É Jimmie Rodgers Snow (Kodi Smit-McPhee) que apresenta a voz de Elvis a Tom Parker e sua trupe. Ele coloca na vitrola o vinil da Sun Records, selo de Sam Phillips. Quando Parker escuta o nome da gravadora, comenta: “é aquela que grava discos de raça com cantores de cor”. Então Jimmie dá a notícia que o cantor do álbum, que mistura a música negra com a country, é branco. O coronel brilha os olhos e fica interessado.

No primeiro encontro de Parker e Elvis, o cantor está prestes a entrar no palco, nervoso e passando mal, com medo de esquecer a letra das músicas. O apresentador afirma para Parker que Elvis conquista os interessados por pop, country e os negros. Quando Parker olha para Elvis, fala que ele está com maquiagem de garota e um cara da plateia grita: “corte o cabelo, fada”. As falas reforçam estereótipos de gênero e de masculinidade hegemônica. Ao mesmo tempo, as mulheres gritam e desejam Elvis. 

O filme conta primordialmente a história da relação de Elvis com Parker. Dessa forma, há pouco espaço para que as mulheres desenvolvam mais as suas narrativas. As mulheres com um pouco mais de destaque são a mãe, a esposa e a filha de Elvis. 

Gladys, mãe de Elvis, é uma das únicas que se mostra com o pé atrás com Parker e as decisões para seu filho. Há uma relação forte entre ela e o filho desde o começo. Mesmo com todos os presentes que Presley dá aos seus pais, Gladys fala para o filho que ele não está feliz, que está se perdendo. Com o trauma de ter perdido o irmão gêmeo de Elvis no parto, o seu maior medo era perder o seu outro filho também. Quando Elvis é enviado para a Guerra, ela aparece muito preocupada e bebendo demais. O pai de Elvis, Vernon, cede às ilusões de Parker, e deixa o filho ser manipulado pelo agente. Com a morte de Gladys, Vernon, o pai do cantor, fica ainda mais frágil do que já se mostrava e o Coronel assume ainda mais a tutela de Elvis.

Em relação à raça, Elvis foi criado em um local segregado para negros e aprendeu a admirar a música preta – sagrada e profana – desde criança. Na verdade, percebemos a referência não apenas da música, mas da dança e de toda a estética das pessoas negras. Como narra Parker: “ele tinha as estrelas de Beale Street em seus olhos”. Beale Street é um local significativo na história do blues.

Assim, a música negra é ao mesmo tempo reverenciada e apropriada por Elvis. A dança de Elvis é acusada de quebrar a lei de segregação racial, já que seus movimentos tinham referencias na música negra. Ele é proibido de remexer os quadris e também é obrigado a adotar uma postura e um figurino mais sóbrio, o que Elvis acaba não acatando, apesar do comando do coronel Parker.

A segregação racial está em toda parte. Nos shows com áreas diferentes, nos locais para morar, nos cantos da cidade que se podia ir. Em uma conversa com B.B. King, Elvis fala que está com medo de ir para a prisão se não mudar suas coreografias. King contrapõe que ele pode ser preso por andar na rua, mas que um branco, rico e famoso não será preso por dançar como for. E ainda solta: o Coronel deve ter outros motivos. Parker sempre tem outros motivos.

Representatividade de gênero, raça e LGBTQIA+/PcD

Direção e Roteiro*

* Classificação é feita de acordo com a declaração pública e disponível das pessoas LGBTQIA+/PcD e heteroidentificação de raça e gênero

Elvis foi dirigido por Baz Luhrmann e roteirizado por ele em conjunto com Sam Bromell, Craig Pearce e Jeremy Doner. Todos eles são brancos. Não foi encontrada menção na internet sobre algum deles ser PcD e/ou LGBTQIA+.Dessa forma, a ficha técnica principal (direção e roteiro) é composta por 0% de profissionais não brancos, 0% de mulheres, 0% de PcD e 0% de LGBTQIA+.

