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Teste Arte Aberta no Oscar 2023: Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo

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Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo concorre a 10 prêmios no Oscar 2023: Melhor filme, atriz principal, ator coadjuvante, direção, roteiro original, figurino, edição, trilha sonora, melhor canção original e atriz coadjuvante (tanto Jamie Lee Curtis como Stephanie Hsu foram indicadas ao prêmio). No BAFTA, o filme levou o prêmio de melhor montagem e edição.

O filme, que lidera em número de indicações ao Oscar, tem um roteiro que abraça o caos e a ficção científica, tratando também de língua, arrependimentos, sexualidade, relação entre gerações, papéis de gênero e tantos outros temas. A obra consegue tocar em pontos delicados ao mesmo tempo que conta com certas pitadas de absurdo. 

Em sites de crítica como Rotten Tomatoes e Letterboxd, o filme tem alcançado ótimas notas e fez criar um burburinho como o melhor filme de multiverso. Sim, nada de Marvel ou de super heróis, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo conseguiu construir uma narrativa sobre multiverso e sobre como a solidão e o conhecimento de tudo podem impactar as linhas de tempo e os seus encontros.

Sinopse

De acordo com a percepção do Arte Aberta evitando spoilers

Evelyn (Michelle Yeoh) precisa organizar notas fiscais para responder às diligências feitas pela Receita dos Estados Unidos. Além de ter sua lavanderia auditada, Evelyn precisa cuidar de seu pai que veio da China, organizar uma festa do Ano Novo Chinês, lidar com o marido brincalhão e se relacionar com sua filha Joy.

Como se não bastasse a quantidade de atividades e de pressão, Evelyn descobre a existência de multiversos, e precisa fazer escolhas rápidas para deter Jobu Tupaki que pretende destruir a existência de todos os universos.

Ótica de gênero, raça e LGBTQIA+/PcD 

O filme conta com personagens bastante diversos, além de focar em uma família chinesa, fazendo com que o elenco principal seja de pessoas amarelas. A personagem principal do filme é Evelyn, uma mulher asiática, que é procurada para deter Jobu Tupaki, a versão sem escrúpulos de sua filha Joy (Stephanie Hsu). Também temos Waymond (Ke Huy Quan), marido de Evelyn, um homem chinês simpático e gentil. Evelyn, ao contrário do marido e pela própria sobrecarga que se é colocada sobre mulheres, é rápida, focada e quer fazer tudo ao mesmo tempo — talvez isso tenha sido a grande habilidade para que ela conseguisse fazer os saltos multiversais.

Joy é uma jovem mulher lésbica e tenta apresentar sua namorada, Becky (Tallie Medel), a seu avô Gong Gong (James Hong), o que Evelyn impede. Ainda assim, o relacionamento conturbado de Evelyn e Joy não se dá apenas pela homossexualidade da filha, e sim por questões envolvendo o excesso de controle e o fato de Evelyn não enxergar o potencial que a filha tem. O filme constrói a relação entre as duas de maneira a desenvolver questões como aceitação, solidão, sobrecarga, falta de comunicação e de demonstração de carinho, respeito às escolhas e à forma como os filhos trilham o próprio caminho. 

Waymond – a primeira versão que nos é apresentada – é um homem interessante e foge do estereótipo de homem provedor da casa. Waymond é carinhoso, otimista, adora fazer gracinhas com os clientes da lavanderia e não gosta de violência. Ainda que busque o divórcio, Waymond apoia e respeita Evelyn, sendo um ponto de diplomacia entre a esposa e a filha.

Gong Gong em duas versões de universo aparece com mobilidade reduzida, seja utilizando uma bengala, seja na cadeira de rodas. Uma das versões de Evelyn, após um acidente quando criança, fica cega – mas aqui isto é tratado mais como uma ferramenta para explicar uma versão da personagem no multiverso que tem habilidades para além da visão do que para representar uma pessoa com deficiência.

Além de Evelyn e Joy/Jobu Tupaki, temos Deirdre interpretada por Jamie Lee Curtis, uma funcionária da Receita que está analisando a dedução fiscal solicitada por Evelyn e Waymond para a empresa de lavanderia. Deirdre é uma mulher com compaixão, mas que leva seu trabalho muito a sério. Ela aparece em outras versões durante o confronto entre Evelyn e Jobu Tupaki. 

Evelyn é a chance para acabar com os planos de Jobu Tupaki, não só pela relação que tem com Joy, mas também pelo potencial de saltar multiversos sem fritar seu cérebro.