Elenco principal*

Créditos iniciais/finais

* Classificação é feita de acordo com a declaração pública e disponível das pessoas LGBTQIA+/PcD e heteroidentificação de raça e gênero

Aparecem em maior destaque no créditos finais: Austin Butler, Tom Hanks, Olivia Dejonge, Helen Thompson, Richard Roxburgh, Kelvin Harrison Jr., David Wenham, Kodi Smit-McPhee, Luke Bracey. Dos nove atores principais, temos duas mulheres e um negro. Não encontramos referência a qualquer um dos atores serem da comunidade LGBTQIA+ ou serem PcD
Dessa forma, o elenco principal é composto por 22,22% de mulheres, por 11,11% de atores não brancos, por 0% de atores LGBTQIA+ e por 0% PcD.

Representação

Mulheres

Presença (Bechdel-Wallace)

As mulheres têm nome? 

Se falam por mais de 60 segundos?

Sobre outro assunto que não seja homens? 

Reprovado.

O filme apresenta várias mulheres com nomes, porém, elas não conversam entre si, muito menos sobre algo que não seja Elvis…

Arco Dramático (Mako-Mori) 

Tem mulher? 

Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de gênero?

Reprovado.

Não há espaço no filme para o desenvolvimento dos personagens femininos. Todas as mulheres que aparecem estão lá para apoiar a história de Elvis.

Competência (Tauriel)

Houve mulher(es) com atividade profissional definida? 

Ela é competente na atividade?

Grau da Competência Caso a mulher seja competente, quão competentes elas são em sua atividade profissional (1 a 5 , sendo  1 – pouco competente e 5 – muito competente) 

Houve reconhecimento dessa competência?

Reprovado.

Nota: 0

As mulheres são apresentadas como mãe, esposa, filha, amante, fã. Não sabemos as suas histórias, interesses, habilidades ou sonhos. 

Apresentação de estereótipos

Como é a representação das personagens mulheres (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 1

As mulheres seguem a rede de representação para construir a figura de Elvis. Aparecem apenas em relação a ele. 

Raça

Arco dramático (Mako Mori)

Tem personagem não branco? 

Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de raça?

Reprovado.

Toda a cultura negra é representada, ficando evidente o impacto da música negra para Elvis. As performanens dos cantores negros são maravilhosas, porém, não há desenvolvimento do arco dramático de nenhum deles. Os personagens negros estão ali apenas para dar suporte à narrativa de Elvis.

Apresentação de estereótipos

Como é a representação dos personagens não-brancos (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 2

A representação de importantes figuras da cultura negra. O filme apresenta Arthur ‘Big Boy’ Crudup (Gary Clark Jr.), B.B. King (Kelvin Harrison Jr.), Sister Rosetta Tharpe (Yola), Little Richard (Alton Mason), Big Mama Thornton (Shonka Dukureh). A morte de Martin Luther King Jr. é apresentada em contexto no filme, o que gera momentos de reflexão em Elvis. 

LGBTQIA+

Arco dramático (Mako Mori)

Tem personagem LGBTQIA+? 

Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de LGBTQIA+?

Reprovado. 

Não há nenhum personagem LGBTQIA+ nesse filme.

Apresentação de estereótipos

Como é a representação das personagens LGBTQIA+ (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 0

PcD 

Arco dramático (Mako Mori)

Tem personagem PcD? Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de PcD?

Reprovado. 

Não há nenhum personagem PcD nesse filme.

Apresentação de estereótipos

Como é a representação das personagens PcD (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 0

Resumo do Teste Arte Aberta

Representatividade

Representação

Estrelas Arte Aberta: 0,5

Por Lina Távora

É uma cearense que mora em Brasília, jornalista fora da redação, mestre em comunicação/cinema, feminista em construção, mãe com todo o coração e tem no audiovisual uma paixão constante e uma fé no seu impacto para uma mudança positiva na sociedade.

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