Representatividade de gênero, raça e LGBTQIA+/PcD

Direção e Roteiro*

* Classificação é feita de acordo com a declaração pública e disponível das pessoas LGBTQIA+/PcD e heteroidentificação de raça e gênero

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo é dirigido e roteirizado por Daniel Kwan e Daniel Scheinert. De acordo com informações públicas obtidas em pesquisa simples realizada na internet, ambos os diretores/roteiristas são héteros e sem deficiência. Daniel Kwan é um homem asiático, já Daniel Scheinert é um homem branco. Dessa forma, a ficha técnica principal do filme (direção e roteiro) é composta por 0% de mulheres, 50% de pessoas não brancas (amarelas), 0% de LGBTQIA+ e 0% de PcD.

Elenco principal*

Créditos iniciais/finais

* Classificação é feita de acordo com a declaração pública e disponível das pessoas LGBTQIA+/PcD e heteroidentificação de raça e gênero

O elenco principal, de acordo com os créditos finais, é composto por sete atores: Michelle Yeoh (Evelyn), Stephanie Hsu (Joy/Jobu Tupaki), Ke Huy Quan (Waymond/Alfa Waymond), Jenny Slate (Debbie), Harry Shum Jr (Chad), James Hong (Gong Gong) e Jamie Lee Curtis (Deirdre).

Destes sete, quatro são mulheres, cinco são não brancos (Michelle Yeoh, Stephanie Hsu, Ke Huy Quan, Harry Shum Jr e James Hong), um é queer (Stephanie Hsu) e não foi identificada informação sobre algum deles ser PcD. 

Dessa forma, o elenco principal conta com 57,14% de mulheres, 71,42% de atores não brancos, 14,28% de LGBTQIA+ e 0% PcD.

Representação

Mulheres

Presença (Bechdel-Wallace)

As mulheres têm nome? 

Se falam por mais de 60 segundos?

Sobre outro assunto que não seja homens? 

Aprovado.

Evelyn tem diálogos longos com a filha de Joy e também com a versão Jobu Tupaki. Elas falam sobre os multiversos, sobre a relação delas, sobre sentimentos e emoções. Evelyn também conversa diretamente com Deirdre sobre a auditoria que está ocorrendo na lavanderia. Há também diálogos entre Joy e sua namorada Becky. As mulheres conversam bastante entre si e o filme foca principalmente na relação entre Evelyn e Joy/Jobu Tupaki.

Arco Dramático (Mako-Mori) 

Tem mulher? 

Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de gênero?

Aprovado.

Tanto Evelyn quanto Joy/Jobu Tupaki têm arcos dramáticos próprios que não estão ligados a estereótipos de gênero. É possível acompanhar a mudança de Evelyn em relação aos sentimentos da filha, de como é se sentir sozinha e sem apoio. Essa transformação ocorre de maneira gradativa e Evelyn vai adquirindo habilidades e conhecimentos para deter Jobu Tupaki. 

Joy, por outro lado, em sua versão Jobu Tupaki, tenta mostrar a Evelyn como que, ao ter o conhecimento sobre tudo, nada mais importa, então a melhor forma é acabar com a própria existência. Como Evelyn não quer perder a filha, ela consegue se fortalecer e compreender os sentimentos de Joy e também o que realmente importa. No fim, Joy também tem sua transformação em relação ao que sente pela mãe. Ela escuta, pela primeira vez, a verdade de sua mãe, que conseguiu expor seus sentimentos.

Outra que possui um arco dramático interessante, mesmo esse  não sendo necessariamente o foco principal da narrativa, é Deirdre que no início está fazendo seu trabalho minucioso e rigoroso para depois abrir-se para Evelyn demonstrando toda a sua vulnerabilidade e empatia com a situação de Evelyn e Waymond. Entre Deirdre e Evelyn, que a princípio há uma relação profissional e ríspida, vê-se os primeiros sinais de uma amizade improvável.    

Competência (Tauriel)

Houve mulher(es) com atividade profissional definida? 

Ela é competente na atividade?

Grau da Competência Caso a mulher seja competente, quão competentes elas são em sua atividade profissional (1 a 5 , sendo  1 – pouco competente e 5 – muito competente) 

Houve reconhecimento dessa competência?

Aprovado.

Nota: 5

As únicas mulheres com atividade profissional definida são Evelyn e Deirdre. Deirdre é muito competente e é possível entender isso quando ela mostra todos os prêmios de melhor auditora do ano. Deirdre é minuciosa no trabalho que faz, chegando a ser até irritante a forma como lida com seu trabalho. 

Evelyn é dona da lavanderia e é possível observar, pela forma com que organiza as roupas dos clientes e a situação das máquinas de lavar, que faz o seu trabalho de forma medíocre.

A Evelyn do Alfaverso não é definida explicitamente como uma cientista, mas fez experimentos e testes que levaram aquele universo a ser o primeiro a fazer contato com outros. Evelyn foi bem sucedida nos testes, porém acabou criando Jobu Tupaki por empurrá-la ao limite físico, fragmentando sua mente.

Apresentação de estereótipos

Como é a representação das personagens mulheres (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 3

As personagens principais Evelyn e Joy/Jobu Tupaki são representadas com histórias próprias, donas de si mesmas e com agência. Evelyn e Jobu Tupaki são consideradas pessoas geniais por conseguirem performar saltos multiversais sem dano físico. Apesar de terem suas mentes fragmentadas, as duas conseguem gerenciar o conhecimento dos multiversos, cada uma à sua maneira.

Não há estereótipos na construção da narrativa e das personagens de Evelyn e Joy. Pelo contrário, há um foco na relação entre mãe e filha e também no fato de Evelyn conseguir ser quem vai pôr um fim na destruição dos multiversos, mesmo sendo a pior versão de si mesma (quando comparada às presentes em outros universos). Aqui a genialidade não importa, mas sim  as escolhas na vida que levaram essa versão a ser capaz de fazer qualquer coisa justamente porque é péssima em tudo.

Raça

Arco dramático (Mako Mori)

Tem personagem não branco? 

Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de raça?

Aprovado.

Como Evelyn, Joy, Waymond e Gong Gong fazem parte da narrativa principal, a representação de raça é aprovada, uma vez que são pessoas amarelas, interpretando uma família chinesa. Evelyn e Joy têm arcos dramáticos próprios, como já pontuado anteriormente. Ambos os arcos dramáticos não são apoiados em estereótipos de raça e nem de gênero. As duas têm suas histórias contadas a partir de uma narrativa de ficção científica que culmina na aproximação entre mãe e filha.

Apresentação de estereótipos

Como é a representação dos personagens não-brancos (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 3.

O filme tem uma família chinesa no centro da narrativa e não há representação de estereótipos. Evelyn e Waymond têm o inglês como segunda língua e é comum que não entendam certas palavras – inclusive há uma crítica direta a Deirdre por falar “difícil”, usando palavras rebuscadas para se dirigir a eles, essa crítica é importante pois o acesso a uma linguagem acessível é direito de todos.

Temos cenas de luta com Evelyn e Waymond, mas isso se dá utilizando o salto multiversal para acessar a consciência e habilidade de uma outra versão de si que sabe lutar. O simples fato de serem chineses não significa que saibam lutar – Evelyn só luta kung fu após ter acesso a sua versão que treinou esse estilo de luta a vida inteira. 

O filme não foca na origem chinesa da família e sim nos conflitos entre mãe e filha, nos multiversos, na solidão em ser a única pessoa a saber sobre tudo, entre outros temas e questões que a ficção científica pode trazer, como conexão entre consciências e linhas de tempo alternativas. 

Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo

LGBTQIA+

Arco dramático (Mako Mori)

Tem personagem LGBTQIA+? 

Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de LGBTQIA+?

Aprovado. 

Joy é uma mulher lésbica e tem arco dramático próprio. A homossexualidade de Joy não é o único entrave na relação dela com Evelyn, portanto, apesar de ter como ponto de partida o atrito gerado entre Evelyn e Joy por conta da apresentação de Becky a Gong Gong, a narrativa leva para uma questão mais profunda de comunicação e de demonstração de sentimentos entre as duas.

Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo

Apresentação de estereótipos

Como é a representação das personagens LGBTQIA+ (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 3

Joy questiona a mãe, mas não consegue ter abertura para mudar a forma com que Evelyn a trata. Evelyn trata Becky de acordo com estereótipos de gênero, atribuindo o pronome “ele” a ela pela forma como se veste, criticando também as roupas da filha que não são consideradas femininas o suficiente.

PcD 

Arco dramático (Mako Mori)

Tem personagem PcD? Tem arco dramático próprio? 

O arco dramático é apoiado essencialmente em estereótipos de PcD?

Reprovado. 

Apesar de termos duas versões de Gong Gong com mobilidade reduzida e a representação não ter estereótipos de pessoas com deficiência, não há arco dramático próprio.

Apresentação de estereótipos

Como é a representação das personagens PcD (escala de -1 a 3)

Sendo -1, estereótipos ofensivos;  

0, não tem; 

1, personagem de apoio ou secundários/principais com muitos estereótipos; 

2, personagens secundários/principais com poucos estereótipos; 

3, personagem principal/secundário muito bem representada, ou personagem principal sem ou com pouquíssimos  estereótipos

Nota: 1

Gong Gong é personagem de apoio e não tem arco dramático próprio.

Resumo do Teste Arte Aberta

Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo

Representatividade

Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo
Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo

Representação

Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo
Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo
Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo

Estrelas Arte Aberta: 3

Estrelas Arte Aberta: Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo

Por Risla Miranda

Brilha os olhos quando fala de direitos humanos e se vê um dia programando games. Discutir numa mesa de bar acompanhada de uma cerveja bem lupulada é o paraíso. Criatividade vai desde meme a criar estratégias de ação de projetos. Curtindo o rolê de contar histórias através de dados.

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